11ª Semana da Imagem e Som (SeIS.11) – Palestras, exibições e debates

Por Amanda de  Castro Melo Souza, Mário Gonçalves Neto e Natalia Cortez *

Entre os dias 23 e 27 de maio, na Universidade Federal de São Carlos, ocorreu a Décima Primeira Semana da Imagem e Som. Com uma série de oficinas e palestras voltadas para o tema da semana, os alunos do curso puderam aproveitar e expandir seus conhecimentos práticos de produção audiovisual.

A proposta deste texto é falar sobre os eventos que ocorreram durante a noite na semana (palestras e exibições de filmes), enquanto as oficinas serão abordadas em outro texto.

Acesse o site www.seis2011.wordpress.com para maiores informações sobre a semana como as oficinas dadas, fotos e informações gerais sobre a história da semana.

Segunda-feira – Mostra Olhares do Brasil

Apesar de já terem acontecido duas oficinas ao longo deste primeiro dia da semana, foi no evento noturno que se fez a abertura oficial da mesma. Nada melhor do que começar uma semana do audiovisual universitária com um evento que tem por objetivo a exibição de curtas de outros cursos de cinema para que as pessoas e os alunos tenham contato com outras produções de seu próprio país. Entretanto, nesta primeira edição os curtas enviados foram preponderantemente do Estado de São Paulo. Ainda assim foi possível perceber a diversidade dentre as produções da Mostra.

Anfiteatro Florestan Fernandes no dia da mostra olhares do Brasil
Anfiteatro Florestan Fernandez no dia da mostra olhares do Brasil

Destaque para o curta documentário Nota de Corte (2010), mais votado pelo público presente na apresentação. O curta dirigido por Bruno Bralfperr, ganhador do Prêmio Red Bull Criando Asas, investiga a dificuldade de acesso das classes mais baixas a universidade pública.

Terça-feira – Palestra sobre direção de arte com Mônica Palazzo

Na terça a noite tivemos uma palestra com a diretora de arte Mônica Palazzo, sendo ela graduada em Imagem e Som, mestre em “Poética das Imagens” e fundadora sócia da produtora Filmes de Abril.

A experiência de uma verdadeira diretora de arte vem a acrescentar muito pois no curso de Imagem e Som esta especialização não é muito abordada e as pessoas que tem tendência para a área muitas vezes sequer sabem por onde começar e quais métodos utilizar. A direção de arte começa com a busca de referências que possam dar uma idéia de identidade para o filme, e mais que buscar a estética por si só, a mesma deve ser um instrumento facilitador para as idéias do filme serem passadas, a forma determina o conteúdo. Nas palavras de Mônica “o diretor de arte sugará o que o diretor tem a dizer e traduzirá em pranchas de imagens”, todo esse trabalho de sintetizar um espaço ideal para a verossimilhança do roteiro e também seu maior poder de expressão é um processo que deve ser feito de modo colaborativo, de nada adianta fazer um cenário perfeito sendo que ele não segura a iluminação que o fotógrafo planejou, ou se nem está no plano de decupagem do diretor, indo mais longe, de nada adianta construir um cenário que não tenha uma acústica ideal para a captação do som. Todos os materiais e sua montagem devem ser pensados de acordo com as possibilidades técnico-orçamentárias e determinações do filme. Após essa introdução, Mônica descreveu como se dá o processo de criação da arte e mostrou uma prancha de referência que produziu para o filme que fez com a diretora Júlia Zakia (que está na pós-produção), pranchas de referências ou de imagens, são colagens de fotos ou desenhos que mostre objetos, cores e ambientes que se aproximem da idéia de ambiente para o filme e “construirão a tridimensionalização do roteiro” (Mônica Palazzo), os mesmo serão guiados por uma palheta de cor que mostra as cores principais do filme e sua quantidade em proporção, as cores fora da palheta não serão excluídas, mas deixadas em segundo plano. Uma pergunta recorrente que os alunos fizeram foi a respeito dos filmes de época, como é feita essa construção. Mônica enfatiza a importância da pesquisa de referências fotográfica, de outros filmes, dos costumes da época e de qualquer coisa que você possa traduzir em imagens, e da atenção aos detalhes, por exemplo, um set todo produzido no século XV se estiver aparecendo um fio elétrico, já acaba com a verossimilhança do filme, a não ser que essa seja a proposta como por exemplo em De volta para o futuro (1985).

