Curso de Audiovisual da UnB

O curso de Audiovisual na Universidade de Brasília está vinculado à Faculdade de Comunicação e surgiu da junção das extintas habilitações de Rádio e TV e Cinema. Além dessa habilitação, a faculdade oferece Jornalismo e Publicidade.

A UnB foi pensada por Darcy Ribeiro como uma universidade que deveria se estruturar interdisciplinarmente. Ainda que em qualquer Universidade Federal seja possível estudar em outros departamentos, na UnB o currículo e a grade horária são estruturados de forma a incentivar que o aluno transite por outras faculdades, e dão ao aluno uma grande autonomia na sua formação. O estudante de Comunicação tem seu currículo composto por disciplinas dos seguintes tipos: as comuns às três habilitações, as específicas, as optativas e módulo livre, nesse último grupo estão todas as disciplinas que não foram classificadas como diretamente relacionadas a audiovisual.

As matérias específicas de Audiovisual contemplam História do Cinema, Documentário Mundial e Brasileiro, Estética e Linguagem, além das disciplinas técnicas como Som e Fotografia.  Na realidade, quando se fala em Audiovisual na Faculdade de Comunicação de Brasília, fala-se de cinema. Só temos duas matérias relacionadas ao rádio durante o curso inteiro e nenhuma à televisão, a não ser uma eventual matéria optativa. Além disso, o curso tem uma forte inclinação para o documentário devido à formação documentarista dos professores. Se por um lado conseguimos uma excelente abordagem desse viés nas disciplinas técnicas, somos completamente carentes em Direção de Arte e Direção de Atores.

A infraestrutura da Faculdade deixa muito a desejar, as salas de aula não são adequadas para se assistir os filmes, os estúdios na verdade são galpões sem isolamento de luz, nem acústico; as ilhas de edição não são as melhores; os equipamentos são ultrapassados e passam muito tempo quebrados por conta de uma burocracia que dificulta a manutenção. Infelizmente é isso que se espera de uma universidade pública no Brasil, ainda assim, as condições que temos na UnB são melhores do que enfrentada por colegas de outras federais.

Apesar do tom pessimista, acredito que o curso oferece mais que o mínimo para os estudantes e acho que isso não é desperdiçado. A maioria tem sede de fazer, e a faculdade acaba funcionando como uma porta de entrada para o meio dos realizadores. Porém, são poucas as disciplinas que resultam em produto: Oficina Básica de Audiovisual, ofertada no primeiro semestre, é o primeiro contato com a prática; depois temos o Bloco (no quinto e sexto semestre) que é o laboratório de realização e por fim o Projeto experimental, no fim do curso. No ano de Bloco, a ênfase das disciplinas é técnica, e, ao final do segundo semestre, a idéia é que tenhamos um curta finalizado, a partir do roteiro de algum dos alunos. O apoio dado pela UnB para a realização desses curtas está longe de ser satisfatório, desde 2001 o valor destinado ao auxilio era o mesmo, no entanto, em 2003 com o pico do dólar os artigos para fazer cinema dobraram de preço e não tiveram os valores revistos quando o dólar baixou. Esse valor nunca foi reajustado, o que estimulou a utilização de outros suportes que não a película, pois muitos curtas não conseguiram ser finalizados por falta de dinheiro. Sempre buscamos apoio fora da Universidade, treino para os produtores. A maioria dos curtas que entram pros festivais são resultado do Bloco e de Projetos de fim de curso e tem tido boa repercussão – é marcante a presença dos curtas universitários no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro -, inclusive em festivais fora do país. Os alunos encontram bastante espaço para a experimentação. A pesquisa e a extensão da faculdade quase esquecem nossa habilitação. Mas temos no mestrado uma linha de pesquisa de Imagem e Som. Dos projetos independentes, existe um cineclube no espaço do Centro Acadêmico com exibições semanais que surgiu da necessidade dos alunos discutirem o cinema mais livremente sendo pauta constante sua própria realização, além da Empresa Júnior de Audiovisual que está sendo criada.

Os egressos da Universidade não encontram muita área de atuação profissional em Brasília, alguns vão pras TVs, especialmente as institucionais, pouquíssimos ficam pela Academia, o que de alguma forma reflete uma carência na abordagem teórico-crítica do curso, e outros seguem a carreira mais forte em Brasília, a do concurso público, concorrendo às vagas mais diversificadas. Isso não quer dizer que Brasília não tenha uma significativa produção audiovisual e tampouco que a produção seja comparável ao Rio/São Paulo, mas, como em todo o país, depende-se muito do dinheiro público para a realização de filmes. As pequenas produtoras da cidade se ocupam principalmente de publicidade.

Paulo Castro e Lara Ovídio são alunos do quinto semestre do curso.

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Este post tem 2 comentários

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    Daphne

    O seu artigo é muito interessante, é uma das poucas fontes de informaçao sobre este assunto na web. Mas fiquei pensando em outras opçoes… Vocês diriam que a UnB é a melhor universidade no Brasil para estudar o curso de cinema? Uma das melhores? Eu sou peruana e gostaria ter uma idéia mais clara do panorama de formaçao cinematográfica no Brasil. Vi que a UFSC oferece também um curso de cinema, e à diferença da UnB, acho que é muito mais teórico que prático. Bom, espero que possam responder à minha dúvida.
    Obrigada!

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    Felipe Braga

    Caros amigos da UnB

    Estamos lançando agora em setembro, por todo país, o documentário “B1 – Tenorio em Pequim”, que retrata a trajetória do tetracampeão de judo paraolímpico Antonio Tenório da Silva, de sua preparação no Brasil e na França à conquista de sua quarta medalha de ouro, na China. Atleta cego que compete tanto entre deficientes visuais quanto entre judocas regulares, o filme traz numa linguagem cinematográfica envolvente uma história de conquista e superação, de competitividade esportiva e luta contra preconceitos.

    Já tendo sido exibido em importantes festivais como o Festival do Rio, o HotDocs de Toronto, além de outros na América do Norte, África e Ásia, “B1” estreia em salas de cinema ao mesmo tempo em que busca um diálogo com comunidades universitárias, como parte de seu projeto de lançamento, para provocar o tipo de debate que a história do Tenório suscita. O protagonista do filme e a equipe técnica atualmente viajam pelo Brasil realizando cabines de imprensa e um circuito universitário, num tour por capitais iniciado em Curitiba e com conclusão em Fortaleza, passando por Porto Alegre, Rio, São Paulo, Belo Horizonte…

    Aproveitando nossa passagem por Brasília no dia 09 de setembro, gostaríamos de oferecer à UnB uma exibição do filme, um evento gratuito na própria instituição, seguida de um debate com o Tenório e os realizadores da produção. Em anexo segue o cartaz de “B1 – Tenório em Pequim.” O trailer do filme pode ser visto em http://www.b1ofilme.com.br

    Temos pelo Brasil realizado eventos universitários que reúnem os departamentos de comunicação, cinema, ciências sociais e educação física, e ficaríamos muito felizes de poder oferecer à UnB um desses encontros, estimulando a troca de experiências profissionais e o debate. Obrigado a todos, e se possível nos acenem dizendo se há interesse ou não. Muito obrigado, Felipe Braga.

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