Cinema na UFF – 40 Anos

Prof. Antonio Carlos Amancio da Silva: doutor pela USP, pesquisador, professor de argumento e roteiro e de cinema latino americano, roteirista e curta-metragista. Exerce, no momento, a função de vice-coordenador do Curso de Cinema e Audiovisual da UFF.

Prof. Mauro Duque Estrada Moderno: bacharel em turismo e em cinema pela UFF, onde leciona. Técnico de som com participação em longas e curtas-metragens, é, atualmente, o coordenador do Curso de Cinema e Audiovisual da UFF.

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O Curso de Cinema da UFF foi criado em 1968 por Nelson Pereira dos Santos, retornando da frustrada experiência acadêmica na Universidade de Brasília, que teve muitas demissões e vários departamentos fechados pelo autoritarismo da direção. Em Niterói, onde morava, já com boa experiência de magistério, Nelson encontrou abrigo para suas idéias de criação de uma escola nos moldes daquela da Capital, graças à disponibilização de uma sala de exibição do antigo Cassino Icaraí pelo Reitor de então, Manoel Barreto Neto.

Em torno dessa sala se articulou o Setor de Arte Cinematográfica e dali surgiu o Instituto de Arte e Comunicação Social, congregando a comunicação social propriamente dita (com suas habilitações cinema, publicidade e jornalismo) e também biblioteconomia e documentação. Naquele momento só existia a Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, criada em 1966, e assim, pouco a pouco, o ensino de cinema foi se firmando nessas duas escolas.

Embora só em 2008 tenha se transformado oficialmente em curso, com coordenação própria, o processo de distanciamento do currículo da comunicação social e conseqüente autonomia foi gestado no decorrer de quase quarenta anos de existência. Desde 1992, Cinema e Vídeo passou a ser um departamento do Instituto. Com o currículo totalmente reformulado em 2005, foi finalmente criado o Curso de Cinema e Audiovisual em 2007.  Por isto ainda hoje co-existem alunos da habilitação cinema da comunicação social com alunos do recém criado curso. O que mudou de um para outro foi a incorporação da tecnologia digital de forma articulada, a expansão para a pós-graduação, a reformulação das diretrizes e dos modos de operação, procedimentos que foram se dando no decorrer do tempo.

Hoje, consagrado pela tradição e consolidado no meio acadêmico nacional como um de seus mais expressivos pólos de reflexão e produção, o Curso de Cinema e Audiovisual da UFF enfrenta novos desafios, como o de sua mudança para um prédio novo e a implantação da licenciatura em audiovisual, ambas previstas para os próximos anos.

Sua estrutura pedagógica baseia-se numa sólida formação teórica humanística, aliada a uma ampla experimentação artística e profissional. Em conformidade com as diretrizes gerais do MEC para os cursos de graduação são previstas 2760 horas de carga horária total, sendo 30 disciplinas obrigatórias cobrindo 2100 horas e 660 horas de optativas.  Seus parâmetros curriculares são a formação humanística, artística, crítica, técnica, a flexibilização (com a possibilidade de ênfases em áreas ou sub-áreas do conhecimento, através das optativas), o despertar da consciência social e a finalmente a realização, propiciando ao aluno as condições intelectuais, institucionais e materiais para o intenso exercício da produção cinematográfica e audiovisual num ambiente caracterizado pela ampla liberdade de expressão estética e ideológica, de cooperação, de responsabilidade pela qualidade da obra e pelos instrumentos de trabalho e consciência do sentido público e social de sua atividade.

Com relação aos conteúdos, estes são fornecidos pelo curso no tocante aos campos da teoria e história do cinema e do audiovisual, técnica e formação profissional, realização e projeto experimental. As disciplinas restantes são ministradas nas áreas de Artes e Humanidades. O Departamento de Cinema oferece disciplinas optativas para outros departamentos e unidades e tem atraído um número considerável de alunos de outros cursos.

O currículo é estruturado em 8 períodos em seqüência semestral, com as aulas ministradas nos turnos da manhã e da tarde. Para concluir o Curso, é obrigatória a elaboração, pelo aluno, de uma monografia (Projeto Experimental) acerca de um tema de sua escolha, sob orientação de um professor, a ser apresentada perante uma banca. Na habilitação em Cinema é obrigatória, também, a participação do aluno em, pelo menos, um projeto de realização de filme.