Após essa parte de pesquisa de repertório e de determinação da identidade do filme, é importantíssimo o diretor de arte fazer plantas baixas das locações e pensar em todos materiais e possibilidades de construção, o diretor de arte é uma espécie de arquiteto, com a vantagem de não ter que pensar em encanamentos e fiações, mas tendo que pensar nos enquadramentos do diretor. Outro ponto importante é o personagem que vai utilizar esse espaço, além de sua caracterização também deve-se pensar em todos os objetos que utilizará e que podem de alguma forma contar sua história. Também outra dica que Mônica deu foi a de criar “mini historinhas” para cada cenário, por exemplo, Maria tem um porta-retrato que herdou de sua avó e quando era criança colou “macarrõezinhos” em cima dele. A direção de arte é acima de tudo a narração visual de uma história.

Monica Palazzo falando sobre direção de arte

Mônica deu várias dicas de lugares onde se encontra depoimentos de diretores de arte e revistas que discorrem acerca do assunto, por exemplo o livro de Vincent Lobrutto ” filmmakers guide to production design”, assim como entrevistas com diretores de arte no youtube evimeo. Outras formas de conhecimento que podem ser utilizadas é via Sesc, com eventos que acontecem ocasionalmente e a leitura de muitos livros sobre teorias e histórias da arte e também mais especificamente do cinema, além disso é preciso correr atrás da construção de móveis, objetos, espaços. Mônica utiliza a máxima de José Saramago: “para se conhecer um fenômeno tem que se dar a volta em torno dele inteiro” para exemplificar como é importante qualquer componente da equipe de uma realização e que ser um cineasta é compreender a obra como um todo.

Natalia Cortez

Quarta-feira – Exibição de curtas e debate com a diretora Júlia Zakia

No teatro Florestan Fernandes da UFSCar, foi a vez de Júlia Zakia exibir dois de seus curtas: Tarabatara (2007) e Pedra Bruta (2009).

Tarabatara é um documentário que mostra o cotidiano da família Ferraz, ciganos que, obviamente sem residência fixa, vagam pelo nordeste do país. O contato de Júlia com essas pessoas aconteceu dois anos antes das gravações e até hoje ela diz ser amiga deles, tanto que eles tiveram uma participação importante no 1º longa da diretora, já em pós-produção.

Pedra Bruta foi gravado durante uma viagem da diretora à Bosnia, uma país devastado pela guerra. Filme rodado sem diálogos com apenas uma atriz e uma pianista, conta a trajetória de uma mulher em busca da paz no seu país e dentro dela mesma. Ambos os curtas foram muito bem recebidos em diversos festivais pelo mundo.

Júlia Zakia durante o debate

Após a exibição, Júlia foi à frente da plateia para responder perguntas, mas antes de qualquer apresentação ou resposta, ela criticou a exibição alegando que a qualidade da projeção dos filmes estava ruim pois cortava pedaços das imagens, algo que, para quem nunca tinha visto o filme, passa despercebido (a não ser se prestasse atenção nos créditos finais) mas ainda sim encorajou os alunos a exigirem e lutarem por uma melhor infraesturuta do teatro para que falhas assim não ocorressem mais.

Durante as sessão de perguntas, Júlia se mostrou muito carismática e atenciosa. Dividiu muitas de suas experiências que já teve em produções cinematográficas dentre elas, a chance de ter sido assistente do diretor de fotografia Eduardo Serra no filme Diamantes de Sangue(2006), produção hollywoodiana com Leonardo Di Caprio rodada em Moçambique.

Algumas das respostas de Júlia, e algumas informações adicionais sobre a semana, podem ser encontradas em dois vídeos apresentados na cobertura do próprio site da SeIS (http://seis2011.wordpress.com/cobertura/), que são resultado de uma das oficinas da semana que tinha por objetivo inserir os estudantes em uma produção audiovisual para a televisão. Não deixe de conferir!

Mário Gonçalves Neto

Quinta-feira – ANCINE: Mercado e políticas publicas para o audiovisual, palestra de Rodrigo Camargo

Rodrigo Camargo, da turma de 1997 do curso de Imagem e Som da Federal de São Carlos, foi ao anfiteatro da reitoria na quinta-feira dia 26 de maio para uma palestra sobre a ANCINE.

