*Por Luan Reis
“O cristianismo não prepara o indivíduo para a vida, mas sim para a morte.”
Esta frase dita pelo próprio Maurício Monteiro, ilustra de maneira adequada sua palestra sobre “Música no Cinema – Linguagem: Modalismos, tonalismos e atonalismos”. A questão religiosa foi quem encaminhou Maurício para a música, fazendo das igrejas de Ouro Preto o primeiro cenário de contato do musicólogo com o canto.
No momento seguinte, Monteiro retorna ao tema religioso, lançando sua teoria de que, coincidentemente ou não, é no momento do massacre colonizador (como o mesmo prefere referir à chegada e exploração dos povos ibéricos na América) sofrido pelo continente americano, que o sistema tonal vai se firmar como gramática musical na Europa. E é justamente essa linguagem que será responsável por dominar os nativos americanos.
Maurício segue explicando que a música tonal é reconhecidamente um sistema que se baseia em expectativa, tensividade e solução. Ora, existe meio mais eficiente e sedutor do que a linguagem musical dotada de caráter universal e evanescente que promete solução e prosperidade? Para o palestrante, os ameríndios foram seduzidos pela possibilidade de solução característica dos acordes tonais dos cantos religiosos ensinados e cantados pelos colonizadores. É essa expectativa de paraíso, de morte como solução, que teria feito a colonização do México ao círculo do fogo.
O palestrante explica que há três sistemas musicais: o modal, o tonal e o atonal; o primeiro está à procura da gramática musical, o segundo é a racionalização dessa gramática e o terceiro é responsável por negar a gramática musical tonal.
O cinema entra como meio de comunicação que se beneficia da capacidade musical de provocar sentimentos, de afetar, de sugerir sensasões, etc. Monteiro se contrapõe a ideia de que a música no cinema é apenas um mecanismo responsável por criar clima e, para sustentar sua ideia, o palestrante apresentou o quão importante Lascia Ch’io Pianga de Hengel é importante para criar a sensação de tensão e arrependimento em Anticristo de Lars Von Trier.
Maurício executou a famosa sequência de apresentação do personagem Darth Vader com Crazy de Willie Nelson, ao invés da famosa The Imperial March composta por John Williams, de modo a exemplificar a importância de uma composição na construção de uma cena ou de um personagem.
Outro ponto levantado pelo musicólogo foram as famosas parcerias de cineastas e seus compositores de trilhas, a exemplo de Fellini e Nino Rota, Hitchcock e Bernard Herrmann, Spielberg e John Williams, entre outras saudosas duplas que conseguiram eternizar cenas por saberem utilizar o efeito sonoro correto no momento certo.
Maurício, já no final da palestra, esclarece como se dá a recepção sonora dentro da estrutura auricular e explica que “[…] a música só cria sentido quando deixa de ser música” e passa a ser impulso nervoso dentro do cérebro. Talvez seja esse o porquê de algumas trilhas serem tão memoráveis, elas deixam de serem ondas mecânicas e se transformam no objeto subjetivo de nossas lembranças.
Confira a programação: SeIS.14: O Corpo no Audiovisual
Resumo do Dia:
Mais fotos por Marlonn Albuquerque e Eric Escolastico
*Luan Reis é graduando do curso de Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos e editor na Seção Curtas