Atualmente estão inscritos 289 na habilitação cinema (de comunicação) e 88 habilitação cinema e audiovisual.

O corpo docente do Curso de Cinema e Audiovisual é altamente qualificado, contando hoje com 12 doutores num total de 15 professores. Esta é uma das facetas mais importantes do Curso, pelo seu marcante profissionalismo e pelas ligações que se estreitam cada vez mais com o Programa de Pós Graduação em Comunicação da UFF, mestrado e doutorado, onde se desenvolve a linha de pesquisa Análise da Imagem e do Som, com brilhantes teses e monografias já defendidas na área de estudos cinematográficos.

Quanto aos meios materiais, em que pesa a total inadequação do atual espaço físico para as necessidades de desenvolvimento e ampliação, o curso conta com uma razoável estrutura de funcionamento, que lhe permite acolher os 60 alunos que hoje ingressam na UFF para fazer cinema, em duas entradas semestrais. O horizonte de um novo prédio, no Campus do Gragoatá, possibilita que sonhemos com uma ampliação radical das atividades acadêmicas. O projeto, já aprovado, está em andamento.

Para executar toda esta produção, hoje estabelecida em torno de 70 obras audiovisuais por ano, vídeos e filmes (16 e 35mm), o Curso conta com equipamento variado: 4 câmeras de vídeo ( mini-dv, dv e dvc), 2 câmeras de 16 e 35mm, 3 ilhas de edição, equipamento de som e de luz, etc.

Infelizmente, eles já são insuficientes para dar conta dos trabalhos acadêmicos. A estrutura do Instituto permite que se utilizem seus laboratórios, computadores e material de apoio (projetores multimídia, equipamentos de som ) assim como o suporte de pessoal especializado.

Dois laboratórios estão em funcionamento: o Laboratório de Investigação Audiovisual (LIA), que cuida de geração de material multimídia, das sessões dos cineclubes e do acervo e da pesquisa sobre cinema latino-americano e o Laboratório de Animação, responsável pelo incremento dessa especialidade no Curso.

O curso mantém convênios com cinematecas, laboratórios, prestadores de serviços e agências de fomento, de modo a garantir o máximo de independência criativa a um menor custo, reduzido consideravelmente por esses acordos. Nesse sentido, é fundamental o apoio da Cinemateca do Museu de Arte Moderna, do Centro Técnico Audiovisual, assim como de várias empresas prestadoras de serviço, que ao longo dos anos tem participado ativamente de nossos eventos e produções.

O curso de cinema e audiovisual tem diplomado cerca de 20 alunos por ano, alunos estes que têm se inserido no mercado de forma diversa, consoante a formação profissional escolhida. Assim, temos desde diretores de longa-metragem, numa proporção que aumenta a cada ano (Eduardo Valente, Bruno Vianna, Eduardo Nunes, Gustavo Acioly, Rosane Svartman, etc.), até técnicos premiados (Mauro Pinheiro Junior, Lívia Serpa, etc.), roteiristas (Paulo Halm, Alexandre Plosk, Marcelo Gonçalves, Sergio Goldenberg, etc.), professores, pesquisadores, curadores de mostras nas instituições de cultura, “free-lancers”, diretores de ONG´s, distribuidor (Marcelo Mendes, do Estação Botafogo), curta-metragistas e várias outras atividades no cinema e menos prioritariamente na televisão.

Esta dispersão de ex-alunos pelo mercado é bem a expressão das diretrizes curriculares do Curso de Cinema e Audiovisual na medida em que se abrem múltiplas possibilidades de atuação profissional para o egresso, que se forma com uma informação geral sobre o audiovisual, seus processos de produção, estética, história e técnica, além de desenvolver habilidades específicas.

O Curso de Cinema e Audiovisual da UFF é associado ao FORCINE – Fórum Brasileiro de Ensino de Cinema e Audiovisual, entidade de âmbito nacional que tem levado à frente o desdobramento de bandeiras históricas do ensino de cinema no Brasil. Continua assim, na luta por sua modernização no interior da Universidade Federal Fluminense e pela consolidação do papel das instituições de ensino do audiovisual no cenário da produção de conhecimento do país.

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