A Alegria (Felipe Bragança e Marina Meliande, 2010)

Vitor Vilaverde*

A Alegria é o segundo filme da trilogia Coração no Fogo , que se completa com A Fuga da Mulher Gorila (2009) e Desassossego (2010). Aqui, não se trata de uma trilogia com seqüência narrativa, mas sim de três filmes sobre “juventude, alegria, raiva e utopia no começo do século XXI”, como consta na sinopse do projeto.

A partir de uma fábula sobre uma adolescente no Rio de Janeiro, os diretores Felipe Bragança e Marina Meliande desenvolvem um filme que fala sobre violência, amizade, relações familiares, inquietudes e descobertas, sem em nenhum momento cair na obviedade.

Uma nova juventude é mostrada no fantasioso "A Alegria"

A protagonista é Luiza, uma menina inquieta que não agüenta mais ouvir falar em fim do mundo. Ela fica sozinha no apartamento onde mora, depois que seu primo é baleado em circunstâncias não esclarecidas e  sua mãe sai para dar suporte à irmã. Ali, Luiza reúne os amigos e recebe um visitante no meio da noite. Ali também, Luiza permite que seus planos e vontades se manifestem, mas é na cidade do Rio de Janeiro que tudo se concretiza. Através de uma história sempre permeada por certa fantasia, Felipe e Marina aproximam o espectador de Luiza e seus amigos, compartilhamos dos propósitos da jovem, vemos tudo pelos olhos da garota.

Um dos maiores trunfos de A Alegria é tratar a violência não como algo concreto, mas como uma sensação presente no cotidiano, algo que permeia a história, a qual está prestes a acontecer. Mas, de fato, não se concretiza na tela. E essa é a sensação que vive grande parte da juventude no Rio de Janeiro.

Se há uma tendência atualmente de filmes que retratem a adolescência, como podemos citar Os Famosos e Os Duendes da Morte (Esmir Filho, 2009) ou As Melhores Coisas do Mundo (Lais Bodansky, 2010), A Alegria difere completamente dos dois. Aqui temos a opção do fantasiado. É quando os jovens vestem suas máscaras que nós os conhecemos de verdade, que eles apresentam o seu intimo ao espectador, que percebemos a relação de cumplicidade entre os quatro adolescentes do núcleo central. Nesse caso, a escolha da maioria de não atores se faz mais do que importante, pois confere certo naturalismo a uma cena quase que teatral.

Um filme de super heróis

Como foi dito acima, trata-se de um filme que quer dialogar e se aproximar do espectador, há uma constante provocação para quem está assistindo, como se fosse necessário tomar uma posição, isso é explicitado pelos diálogos. O que a primeira vista pode soar literário e poetizado demais, na verdade carrega uma intenção de ultrapassar o cotidiano e evidenciar a situação colocada no ar. É nesse ponto, que o filme se torna um filme de super-heróis, que se permitem mergulhar na fantasia, ainda que vivendo numa parte do Rio de Janeiro pouco explorada no cinema atual.

Ao fim do filme, temos a sensação de uma fábula não encerrada (talvez seja então necessário assistir os outros filmes da trilogia), mas de uma narrativa que disse tudo que se propôs a dizer e que se conclui quase que como um filme obrigatório pra jovens que pensam e querem fazer cinema nos dias de hoje, e que tem como política a alegria.

Vitor Vilaverde* é graduando em Imagem e Som pela UFSCar – Universidade Federal de São Carlos.

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