Seu Arlindo Vai à Loucura (Raoni Reis, UFSCar, 2012)

O curta- metragem Seu Arlindo Vai à Loucura é um trabalho de conclusão de curso (TCC) da UFSCar do ano de 2012, e está sendo lançado na internet nesse mês de agosto. O filme conta a história da festa das bodas de ouro do casal Arlindo e Benedita, na qual seu Arlindo questiona sua capacidade de acompanhar a esposa. Com os atores Mauro Mendonça e Rosamaria Murtinho
Confira mais uma produção universitária acompanhada de uma entrevista exclusiva com o seu diretor.

Por Fernanda Sales*

 

 

RUA:Como surgiu a ideia para o curta e como se deu o seu desenvolvimento?

Raoni Reis: Em 2009 a roteirista Érika Kogui havia me contado uma idéia que estava desenvolvendo na aula de introdução ao roteiro. Logo de cara gostei muito do que ouvi e fiquei torcendo para que essa idéia virasse filme. Com o passar do tempo outros projetos foram aparecendo, até que no final de 2010, quando nossa turma precisava apresentar projetos de TCC`s (Trabalhos de Conclusão de Curso) pedi a ela pra transformar esse roteiro em projeto. A partir daí comecei a me debruçar na pesquisa sobre o tema a partir de referências fílmicas e bibliográficas com a ajuda do Felipe Lwe, enquanto a Érika desenvolvia novos tratamentos do roteiro. Aos poucos o projeto foi tomando corpo e dimensões maiores, até que em 2011, finalmente, começamos a produzi-lo de fato.

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RUA: Seu Arlindo Vai à Loucura está sendo lançado na internet. Comente um pouco como foi e esta sendo o trabalho de circulação e exibição do curta e como tem sido a recepção ao filme.

R.R.:Em 2012 o foco foi circular o filme no circuito dos festivais. Passamos por mais de 20, entre 7 países, 10 estados brasileiros e 3 prêmios. Geralmente a carreira de um filme nos festivais dura dois anos, porém a distribuição ainda é exageradamente custosa, gasta-se muito tempo e dinheiro lendo um regulamento diferente para cada festival, preenchendo fichas, preparando cópias em formatos diferentes, ir até os correios despachar o filme, sendo que atualmente a produção totalitária dos filmes contam com arquivos digitais, que poderiam ser facilmente transferidos pela internet junto de suas informações técnicas. Por conta desses obstáculos, este ano deixamos de enviar o filme pros festivais e passamos o foco para internet e televisão. Este mês o filme está sendo lançado em nosso canal oficial do youtube (www.youtube.com/SeuArlindo) e contamos agora com o apoio das mídias alternativas como a RUA para nos ajudar na difusão do filme pelo mundo. Pra quem quiser se manter por dentro das peripécias do Seu Arlindo, mantemos sempre atualizada a página oficial: facebook.com/seuarlindovaialoucura

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RUA:O filme se passa em uma festa, existem bastante personagens, além de figurantes. Como ocorreu o trabalho de casting?

R.R.: O casting foi um dos maiores desafios desse filme. Eu e o Matheus Chiaratti ficamos responsáveis por essa etapa e decidimos atuar em duas frentes: procurar atores profissionais em São Paulo para o núcleo principal de personagens, e procurar o elenco de apoio em São Carlos. Em São Paulo divulgamos o casting e realizamos alguns testes, ao mesmo tempo que pesquisamos atores de grupos teatrais da cidade. Já em São Carlos procurei reunir todos os atores que nos ajudaram ao longo do curso em trabalhos anteriores, além de procurar também por atores da terceira idade que tivessem essa vontade/curiosidade de participar de um set. O resultado foi que o nosso elenco foi composto de pessoas de todo tipo de perfil: alguns mais do teatro, outros de tv, publicidade e alguns que nunca tinham atuado na vida.

RUA: Como foi trabalhar com atores profissionais, com carreiras já consagradas?

R.R.: Num primeiro momento foi um pouco assustador, tamanha a responsabilidade que seria ter atores super experientes e consagrados em um singelo set de formandos do interior, ao mesmo tempo houve uma empolgação muito grande pelo privilégio de tê-los no projeto. Pelo fato da Rosamaria Murtinho e do Mauro Mendonça morarem no Rio de Janeiro não tivemos como fazer nenhum ensaio anterior às filmagens com eles, tudo foi ensaiado ali no hora, momentos antes de gravar, e foi incrível testemunhar a destreza deles em se apropriar do texto a dar vida aos personagens, além disso, os dois têm uma intimidade muito grande com a câmera, e acabaram ajudando muito nos detalhes de marcação, mise-en-scene e continuidade, ou seja, foi ótimo!

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RUA:Na trilha sonora do filme e enquanto música diegética, há uma composição (“último desejo”) do Noel Rosa. Comente como seu deu o processo da trilha musical do filme, as escolhas, incluindo a música do Noel.

R.R.: Já no roteiro havia a indicação de uma música que seria a música do casal, e ajudaria a contar a história por aparecer em dois momentos importantes do filme (o início, e o ponto de virada), por conta disso decidimos trabalhar com uma canção já existente, para nos remeter a uma memória afetiva do casal. Como nosso orçamento foi baixo, pesquisamos autores de domínio público, e acabamos chegando no Noel Rosa e na música Último Desejo, que fala justamente de um amor em crise. A partir dessa escolha, o Filipe Doranti e o Cauã Ogushi fizeram um arranjo instrumental para usarmos no filme, e seguindo numa atmosfera parecida, compuseram com a participação do Thiago Hard as outras 4 músicas autorais que compõe a trilha musical do filme. Quem tiver o interesse em ouvir e baixar todas essas músicas é só entrar no nosso soundcloud: soundcloud.com/curta-seu-arlindo

RUA: O curta é um TCC (trabalho de Conclusão de Curso), comente como foi o aprendizado proporcionado pelo filme, e o aparato que o curso e a universidade deram tanto para a realização do trabalho quanto para a formação dos envolvidos.

R.R.: A UFSCar foi fundamental para incentivar um grupo grande de pessoas se reunirem por mais de um ano com o objetivo de realizar um curta sem verba nenhuma. Os projetos todos passaram pela avaliação de duas bancas, até ser aprovado, o que nos impulsionou a gastar um tempo de pesquisa, discussão e aprimoramento de roteiro e concepções artísticas. Depois de aprovado, contamos com a orientação da professora Luciana Roça, que acompanhou o processo todo de perto e nos ajudou muito a manter o grupo unido e focado até o final. Por fim, a UFSCar também disponibiliza seus equipamentos por uma semana para a realização do curta, o que reduziu bastante nossos gastos principalmente com com os equipamentos de luz. Já na parte de som e de câmera locamos e emprestamos alguns equipamentos mais modernos, que infelizmente ainda não estão disponíveis na UFSCar. Apesar dos poucos recursos, acredito que esse processo longo de imersão em cima de um projeto possibilitou um aprendizado muito grande, tanto pela experiência de produção e realização quanto pela vivência nada fácil de trabalho em equipe.

* Fernanda Sales é graduanda do curso de Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e editora geral da Revista Universitária do Audiovisual (RUA).

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