Irmã Morte (2023), de Paco Plazza

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E se eu não tiver visto? E seu meus olhos me enganaram?

Depois do excelente filme Verônica (2017), Paco Plaza sentia que precisava expandir aquele universo e a personagem mais misteriosa do filme, a Irmã Morte. Uma freira idosa e cega, aparentemente médium, parecia ser a história ideal para uma prequela. Então em 2023, a Netflix lançou o longa “Irmã Morte“, um retorno de Paco Plaza ao universo apresentado ao espectador em 2017. 

Poucos anos depois da Guerra Civil Espanhola ocorrida nos anos 30, uma jovem noviça chamada Narcisa (Aria Bedmar) chega na escola de um antigo convento castigado pelas mazelas da guerra. Sua missão é ensinar meninas a se tornarem freiras, mas mistérios e visões interferem no trabalho e revelam a verdade sobre o que aconteceu no passado do convento. 

Paco Plaza é um excelente diretor de terror, tem REC (2009) em seu currículo e sempre soube contar boas histórias dentro desse gênero sem apostar em jump scares baratos e espíritos caricatos para atrair o público. A figura das freiras tem seu próprio charme em Irmã Morte, pois o terror está no que acontece ao redor das personagens, dentro do drama pessoal de sua protagonista e dos mistérios do lugar. Elementos de drama são bem trabalhados e utilizados para críticas sociais sobre o que é ser mulher e sobre maternidade, que são bem comuns no terror espanhol, como em O Orfanato (2007) e em O Labirinto do Fauno (2006). 

Irmã Morte é um drama histórico que explora as cicatrizes de um país que passou por uma guerra civil. O convento representa a instituição da Igreja Católica que sempre esconde seus esqueletos. As meninas dentro daquele espaço representam as mulheres que vivem sob um código específico de feminilidade, um papel de gênero determinado para um bom casamento ou a servidão à Deus. Com a chegada de Narcisa, entendemos que sua jornada dramática é compreender se as visões que teve quando criança (a abertura do filme) foram reais e dentro do convento ela tem provações. 

Paco filma com delicadeza. O drama histórico demora para se tornar um terror. A presença do espírito se dá apenas a partir de sons e da sua influência em objetos e desenhos. A direção de arte conseguiu transmitir o espírito da época com cenários góticos e o figurino marcante de freiras e noviças. E a trilha musical cria um tom de mistério e agonia a partir das descobertas e momentos de horror. 

Porém, o filme abusa dos sonhos para criar momentos de terror, retirando todo o peso e o senso de perigo em torno das personagens. O espírito que aterroriza o convento machuca e atormenta as crianças e mais tarde revela-se como um espírito vingativo que queria apenas assassinar seus alvos. Logo, a morte de uma criança no filme é injustificada. A presença aleatória de outro espírito maligno, aparentando ser o próprio demônio, que aparece e some do nada, não tem importância dentro da história além do puro susto. Outras mortes e motivações de coadjuvantes parecem acontecer de forma arbitrária e desastrada, retirando o peso e o drama desses momentos. 

Apesar dos pontos fracos, Irmã Morte é um ótimo filme de terror que explora os dramas pessoais das personagens. Causa emoção e horror em seu público. E amplia o universo de Verônica (2017)

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