Crítica | Napoleão (Ridley Scott, 2023)

Com Napoleão, Ridley Scott não acerta. Atirando para todos os lados, o filme se esvazia, impossibilitando que o espectador mergulhe na narrativa.

Por Athos Rubim

Ridley Scott, diretor conhecido por Blade Runner (1982), Alien (1979), Perdido em Marte (2015) e o mais recente Casa Gucci (2021), retorna em 2023, com Napoleão. Filme este, que se propõe a ser um grande épico. Narrando a vida de uma das figuras históricas mais importantes do mundo, o longa ultrapassa a marca das duas horas e meia de duração, iniciando-se com a execução de Maria Antonietta em 1793 e terminando com a morte do personagem título, em 1821.

A obra tem o apoio financeiro da Apple, que vem entrando no mercado audiovisual recentemente, com filmes de grandes proporções, como por exemplo, Os Assassinos da Lua das Flores, de Martin Scorcese, também de 2023 e o próprio filme de Ridley Scott. Dessa forma, a produção tem todos os recursos necessários para atingir suas ambições, porém, infelizmente, é incapaz, pois lhe falta paixão.

Devido à amplitude de tempo da narrativa, o filme depende muito das elipses. Porém, opta por várias elipses curtas, extremamente próximas entre si, ao invés de grandes elipses com intervalos maiores. Essa ferramenta, acaba esvaziando dramaticamente as sequências, impossibilitando a conexão entre o espectador e as ações em cena e fazendo com que o filme pareça uma colcha de retalhos. Apesar de sua longa duração, o filme percorre tão rápido as conquistas militares e políticas de seu protagonista, que algumas das cenas perdem seu propósito. A impressão que resta é de que os realizadores leram uma lista de fatos importantes sobre a vida de Napoleão e decidiram encenar todos, incapazes de escolher retratar os acontecimentos reveladores do viés narrativo que optaram. Neste ínterim, o filme perde seu direcionamento, atirando para todos os lados. É impressionante como, mesmo depois de mais de duas horas e meia, o filme parece não ter dito quase nada. Além disso, vale-se de uma montagem extremamente acelerada, para que fosse possível mostrar tudo. No entanto, sem um norte, a narrativa fica sem vida, e os personagens, ocos.

Paralelamente, o desejo do diretor de chocar, resulta em muitas cenas que abusam do teor gráfico, com uma violência explícita sem propósito. Como é o caso da primeira batalha retratada, o Cerco de Toulon, quando, no filme, o cavalo de Napoleão é atingido por um tiro de canhão, fato inexistente nos documentos históricos.

Nesse sentido, a falta de compromisso histórico da obra é outro ponto que recebeu várias críticas negativas. Neste caso, o destaque é para a dinâmica da relação do Imperador com sua primeira esposa, Josefina. No filme, Napoleão é interpretado por Joaquin Phoenix, enquanto quem dá vida a Josefina é Vanessa Kirby. Essa escolha, inverte a dinâmica da relação entre os dois, pois, historicamente, Josefina era mais velha que Napoleão, mas entre os atores, é clara a relação inversa. Inclusive, um dos conflitos centrais da narrativa, a incapacidade de Josefina de ter filhos, era em decorrência de sua idade, porém, no filme, esse motivo nunca é elaborado.

Em suma, o que falta no filme de Ridley Scott é um direcionamento. É clara a falta de visão do diretor, que esvazia completamente o filme. Sem paixão, até a maior e mais bem orquestrada sequência de batalha, parecerá desinteressante.

★★★

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