Curso de Cinema e Vídeo da FAP/CINETVPR

A CRIAÇÃO

Em 15 de junho de 2005 era criada a CINETVPR, também chamada de Escola Superior Sulamericana de Cinema e Televisão. Uma semana depois, o curso de Bacharelado em Cinema e Vídeo pela FAP (Faculdade de Artes do Paraná) recebia autorização para seu funcionamento através de decreto emitido pelo próprio governo do estado. Não há como dissociar a imagem e o histórico de tal curso dessas duas instituições (FAP e CINETVPR), embora ambas sejam distintas e mantenham funcionamento e normatizações próprias. Para isso, vale ressaltar aqui um breve histórico desse processo de implantação do curso, do qual posso falar com certa propriedade por ser parte da segunda turma a ingressar, no primeiro semestre de 2006.

A princípio, surgiram dúvidas com relação ao curso e a ligação estabelecida entre ele e as duas instituições. Afinal, quem respondia pelo curso de Bacharelado em Cinema e Vídeo? A questão foi sanada aos poucos e é importante pontuar a existência dessas duas instituições e o papel de cada uma delas nessa história: o curso de Cinema e Vídeo pertence à FAP, mas está diretamente ligado à CINETVPR, que por sua vez é parte de um projeto governamental que consiste na criação e na viabilização de um pólo audiovisual dentro do estado do Paraná. Para a criação desse pólo, o projeto trabalha com base em um tripé que apoia-se sobre o curso pertencente à FAP, sobre a própria CINETVPR, cujo intuito é ter infra-estrutura para abrigar produções ligadas ou não ao bacharelado, e por último, sobre o Festival do Paraná de Cinema Brasileiro e Latino, que chega a sua quarta edição em outubro deste ano.

Embora pertencente à FAP, o curso foi por dois anos e meio, co-administrado pela CINETVPR, o que certamente contribuiu para a formação de seu caráter atual. Hoje, administrado pela FAP, mas ainda assim com importante laço com a outra instituição (a maioria das aulas são ministradas na CINETV, além do contato direto entre alunos e funcionários tanto no cotidiano acadêmico, quanto na realização de produções), o curso mantém um caráter heterogêneo, adquirido através das experiências testadas durante esses dois períodos distintos, mantendo aquilo que cada uma das administrações propôs de melhor.

O VESTIBULAR

Posso dizer que para mim, recém-graduado no ensino médio, acostumado a decorar fórmulas de exatas sem saber ao certo como e onde aplicá-las, o vestibular proposto pela FAP era tão curioso quanto bem-vindo: o exame dividido em duas fases, cobrava na primeira etapa conhecimentos de língua portuguesa (gramática e literatura) e estrangeira, atualidades, conhecimentos específicos ao curso prestado e uma redação que, no caso específico daquele concurso abordava um assunto histórico. Na segunda prova, conhecimentos específicos de cinema, desta vez cobrados em questões discursivas, das quais boa parte eram baseadas em seis filmes pedidos pelo edital: Dogville, Ran, Redentor, Contra Todos, Bicho de 7 Cabeças e Cidade dos Sonhos, este último tema da redação aplicada nesta segunda fase.

Se por um lado a simples proposição de um vestibular que exige a “disciplina” cinema de vestibulandos desse mesmo curso já significa um diferencial (e eu particularmente vejo como um avanço diante a tantos outros concursos da área; a USP passa a fazer o mesmo a partir deste ano), por outro, a prova aplicada à minha turma (e à algumas das posteriores) recebeu inúmeras críticas pois contava com sérios problemas de elaboração, como a proposição de questões irrelevantes na produção de um pensamento crítico ou mesmo na cobrança de um conhecimento básico (pendendo muito mais para uma coisa decoreba) e a falta de uma unidade, de uma identidade para a prova. Se tal problema não foi sanado, ao menos está sendo repensado: prova disso é que não só o nível das últimas provas aumentou, como os alunos parecem ingressar mais preparados, com um repertório básico mais relevante para o curso.

DA PARTE TÉCNICA

Localizada no Parque da Ciência e Tecnologia Newton Freire Maia, na cidade de Pinhais (região metropolitana de Curitiba) a sede da CINETVPR, onde são ministradas a maioria das aulas do curso de Cinema e Vídeo, dispõe de cinco salas de aula equipadas com televisor, aparelho data show, DVD, videocassete e home-teather, uma sala de edição com quinze iMacs (o principal software utilizado é o Final Cut), auditório, biblioteca, cantina, e um estúdio voltado para a realização de programas televisivos (o projeto prevê um total de quatro estúdios, dois de cinema e dois de televisão).

Prédio da FAP (Curitiba/PR)

Dentre os equipamentos à disposição das as aulas e produções (e citando apenas alguns) estão um travelling, uma grua, um mini jib, além dos equipamentos para iluminação, captação de som e as próprias câmeras, das quais a mais utilizada é a Z1 da Sony (a relação de equipamentos está disponível no site www.cinetvpr.pr.gov.br).