Ele começou com um rápido histórico das várias instituições públicas voltadas para o audiovsual que já existiram no país e suas responsabilidades. Começou em 1933 com o INCE – Instituto Nacional de Cinema Educativo (que deixou de existir em 1966) – e terminou chegando ao atual Ministério da Cultura e seus braços, Secretaria do Audiovisual (SAV) e Agência Nacional de Cinema (ANCINE).

A partir deste ponto, ele apontou que áreas do audiovisual cada um dos órgãos controla. Por exemplo, financiamento para longas, séries de TV entre outras coisas é “trabalho” da ANCINE, já a SAV fica a cargo dos curtas e médias para citar apenas algumas atribuições de cada.

Comentou vários dados, inclusive financeiros, e apontou alguns filmes beneficiados por várias leis de incentivo ligadas diretamente à ANCINE. Rodrigo foi bem rápido e conciso na sua exposição para que houvesse um tempo maior de perguntas. E o foco destas acabou sendo os critérios para avaliação de projetos e todo o caminho que quem quer inscrever algo deve fazer, da publicação do edital ao resultado.

Esta era uma das palestras que eu mais queria assistir na Semana da Imagem e Som, e foi, dentro do esperado, instrutiva. Boa parte das minhas dúvidas foram sanadas. E caso outras resolvam surgir, já sei aonde procurar respostas (no site da ANCINEwww.ancine.gov.brwww.ancine.gov.br ou do Ministério da Cultura www.cultura.gov.brwww.cultura.gov.br).

Mário Gonçalves Neto

Sexta-feria – Estréia do filme Bróder e debate com o diretor Jefferson De

Selecionado pelo festival de Berlim em 2010, ganhando 5 prêmios no festival de gramado (incluindo o de melhor filme) e 3 prêmios no Festival de Paulínia, Bróder fechou a 11ª Semana de Imagem e Som, sendo exibido nas telas do Cine São Carlos, no dia 27 de maio junto com a presença do diretor Jéferson De.

O filme conta a história de três amigos de infância que tiverem destinos bem diferentes, Macu (Caio Blat), seguiu o caminho do crime, Jaiminho (Jonathan Haagensen), se tornou um famoso jogador de futebol e Pibe (Silvio Guindane), casou-se e vive com sua esposa e seu filho. Embora esses três amigos se mostrem tão diferentes eles ainda são unidos pela sua origem, o Capão Redondo, e essa união é uma constante no filme que não deixa que a violência do Capão se sobreponha à fraternidade dos três.

O filme não esconde a pobreza do lugar, porém esta não é o foco da narrativa. A família e os amigos de Macu se reúnem para comemorar o aniversário do nosso protagonista comendo a feijoada de sua mãe, Sônia (Cássia Kiss). Nessas cenas a alegria da união é maior que os problemas que nossos personagens encontram em suas vidas, como o envolvimento de Jaiminho com a irmã de Macu, Elaine (Cíntia Rosa),que acarretou em sua gravidez.

Logo após a exibição do filme o diretor abriu o debate com o publico e falou das dificuldades de lançar seu filme no circuito nacional, ele disse que embora seu filme seja reconhecido e premiado por grandes festivais não dá pra concorrer no circuito comercial com os grandes lançamentos hollywoodianos, um problema que não é restrito apenas para seu filme, mas para o cinema nacional como um todo, tirando raras exceções como Tropa de Elite 2, por exemplo.

O diretor ainda contou como é trabalhar com atores globais como o Caio Blat e a Cássia Kiss, além de dar um breve panorama de suas realizações enquanto universitário da ECA-USP. Jéferson diz não ter abandona seus ideais; por ser negro sempre tratou de filmes que mostrassem negros, seus curtas universitários são o principal exemplo disto, mas em Bróder ele diz ter evoluído. Macu, nosso personagem principal é branco, ele representa a miscigenação tão comum ao povo brasileiro, além de fazer referência ao nosso eterno herói Macunaíma de Mário de Andrade.

Amanda de Castro Melo Souza

* Amanda de  Castro Melo Souza, Mário Gonçalves Neto e Natalia Cortez são graduandos do curso de Imagem e Som pela UFSCar – Universidade Federal de São Carlos.

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