Entrevista com Maria Dora Genis Mourão

Por Estela Andrade e Thiago Jacot*

Durante o Primeiro encontro da Socine Estadual, realizado nos dias 17, 18 e 19 de maio na Universidade Federal de São Carlos, entrevistamos a Profª Drª Maria Dora Genis Mourão. Como presidente da Socine, professora e vice-presidente da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), ela nos falou sobre sua carreira, o ensino da prática audiovisual e o Primeiro Encontro Estadual da Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual.

Estela Andrade: Como foi o início da sua carreira no meio audiovisual ?

Maria Dora Genis Mourão: Quando eu me preparei para fazer vestibular, na verdade eu não sabia muito bem o que eu queria e prestei várias coisas. Cheguei a fazer filosofia e aí abriu a Escola de Cinema da ECA, que na época se chamava Escola de Comunicações Culturais, e eu achei interessante por ser algo novo e eu gosto de coisas novas. Mas eu comecei fazendo teatro, gostava de ir ao teatro, não tinha ninguém da minha família nesse meio, nenhuma tradição, mas eu gostava. Mas daí eu fiz um ano e não gostei muito. Eu gostava muito dos meus colegas que faziam cinema e pensei: “Ah, vou fazer cinema. É uma coisa legal, eu gosto”. Foi assim, muito do nada. E então me formei em cinema, e como era um curso que estava começando logo que eu me formei fui convidada para ser professora. Vários de nós, das três primeiras turmas do curso de cinema, fomos convidados para compor o corpo docente. Eu aceitei porque eu tinha tido uma experiência como aluna na equipe de um longa-metragem, Beto Rockfeller (Oliver Perroy, 1970), que foi produzido a partir da novela, dirigido por um publicitário muito famoso, Oliver Perroy. Eu era aluna e fui convidada para fazer parte da equipe, eu fazia continuidade que, geralmente, era a mulher que fazia. Era uma coisa muito chata, muito minuciosa porque eu tinha de acompanhar toda a filmagem daquele plano, saber exatamente onde estavam todos os objetos, saber onde o ator tinha parado a cena, para depois a gente poder dar a sequencialidade necessária. E nesse filme houve uma novidade porque estavam começando aquelas câmeras de foto polaroid, que as fotos eram reveladas na hora; então foi muito bom porque eu não precisava ficar anotando tudo. Eu fotografava e estava ali na imagem – hoje em dia isso não se faz mais já faz tempo porque agora temos o video assist, aí a continuidade pode ser feita lá. O que me chateou muito na época foi que foram feitas filmagens no Guarujá, na praia, então na hora dos almoços e dos jantares a equipe se dividia, então o diretor, os que estavam num patamar superior comiam em uma mesa e o resto comia em outra, e eu ficava junto com o “resto” – maquinistas, eletricistas – e isso me chateou muito. Falei: “Eu não vou ficar no mercado de cinema para sofrer dessa maneira”. Eu já me desenvolvia na montagem, gostava muito de montagem, então quando me convidaram para ficar na Universidade eu decidi ficar. Mas como minha especialidade é montagem, eu, por muitos anos, fiz montagem, mas em filmes que a Universidade entrava em colaboração. Então eu montava muitos curtas – metragens, cheguei a montar longas, mas sempre em filmes mais de caráter cultural, não eram filmes comerciais. Então me desenvolvi na parte prática a partir desses filmes, mas nunca mais fui fazer cinema comercial. Foi assim que eu comecei e estou na Universidade até hoje.

Estela: A senhora é coordenadora e professora do curso de Audiovisual e vice – diretora da ECA. Além disso possui prática na área de montagem. Qual a influência do meio acadêmico na prática audiovisual ?

Maria Dora: Como fazer a aliança entre a teoria e a prática nos cursos universitários é um problema que é discutido em todas as escolas de cinema do mundo. Eu conheço várias escolas de cinema e televisão de várias partes do mundo e essa é uma questão que se coloca a todas as escolas: como aliar a teoria e a prática ? Porque é fundamental que num curso, num bom curso, principalmente universitário, haja essa teoria, história, essas disciplinas teóricas; assim como é necessário que haja essa produção, essa prática. Porque, enfim, estudar cinema e audiovisual você pode estudar só teoricamente, você vai se formar um crítico, um teórico. Mas para se formar um realizador tem de haver a parte da realização. Para você ser um realizador que tem capacidade criativa, imaginativa, com conhecimento do que está fazendo, tem que ter uma carga teórica importante para fazer essa “dobradinha” entre a teoria e a prática. O nosso curso, por exemplo, o da USP, ele é meio a meio. Cinquenta por cento teoria e cinquenta por cento prática. Essa equação é boa, mas é uma questão que sempre está presente.

Estela: Como presidente da Socine, como a senhora avalia as novas linhas de pesquisa que estão se formando no meio audiovisual ? Falo do crescimento da pesquisa desde que foi criada a Socine até hoje, no primeiro Encontro Estadual.

Maria Dora: Eu só posso avaliar muito bem porque a Socine está crescendo, e muito, e isso nos dá a ideia de como está crescendo o campo da pesquisa audiovisual. A Socine faz 15 anos nesse ano e a proposta era de fazer a Socine regional, mas acabou ficando estadual. Vem em função de que o encontro nacional não dar mais conta de tantos trabalhos que estão sendo apresentados. A gente tem que selecionar muito, porque não tem espaço para todos os trabalhos, que são importantes de serem apresentados e discutidos. Dessa maneira “desafoga” um pouco a Socine Nacional. Eu acho que a experiência que foi feita aqui [1° Encontro Estadual SOCINE – UFSCar/ São Carlos] foi um sucesso. A quantidade de trabalhos inscritos, participantes e de pessoas assistindo às palestras e às mesas redondas foi excelente. Eu espero, com muita vontade, que os colegas de outras regiões, a partir do sucesso desse encontro, sejam incentivados a propor Socines regionais em outras áreas do Brasil; porque eu acho que vai dar certo, já deu certo nessa primeira. E com isso a gente amplia a possibilidade de ter mais trabalhos sendo apresentados e, por outro lado também, a gente divulga a área. Porque os encontros da Socine ocorrem uma vez por ano e cada ano é em um Estado, então a gente já tem mesmo essa política de divulgar mesmo o campo e a pesquisa na nossa área. Mas se somar a isso os encontros regionais, aí temos a possibilidade de haver mais divulgação e de incentivar o desenvolvimento da pós-graduação e da pesquisa.

Perguntas e Captação de Áudio: Estela Andrade
Captação de Vídeo: Thiago Jacot

*Estela Andrade e Thiago Jacot são graduandos do curso de Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e editores responsáveis pela seção Entrevistas da RUA.

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