CRÍTICA | Duna 2 (2024), de Denis Villeneuve

Por Arthur Matsubara

A sequência de Duna (2021) finalmente chega ao cinema em março de 2024 depois de ser adiado por conta da greve dos atores, marcando-se como um dos primeiros grandes lançamentos do ano, ganhando uma recepção positiva tanto dos críticos quanto do público. A comparação com o filme de 2021 é inevitável, mas felizmente a continuação não se prende a exposição de conceitos e conflitos do universo do longa, mas mantém o foco em um complexo desenvolvimento de personagens, trabalhando novamente conceitos introduzidos no primeiro filme, ressignificando-os a partir  do desenvolvimento de seus conflitos.

A primeira parte peca ao justamente ter que explicar tantos conceitos da obra de Frank Herbert, mesmo que tais conceitos sejam inevitáveis para o entendimento da trama, o roteiro cansa de explicá-los de forma expositiva, comprometendo muito o ritmo do filme, e mesmo com essa tsunami de informações, ainda faltava uma alma para essa história, que é corrigido na segunda parte ao colocar o fundamentalismo religioso como foco central do filme. Dessa forma, o épico do Villeneuve traz um um contraste muito mais complexo, não só visualmente, com as pessoas na vastidão do deserto, mas também na dinâmica dos personagens, com a busca incessante de poder e o fundamentalismo religioso.

A grandiosidade do filme é muito bem exemplificada pela cena que Paul Atreides, personagem do Timothée Chalamet , monta no verme de areia. Previamente já havia sido comentado sobre o ritual que teria que ser feito, mas o diretor só expõe a grandiosidade de tal momento quando chega a hora de realizá-lo, tanto visualmente quanto de importância para o desenvolvimento do personagem. Essa relação é exposta em diversos pontos chaves do filme, construindo um ritmo muito mais agradável do que o filme de 2021.

A direção de arte é muito cuidadosa e extremamente bem feita, consolidando a identidade visual do primeiro filme e trazendo aspectos novos, principalmente na construção dos simbolismos religiosos. Além disso, a fotografia e o cuidadoso trabalho de som e de trilha sonora corroboram para o imaginário do universo épico e extremamente rico do Villeneuve.

O cast cheio de estrelas também não deixam a desejar, mesmo que o casal do Timothée Chalamet com a Zendaya não tenha muita química, a suas escalações se justificam além de um mero apelo comercial por se tratar de um blockbuster. É interessante pensar como que o diretor, diferentemente da primeira parte, abdica de um certo perfeccionismo técnico em relação a suas marcas autorais em prol não só de fazer o filme mais gostável para o público em geral, mas também para a bolha de cinéfilos, mesmo que ainda seja notório sua marca estética, inserindo, por exemplo, a cena preto e branco que dá um aspecto quase divino ao Austin Butler, lembrando muito a estética do Zack Snyder. Assim, Duna 2 aprende com os deslizes de seu antecessor, desenvolvendo um universo vasto e dando uma alma para com que a história consiga seguir.

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