A Onda (Dennis Gansel, 2008)

Numa escola da Alemanha os alunos precisam se matricular numa disciplina de uma semana. Eles devem escolher entre os projetos de anarquia (com o professor tradicional e cansativo) ou autocracia (com o professor moderno e inovador). Insatisfeito por ter que lecionar autocracia, o professor decide mostrar na prática que ainda é possível um regime ditatorial na Alemanha contemporânea.

cena do filme A Onda
Cena do filme "A Onda"

Aos poucos, o professor que já possui a confiança dos alunos, vai modificando o comportamento deles, atingindo a fraqueza e o salientando o ponto forte de cada um, transformando a sala de aula num grupo unido por um objetivo. Alunos considerados “mais fracos” em algum aspecto são colocados ao lado de alunos “mais fortes” naquele aspecto. Cada um acaba ficando responsável por uma função dentro do grupo.   Porém, quando uma aluna sente-se desconfortável naquele ambiente, a situação que até então era uma experiência inovadora dentro do ambiente escolar, vai se transformando em algo fora do controle. Quem não pertence ao grupo denominado “A Onda”, não possui os mesmos direitos na visão deles. E, cada vez mais, os participantes desse grupo vão levando ao extremo seus ensinamentos. A aluna insatisfeita resolve lutar contra isso, mas acaba provocando pequenas revoltas que caminham para algo maior.

No período de uma semana, estamos vendo jovens seguindo o autoritarismo do professor Rainer Wenger, que parece não estar consciente de onde sua experiência está indo. Cada jovem se apega ao grupo de uma maneira e, aos poucos, vai ficando claro para o espectador que o grupo não tem um objetivo além da própria união e a situação chega num limite que se torna necessário que o professor interfira e coloque um fim em tudo que acontece. Wenger decide mostrar friamente aonde o grupo chegou e o que eles ainda seriam capazes de fazer caso alguém da “Onda” fosse colocado como traidor. Chocados, os alunos parecem não se reconhecer mais e o fim da “Onda” apresenta-se como algo perigoso e inesperado.

Cena do filme A Onda
Cena do filme "A Onda"

Pensando o roteiro do filme, é interessante notar que cada jovem reage de uma maneira diferente ao movimento e que, cada reação é fundamentada pela relação que aquele jovem tem com a família. O jovem que reage de maneira mais radical é aquele que não é ouvido pelos pais na mesa, durante a refeição, os pais estão ali e constituiriam um núcleo familiar tradicional, mas são frios e parecem não dar atenção às coisas que o filho faz. Em quase todos os casos, a família é desajustada e o jovem não tem espaço dentro de casa, o que serviria para “justificar” um comportamento. Cada cena dentro dos lares reflete as cenas na escola e nas ruas, como não recebem atenção em casa e não possuem liberdade para fazerem as coisas que desejam, o grupo extravasa isso nas ruas, procurando uma forma de expressão, como espalhar o símbolo da “Onda” pela cidade.

Ainda tratando dos jovens, podemos perceber uma individualização de cada personagem, pois apesar do comportamento da “onda” ser focado no grupo, o diretor Dennis Gansel consegue dar a cada um deles, um comportamento e uma personalidade diferente, cada um possui um drama e uma razão para estar ali, cada um deles pertence a uma diferente “tribo” na escola e todos eles parecem atingir uma reflexão própria ao final da semana, ao final do filme. Não acontece no filme uma generalização da juventude, ainda existem aqueles jovens que estão insatisfeitos e não concordam com a lição de autocracia, aqueles que questionam, como na tentativa de enxergar uma esperança, contudo, sem se aproximar da figura de um herói.

Cena do filme A Onda
Cena do filme "A Onda"

Ao final do filme, temos a sensação de que nos envolvemos naquele universo, naquele movimento. É possível durante o filme, tomar partido de uma ou outra visão. Há aqueles que não concordam com a atitude do grupo ou aqueles que não concordam com a garota que vai contra o grupo.  O movimento dos jovens acaba sendo um fracasso, mas todo o caminho pode ser questionado, pois coisas importantes foram aprendidas durante aquela semana, o que faz algumas pessoas enxergarem “a Onda” como uma coisa boa para aquelas pessoas, que até então não tinham com o que se envolver e o que defender. Alguns podem dizer que uma semana seria pouco para tomar algum partido e deixar-se levar pela “onda”, mas se em pouco mais de uma hora e meia conseguimos nos aproximar de uma ou de outra visão, creio que uma semana é bem mais que suficiente. É difícil se transportar para outra cultura e tentar compreender como a juventude alemã se identificaria com tal movimento, mas trazendo para nossa realidade, talvez seja possível encontrar em amigos, ou em professores, posturas semelhantes. Até mesmo em nós. Como reagiríamos diante de tal situação? Pois apesar de parecer distante de nós, uma vez que o filme faz referências claras a um passado autocrático alemão, que talvez não seja muito conhecido pela juventude, é interessante lembrar que tudo surgiu depois da afirmação de um aluno na primeira aula do curso: “não seria possível aqui nos dias de hoje” quando se referia ao contexto da Alemanha de Hitler.

Vitor Vilaverde é graduando em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

Author Image

RUA

RUA - Revista Universitária do Audiovisual

More Posts

RUA

RUA - Revista Universitária do Audiovisual

Este post tem um comentário

  1. Author Image
    Ana Vitória

    Correlacione as situações apresentadas no filme aos episódios bíblicos em que aparecem Herodes e Pilatos correlacionam também ao contexto político brasileiro 2018 alguém pode me ajuda

Deixe uma resposta