Imagens de um projetor e de películas são intercaladas com imagens da tiragem de uma imprensa e folhas impressas, tal montagem paralela aborda o tema que irá se desenvolver no decorrer do filme e, assim como estas imagens, o embate entre a crítica e os que a recebem nos é apresentado por meio de depoimentos que foram coletados pelo diretor no decorrer de 8 anos.
Os depoimentos nos são apresentados em blocos que são expostos por temas, criando desta forma uma linha narrativa para o espectador, que passa a refletir sobre esta profissão tão polêmica no meio audiovisual.
Impossível falar do documentário sem falar da profissão de quem o fez, a metalinguagem não é a única peculiaridade deste filme, a outra é que seu diretor é um crítico e, a partir daí, podemos concluir que o filme reflete sua profissão.
Michael Ciment, crítico da Positif ressalta que “para falar da linguagem visual você usa outro idioma, essa é a grande dificuldade. A outra dificuldade é expressar coisas complexas numa linguagem clara.” A dificuldade encontrada no modo como comunicar a imagem com a escrita é frequentemente encontrada no meio audiovisual, e no filme de Kleber Mendonça temos uma inversão destes papeis, o crítico passa a ser representado através do meio audiovisual, sua principal fonte de “ataques”, e nesta inversão de papéis o diretor soube pontuar os depoimentos e entrevistas de modo a deixar claro os temas abordados, prezando sempre pela fluência entre a transição destas linhas de pensamentos, e desenvolvidos durante o tempo que estamos imersos no seu cinema metalingüístico.
O impacto da crítica nos cineastas também é apresentado ao publico, podendo ser positivo ou negativo dentro da concepção do diretor. Carlos Reichenbach, por exemplo, diz que a crítica muitas vezes passa a esclarecer o filme para o diretor. O papel de interpretação da obra que a crítica pode assumir mostra-nos a sua importância ao revelar aos criadores audiovisuais influências que eles sofrem no decorrer de sua formação que não foram assimiladas conscientemente, mas que estão presentes em suas obras. Interpretar e auxiliar o cinema são pontos de vistas expostos a favor do crítico, pautados no fato de que Godard, Truffaut, Rohmer, teorizarem a nouvelle vague através de críticas antes de fazê-la acontecer, como lembra Curtis Hanson.
Mas não só críticas positivas são feitas aos críticos, Sergio Bianchi acusa os críticos de serem “uma montanha de ressentimento”, já que grande parte dos deles tiveram projetos ou roteiros de filmes que não foram realizados. O distanciamento entre os críticos e as obras que eles analisam também é alvo de questionamento durante o filme.
Eduardo Valente, cineasta e crítico da Cinética, diz que o crítico deve chamar o filme pra dançar, e desta forma estabelecer uma relação de respeito, seja gostando ou não dele. O filme traz a reflexão tanto da necessidade de tolerância na recepção das criticas, quanto ao fato de que elas, positivas ou negativas, serem acima de tudo construtivas, para que, desta forma, o cinema possa evoluir com a boa critica, como ressalta João Moreira Sales.
As imagens inseridas entre os depoimentos e muitas vezes durante eles, entram, dentro do contexto fílmico, para reafirmar ou para ilustrar o que esta sendo narrado. A imagem de um homem saltando de pára-quedas é mostrada junto a frase “Em Cannes duas horas para se escrever sobre um filme”, Aqui temos a imagem e a frase convergindo para a mesma interpretação: a pressão que os críticos sofrem ao terem o pouco espaço de tempo e a excitação do calor do momento para que eles escrevam suas criticas.
Este documentário de Kleber Mendonça, resultado importante da montagem de 8 anos de captação documental, com uma câmera Mini-DV, esclarece dúvidas referentes ao dia-a-dia daqueles que estão envolvidos com o meio audiovisual e, acima de tudo, nos traz importantes reflexões sobre o papel teórico, documental, e cinéfilo do crítico .
Amanda de Castro Melo Souza é graduanda em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos