Cobertura SeIS.15 – O negro no audiovisual brasileiro, com Renata Martins

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Dando continuidade à programação da Semana de Imagem e Som (SeIS) da UFSCar, na sexta-feira, dia 17 de abril, foi realizada a palestra “O negro no audiovisual brasileiro: desafios e perspectivas”, ministrada pela realizadora de cinema e TV Renata Martins.

Renata Martins é graduada em Cinema e Audiovisual pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada em linguagens da Arte pela USP. Em 2010 dirigiu e roteirizou três curtas metragens entre eles; “Aquém das Nuvens”  que foi exibido em mais de dez países, premiado na Argentina em 2013, melhor curta no festival de cinema da Zona Leste em 2014 e premiado pela Tal TV – Televisão da América Latina em 2014. Roteirizou episódios da série infanto-juvenil Pedro e Bianca da TV Cultura, além de outros trabalhos, atualmente fundou sua própria produtora e está trabalhando com o projeto de uma série inspirada no universo do Rap paulista intitulada “Rua 9”,  que será lançada em breve.

Em um primeiro momento, Renata exibiu seu curta “Aquém das Nuvens”, que mostra a história de um casal de idosos apaixonados e felizes, que vem sua felicidade ameaçada por conta de um mal estar de Geralda que os leva às pressas ao hospital, delicado e sensível o curta demonstra o amor incondicional e a vida idosa a partir da perspectiva negra em uma história inspirada na memória dos pais da diretora.

Após a exibição do curta Renata Martins, que dirigiu e escreveu o roteiro do filme apresentado, conduziu a palestra em forma de um bate-papo com os espectadores presentes, respondendo as questões levantadas e problematizando a atuação de diretores negros no Brasil.  Quando indagada a respeito da temática do curta, que não traz uma discussão política aprofundada a respeito da questão racial, a diretora falou a respeito da sua subjetividade e da representatividade de sua história, já que os protagonistas são um casal negro que vivem uma vida plena e feliz, desconstruindo muitos estereótipos representados na mídia brasileira, que geralmente apresentam o negro como pessoas infelizes e com trajetórias problemáticas.

Ao longo de sua trajetória como cineasta Renata Martins encontrou dificuldades, não apenas pelos problemas comuns encontrados por todos que trabalham com cinema no Brasil, porém mais ainda por ser negra e mulher nesse meio excludente, onde cor da pele e gênero levam às zonas periféricas da produção audiovisual, em sua fala Renata relatou como as dificuldades de financiamento de uma produção e como os editais, direcionam os cineastas negros as questões raciais e que a ausência de um público estabelecido faz com que muitos projetos não saiam do papel. Além do tempo que demora para um curta-metragem seja produzido, por conta da precariedade, que pode levar anos.

Preocupada com o espaço ocupado pelos negros no cinema brasileiro, Renata Martins discutiu o pequeno número de produções conduzidas por cineastas negros e como a própria figura do negro é representada no audiovisual no Brasil, atentando ao fato de que assuntos ligados às questões raciais dão mais ibope quando possuem uma perspectiva negativa. Falou a respeito do lugar comum em que negros são colocados na cultura brasileira, como na música e no futebol, deixando de lado outras formas de arte e a representatividade negra nessas artes. Problematizou a falta de uma figura politizada para representar os negros no Brasil e reivindicar sua importância e seus direitos artísticos.

Boa parte da fala de Renata, contemplou o papel feminino no cinema brasileiro, já que a própria traz consigo as dificuldades de ser uma mulher negra que trabalha com audiovisual, relatou que, na época de sua formação procurou saber a respeito de outras mulheres negras que trabalhavam nesse meio e encontrou poucas referências, quando estendeu as buscas às mulheres em geral não encontrou maior representatividade, por tal motivo, na época em que trabalhou com “Aquém das Nuvens” optou por uma equipe feminina em sua maioria.

Pela sua formação e o deslocamento das condições socialmente impostas Renata Martins afirmou que seu reconhecimento enquanto negra foi ficando cada dia mais reforçado, perante a alteridade e as dificuldades e que isso torna necessário que a questão racial seja amplamente discutida no cinema brasileiro, que mais cineastas negros produzam, que as condições de financiamento sejam melhores e mais viáveis, que mulheres tenham seu espaço e que o problema maior não se trata simplesmente da falta de representatividade negra, mas como o negro é representado através de repetitivos  estereótipos.

 

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