Por: Ana Heidorn
Cineclube “Da RUA ao CAIS”
Este filme, escrito por Nelson Rodrigues e adaptado para o cinema na direção de Neville D’Almeida, conta a história de uma família um tanto quanto inusitada, no que tange a estrutura tradicional. Quando Silene, a menina “mais pura” da família, mata uma gata grávida de sete gatinhos, encontramos o momento de ruína autodeclarada da família, sobretudo pelo pai e figura centralizadora da casa, Noronha.
A maneira como o filme parte para sua reviravolta após uma descoberta em relação à Sirlene, transborda efetivamente em todos os cantos do filme – seja pelo vermelho e suas ligações de amor e ódio, além do desejo, seja pela sensação de estar de ponta cabeça a que somos expostos diante do cenário diegeticamente aceitável de uma “rede de prostituição familiar” sufocante e perturbadora.
Ademais, diante desse cenário, as cores exercem fundamental papel na trama na maneira como a qual os desejos são reprimidos, expostos ou extravasados. A exemplo, podemos citar a personagem “Gorda”, que após expor como sentia dor, tristeza e renegação pela falta de sexo com seu marido – expressada pela cor azul em suas vestimentas, demonstrando o melancólico e adormecido –, transita para o sentimento de ódio, repreensão negada e desejo de acordo com o prosseguir do filme – expressado pela cor vermelha
Ao final, percebe-se que o filme retrata a decadência da família tradicional brasileira de maneira irônica, nua e hostil, ressaltando suas incongruências e falsos valores encobertos pelas aparências e falsos discursos. A degradação humana em virtude da aparência dos bons costumes.