Cilada.com (José Alvarenga Junior, 2011)

Arthur Souza Lobo Guzzo*

Existe uma ideia em curso – e frise-se o fato de que o escopo aqui são os filmes comerciais – de que a indústria cinematográfica do Brasil vai bem, e crescendo a cada dia. Há diversos festivais, prêmios, eventos ligados ao cinema, incentivos fiscais de governos, e, é claro, há muitos, muitos filmes sendo feitos, e muitos ingressos sendo vendidos. Ninguém discute que muitos filmes brasileiros hoje fazem boa bilheteria, e de forma significativa. Exemplos como Tropa de Elite e de alguns filmes dirigidos por Daniel Filho estão aí, e isto é importante.  Talvez essa ideia seja mais do que correta, e deva ser alimentada, pelos mais diversos motivos. Mas a impressão que se tem, sobretudo ao assistir um filme como Cilada.com, é que o caminho ainda é longo. É um caso emblemático e relevante, porque, como muitos filmes do cinema comercial brasileiro, se origina a partir de uma produção televisiva.

Bruno Mazzeo interpreta o publicitário Bruno em seu filme

É difícil ponderar o que tem a dizer um filme como Cilada.com. O seu valor reside principalmente no fato de que se trata de mais um produto que teve sucesso com o público brasileiro. É claro que a profundidade é bastante rasa, como até se esperaria de uma comédia sem maiores pretensões. Mas o raso, aqui, vai um pouco além. O filme é baseado em um sitcom (Cilada) criado pelo roteirista, ator e comediante Bruno Mazzeo. Filho de outro humorista consagrado na televisão brasileira, Mazzeo tem obtido destaque com seus diversos trabalhos, sobretudo aqueles ligados à televisão. Essa série obteve grande sucesso, e o filme em questão configura a tentativa de levá-la a outra mídia. Apesar de não ser conhecedor da série em questão, é possível dizer que o filme não é bem sucedido na empreitada de adaptá-la.  Talvez seja mais apropriado analisar o filme pelo que é (ou tenta ser): uma obra de comédia, que tem como objetivo o puro e simples entretenimento. Sob este prisma, o resultado também não é animador.

Somos apresentados ao publicitário Bruno, que tem um lapso de infidelidade à namorada (Fernanda Paes Leme) escancarado em um determinado evento social. A mulher traída publica um vídeo no YouTube que demonstra a inaptidão de Bruno na cama.  Bruno tenta se redimir em duas frentes: na tentativa de reconquistar sua ex-namorada e de mitigar sua recém-adquirida reputação de inepto em assuntos de fornicância. Isto inclui, dentre outras idéias mal-ajambradas, fazer uma gravação de um outro filme onde uma transa propriamente dita possa redimir o rapaz perante a sociedade. Com pouco tempo de filme, também descobrimos que Bruno é um profissional de péssima qualidade. Há de se convir que é difícil estabelecer uma ligação entre o espectador e um sujeito que, ao mesmo tempo em que tenta pedir desculpas à namorada, contrata um “especialista” (Serjao Loroza)  para registrar suas aventuras sexuais. Essa “esquizofrenia” bifurca o roteiro em duas instâncias desconexas que, juntamente com as múltiplas e mal-sucedidas tentativas de se emplacar uma piada em quase todas as cenas, minam qualquer possibilidade de coesão.

Fernanda Paes Leme faz par romantico com Bruno Mazzeo em "Cilada.com"

E já que estamos falando de piadas, vale dizer que este filme apresenta alguns exemplares bastante infelizes, que vão desde simplesmente sem graça até as potencialmente ofensivas. Um bom exemplo é uma cena em que “publicitários”, no intuito de apresentarem certa campanha a um cliente, encenam ao vivo, interpretando um casal, o que seria o filme publicitário. É tão inverossímil que passa longe, muito longe de ser engraçado. Sem falar, é claro, em clichês já bastante surrados. Declarações de amor na chuva deveriam ser proibidas em qualquer circunstância. Os raros bons momentos sobram para coadjuvantes. Dani Calabresa, em uma participação relâmpago, é impagável como um clone de Luciana Gimenez, ao passo que Luis Miranda, como pai de santo, consegue o feito de arrancar risadas.

Humor clichê no filme " Cilada.com"

Em resumo, Cilada.com não é, nem de longe, um bom exemplar do que pode ser feito em termos de cinema de massa. Não dá nem para dizer que é um veículo para o ator / escritor / comediante ou outros atores, mesmo que Mazzeo já seja famoso e tenha obtido boa repercussão com seus trabalhos. É apenas um atestado de que o cinema comercial brasileiro ainda precisa encontrar novos caminhos.

Arthur Souza Lobo Guzzo* é graduado em Comunicação Social pela PUC-Campinas e em Ciências Sociais pela Unicamp

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