Entrevista com Diogo Mattos

Durante o último mês de Outubro aconteceu, na pequena cidade de Cambuquira, a 9ª Edição da MOSCA – Mostra Audiovisual de Cambuquira. Dentre as atividades ofertadas uma obteve maior destaque e procura por parte do público, trata-se da Oficina de Interpretação, ministrada por Diogo Mattos que perdurou por três dias do evento e obteve um resultado bastante satisfatório. Nesta edição, entrevistamos o ator e diretor acerca do evento e seu trabalho na área audiovisual.

 

*por Lidiane Volpi

RUA: No último mês de Outubro aconteceu a 9ª edição da MOSCA – Mostra Audiovisual de Cambuquira, na qual você ministrou uma Oficina de Interpretação. Qual o seu histórico com a MOSCA?

Sou formado em Imagem e Som pela UFSCar e amigo da equipe responsável pela realização da Mosca. Sempre acompanhei as notícias da Mostra e pude ao lado da atriz Vanessa Balsalobre ministrar oficinas de interpretação na Mosca4 e na Mosca5. Foram experiências marcantes pelo alto grau de receptividade das turmas e pelo carinho que a população tem com o evento. Acabei ficando amigo de dezenas de alunos pelas redes sociais  por onde acompanhei um pouquinho da vida deles nesse meio tempo. Devido às atividades profissionais só consegui voltar para Cambuquira neste ano na Mosca9. Novamente uma experiência incrível.  Tive a oportunidade de dar aula a alguns alunos que cresceram e foram muito influenciados pela Mosca. Vê-los hoje estudando ou trabalhando em atividades ligadas as artes é o registro de quanto essa mostra reverbera para muito além de alguns dias de encontro.

 

RUA: A sua Oficina foi marcada por momentos de muita sensibilidade e por exercícios que valorizavam o lado humano dos participantes. Como foi concebida esta oficina? Quais eram seus objetivos com ela e qual foi o resultado desta experiência?

Sou ator e professor formado pelo Studio Beto Silveira. A base do nosso trabalho é o uso consciente da imaginação. Os exercícios visam o desenvolvimento humano como uma ponte para o desenvolvimento artístico. E ao realizar estas práticas de natureza improvisacional o aluno começa a perceber que “ser ator” é uma questão de estudo e experiência e não uma atividade ligada a “pessoas especiais”. Todo mundo pode atuar, é claro com muita vontade, disposição e suor.

A oficina também propôs  uma percepção mais apurada ao assistir obras audiovisuais. Perceber as nuances em um olhar, na voz e na respiração de determinados personagens. Temos uma tendência enorme de ouvir sem prestar atenção, olhar sem de fato enxergar. Acredito que o grupo sentiu essa sensação de olhar para o outro com mais respeito, entender melhor as razões do outro.

Fizemos um falso documentário para darmos a experiência de estar em frente de uma câmera. Gravamos depoimentos improvisados de personagens que eles mesmos criaram, estimulando a ideia de rir de si mesmo. Um trabalho divertido e teoricamente simples. Mas para quem nunca esteve em frente de uma câmera, se expor dessa forma é uma grande vitória.

 

RUA: Você trabalha com produção de elenco e direção de atores. Quais são as principais diferenças entre o elenco de teatro e de cinema?

 

Cada produção seja no teatro ou no cinema tem uma lógica própria que vai depender muito da produção (tamanho do elenco e possibilidades do orçamento) e da direção.  O diretor vai apontar os rumos para o ator através do seu próprio método (leituras de mesa, ensaios físicos ou improvisação, por exemplo).

 

Às vezes a grande impressão é essa: no teatro, o ator é ponto de partida.  Os elementos dramatúrgicos serão construindo a partir daquilo que aconteceu no ensaio.  Ou seja primeiro o ator, depois se reconstrói a dramaturgia, estabelece uma cenografia, cria-se o figurino, desenha-se a luz. No cinema, no momento da filmagem, o ator “cai” em um espaço quase pronto.  A locação esta preparada, uma decupagem já está definida e uma equipe enorme trabalha focada em sua área… Por último entra o ator.

 

Então no teatro o ator sente-se mais “dono do pedaço”, é um lugar mais seguro. No cinema, muitas vezes o ator sente-se como o “estranho no ninho”, o último a chegar e que deve se relacionar com aquele espaço com toda naturalidade do mundo. O ator precisa ter uma grande generosidade e uma imaginação imensa para conseguir dar conta do recado.

 

RUA: Como se de o seu contato com a profissão e qual o panorama da área de direção e produção de elenco atualmente?

 

Fiz teatro no colégio, durante o ensino médio Acho muito importante as escolas disponibilizarem aulas de conteúdo artístico para seus alunos.  Durante a faculdade sempre busquei disciplinas que enfocassem o trabalho do ator. Dois anos depois de ingressar no Studio, comecei a assessorar o Beto Silveira em aula e a dirigir peças de teatro. Hoje sou ator e também preparo atores para testes, peças, comerciais e filmes.

 

O ator é a alma de um filme. E o mercado brasileiro está em expansão devido à lei 12.485, que obriga as emissoras a exibir conteúdo nacional. Com isso percebo uma movimentação alta de novos produtores de elenco, quem chegam com uma mente mais aberta, procurando atores não apenas em agências, mas pesquisando ativamente pelas redes sociais, cias e escolas de teatro. Com o público mais exigente, as produções tendem a refinar a pesquisa de atores.

 

RUA: Quais são as etapas e processos necessários para a escolha de elenco para cinema?

 

O roteiro é o primeiro grande objeto de estudo para se fazer um bom casting. Esmiuçar o roteiro e perceber quais características afloram naqueles personagens. Tendo essa base são realizados testes pensando nos perfis daqueles personagens.

 

Porém o que acontece nesse momento, é que os atores acabam trazendo novas camadas de possibilidades para cada personagem. E começa então um processo de repensar o roteiro levando em consideração as nuances dos atores testados. É muito comum realizar várias etapas de testes. Esse processo chega a ser muito desgastante para o ator, que a todo momento está sendo observado e julgado.

 

Escolher um ator para um personagem é escrever com uma tinta que não apaga. Portanto um dos momentos que mais tira o sono dos diretores. A pergunta que não quer calar: “Quem vai dar corpo, voz e sentimento para esse personagem?”.

 

*Lidiane Volpi é graduanda em Imagem e Som pela UFSCar e Editora Geral da RUA.

 

 

Author Image

RUA

RUA - Revista Universitária do Audiovisual

More Posts

RUA

RUA - Revista Universitária do Audiovisual

Deixe uma resposta