Por Débora Taño e Mário Gonçalves Neto*
Numa cidade do interior de São Paulo (a uns 260 quilômetros da capital) com aproximadamente 14 mil habitantes, ocorreu a segunda edição de um festival cujo principal objetivo é promover o acesso a cultura. Durante os cinco dias do evento, de 20 a 24 de julho de 2011, muitas peças de teatro, shows musicais e mostras de cinema tomaram conta da cidade de São Simão, sendo uma iniciativa sobretudo dos irmão Gullane, sócios da Gullane entretenimento e naturais da cidade.
Infelizmente não pudemos participar dos primeiros quatro dias do festival, nos quais, a cada noite um longa metragem foi exibido e acompanhado de discussão com um representante do filme. Entretanto, só o último foi o suficiente para deixar-nos com vontade de voltar ano que vem!
Cheguamos no final da sessão de curtas de animação voltados para o público infatil, da qual várias crianças sairam com um entusiasmo contagiante. Mais tarde descobrimos que eram, em sua maioria, crianças da periferia e que muitas delas acabavam de ter seu primeiro contato com o cinema.
Foi exibido, no início da sessão um curta metragem produzido em uma oficina oferecida pelo festival, durante a própria semana. Com o curta foi possível ver um pouco do que os jovens que participaram da oficina puderam vivenciar com tal experiência, colocando ali suas próprias idéias sobre o que o vivem, mas agora por meio da lente de uma câmera.
Juntamente com as atrações, ocorreu uma mostra competitiva de curtas metragens do qual presenciamos apenas a premiação. Foi uma cerimônia pequena, a entrega do prêmio (1000 reais para cada categoria) feita sem demora aos realizadores. O premio dado pelo júri ofical foi para o curta Todas as dimensões de Bassano Vaccarini de Hossame Nakamura, enquanto que o juri popular elegeu Caso fechado de Luís D’Mohr como vencedor do festival. E antes da entrega, foi feita ainda uma menção honrosa ao O menino e o livro, fruto da Oficina Itinerante de Vídeo Tela Brasil, em Suzano (SP). Pequenos trechos dos cinco finalistas foram exibidos para dar ao público que não os assistiu a curiosidade de fazê-lo. Entre estes cinco, dois são de Ribeirão Preto. A mostra contou com aproximadamente 150 curtas inscritos de diversos estados e pelos escolhidos, foi possível perceber a preferência por filmes que tivessem um cunho cultural forte.
Trailer de Todas Dimensões de Bassano Vaccarini
Logo após a premiação, Anna Muylaert, que já estava no palco para a entrega do prêmio dado pelo júri oficial, se apresentou brevemente e então começou a projeção de seu último filme Proibido fumar com Paulo Miklos e Glória Pires. Após a exibição começou o debate com a diretora/roterista. Os assuntos mais abordados pela mediadora foram em relação ao processo de criação e desenvolvimento das historias e a produção dos filmes, passando também pelas diferenças que Anna percebe entre as duas funções que geralmente assume em uma produção audiovisual. Por um tempo também, a diretora discorreu sobre suas experiências profissionais tanto no cinema quanto na televisão (ela foi a roterista de Mundo da lua e Castelo Rá-tim-bum). Outro assunto abordado foi os temas recorrentes nos últimos dois filmes de Anna, Proibido Fumar e Durval Discos, com seus personagens fortes e uma grande ligação com a música. A diretora falou ainda sobre seu próximo projeto de longa que está em fase de desenvolvimento.
As perguntas da platéia abrangeram desde questões relativas a possíveis interpretações do filme exibido até a opinião da convidada sobre a distribuição de filmes no Brasil atualmente.
Após a fala de Anna e da discussão sobre seu filme exibido, o prefeito de São Simão subiu ao palco e de forma bem casual agradeu ao público e explicitou sua felicidade em apoiar eventos como este. De forma intimista e calorosa, ele então convidou a todos ao show de encerramento que ocorreu na Praça da Amizade, contando com artistas locais interpretando as músicas que marcaram o cinema brasileiro e composições próprias. Além do convite, foi anunciada a possibilidade de que o festival entre para o calendário oficial da cidade, criando assim mais uma forma de divulgação e acesso ao cinema nacional no interior paulista.
O festival movimentou a cidade de forma positiva e trouxe aos seus moradores novas oportunidades de contato com o cinema, uma vez que as salas mais próximas ficam em Ribeirão Preto. Entretanto, foi possível perceber que mesmo com o empenho da equipe de produção do evento e da ótima programação não se obteve o público esperado. Talvez seja necessário para os próximos anos uma abordagem diferenciada para atrair, sobretudo, crianças e jovens da região, uma vez que parte considerável do público era composta por visitantes e envolvidos com cinema.
Maiores informações sobre a programação podem ser encontradas no site www.festivalcultural.com.