CRÍTICA | Pecadores (2025), Ryan Coogler

Por Arthur Matsubara Barroso
Redação RUA


O novo filme de Ryan Coogler, diretor dos filmes do Pantera Negra, conta a história de dois irmãos gêmeos, ambos interpretados por Michael B. Jordan, que retornam à sua cidade natal com o intuito de recomeçarem suas vidas, abrindo uma casa de shows para a comunidade negra local. Porém, logo em sua noite de abertura, são confrontados por um mal sobrenatural.


Ryan Coogler mantém-se fiel a sua filmografia, abordando questões sociopolíticas relacionadas à comunidade afro-americana, mas dessa vez por meio da frontalidade do cinema de horror e, principalmente, das potentes batidas do blues. Os primeiros minutos do filme são direcionados para a apresentação e construção dos personagens relevantes da trama que, mesmo sendo arquétipos amplamente utilizados, como o casal de chineses comerciantes ou o musicista de blues que nunca nega uma bebida, são concisos perante as suas funcionalidades à história. No entanto, no momento de virada da trama para se aproximar ao horror, Coogler nos dá uma das cenas mais impactantes não só do filme, mas também dentro do contexto audiovisual dos últimos anos.


Ao transportar diferentes elementos culturais de diferentes épocas juntos dentro do galpão para dançar, enquanto a câmera circula e persegue aqueles personagens que representam a cultura e a sobrevivência de tradições que foram perseguidas e apagadas, Coogler grita que, pelo menos durante aquela noite e naquele lugar, eles celebrarão tudo aquilo que já foi construído, e tudo aquilo que um dia se tornará material. Assim, além do significado quase místico da cena, esse mesmo grito de liberdade é o responsável por chamar a força maligna para dentro do galpão. O vampirismo, dentro da lógica do filme, não é uma mera representação da violência racial, mas sim uma materialização da tentativa de apagamento de culturas marginalizadas e, justamente por essa especificidade, Coogler consegue manter esse sentimento de preservação ao longo do filme, mesmo que não se mostre de forma tão intensa quanto na cena da dança.


A trilha sonora é um show à parte: não se limita apenas a manter o ritmo e sentido das cenas, mas se mostra fundamental para a construção tanto temática quanto estética do filme. Ludwig Göransson, que frequentemente trabalha junto com o diretor, faz um trabalho primoroso por meio do blues que, conforme o sentido de preservação cultural do filme, retorna o blues para aqueles que o criaram.


Por fim, Pecadores se mostra extremamente conciso em sua abordagem, o que permite um desenvolvimento espetacular em suas temáticas enquanto experimenta um horror musical, mantendo em harmonia e codependentes dentro do ritmo das cenas. O filme não é uma carta de amor, nem se prende a uma crítica social; Pecadores é um grito por liberdade e pelo resgate de tudo aquilo que foi tomado à força por uma sociedade estruturada pelo racismo.

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