Para a orientação e supervisão dos alunos no manuseio dos equipamentos, a CINETV disponibiliza profissionais que acompanham as aulas práticas e produções externas. Atualmente existem profissionais responsáveis pelas áreas de som, edição, elétrica, câmera e produção.

DA PARTE PEDAGÓGICA

Embora tenha sido implantado numa faculdade de artes, o curso de Cinema e Vídeo exigiu a criação de um departamento de comunicação dentro da FAP. Não, não se trata de um bacharelado em comunicação com ênfase em cinema, muito pelo contrário, o curso tem desde o primeiro semestre disciplinas voltadas para a reflexão e realização audiovisual. Além das disciplinas obrigatórias, os alunos têm ainda que cumprir uma carga horária de 330 horas de optativas ofertadas semestralmente, além de outras 330 de atividades complementares (oficinas, cursos, disciplinas eletivas) e um estágio supervisionado.

As aulas são ministradas no período vespertino (com exceção de algumas optativas), sendo a maioria delas na sede da CINETVPR (algumas matérias teóricas são ministradas na FAP), onde há uma infraestrutura mais adequada à disposição dos alunos para os exercícios práticos a serem realizados. Há também algo bastante singular a se destacar: o caráter modular das aulas.

Essa característica específica do curso pode parecer pedagogicamente duvidosa pelo fato de acarretar uma carga horária exaustiva de uma mesma disciplina, algo que a princípio pode prejudicar o aluno que por algum motivo excepcional não possa se fazer presente (além do fato óbvio de que uma aula muito extensa tende não ser didaticamente muito indicada). Por outro lado, essa singularidade acarreta num dos maiores diferenciais do curso: a possibilidade de ter profissionais vindos de diversas partes do país e que vivenciam o audiovisual num mercado em amplo território nacional. Essa ideia de colocar os alunos em contato com profissionais e, consequentemente, em experiências além das encontradas no mercado curitibano, se deu já no início do curso com a vinda de professores sugeridos pela CINETV para ocuparem determinadas cadeiras da grade curricular. Vieram assim profissionais reconhecidos nacionalmente como Francisco Ramalho Jr. (que ocupa a cadeira de Produção), Lúcio Kodato e Alziro Barboza (Fotografia), Alfredo Barros (Edição), Lina Chamie (Direção), Luis Carlos Avellar (Cinema Latino), Alessando Larocca (Som), dentre tantos outros de fora, que se somam ao quadro de professores daqui do Paraná, também totalmente inseridos e conhecedores do mercado audiovisual. Assim, se a questão de uma grade horária modular parece a princípio problemática, acaba perdendo força ao dar lugar a um fato mais importante: um corpo docente heterogêneo e ativo no mercado do Cinema e Vídeo, que faz com que o curso tenha aí um grande diferencial. Outra característica importante a se destacar é o fato do curso estando ligado à CINETV preocupar-se também com o ensino da linguagem televisiva, ainda que a cinematográfica seja a primordial.

Inseridos em cada disciplina estão atividades que incentivam o pensamento teórico e prático. Nesse ponto a grade curricular do curso encontra-se bastante equilibrada entre esses dois pólos. Assim, os alunos são colocados diante de matérias como Análise da Linguagem Cinematográfica, Teoria de Cinema e Crítica, extremamente teóricas, como também de outras como Prática em Edição e Montagem, Fotografia, e a própria disciplina de Direção, que mantém um caráter mais híbrido entre teoria e prática. Há, portanto, uma preocupação na não formação de técnicos ou teóricos, mas em profissionais que compreendam e transitem por essas duas vertentes independentemente da área em que estejam trabalhando.

Para a realização dos trabalhos práticos, existe tanto a possibilidade de se desenvolver algo dentro de uma disciplina, como também a opção de enviar projetos para o edital interno do curso, que apoia três produções por semestre. Trabalhos e pesquisas teóricas, por sua vez, encontram dificuldades quando fora das disciplinas, já que, embora a FAP conte com um projeto de iniciação científica há três anos, este é o primeiro ano em que os alunos de cinema têm reais possibilidades de ingressar com um projeto. Isso não significa que não ocorram atividades relacionadas à pesquisa teórica e ao desenvolvimento de um pensamento crítico. São exemplos o grupo de estudos Nuestra Ameryka, dedicado a pesquisa de cinema latino-americano, e a Revista Cena Um, com textos voltados à crítica cinematográfica, elaborada pelos alunos do curso.

Por fim, como algo a se melhorar, aquele que acredito ser um problema comum também a tantos outros cursos: a dificuldade de se encadear disciplinas de forma que elas dialoguem diretamente umas com as outras, algo que certamente seria mais produtivo e auxiliaria na compreensão da produção cinematográfica como um todo. Assim, a grade curricular é problemática não tanto pelas disciplinas elencadas, mas sim pela forma como estão apresentadas: como exemplos, uma disciplina básica como Metodologia da Pesquisa estar inserida no terceiro ano, e não no primeiro como deveria estar, ou a disciplina de Administração Cultural colocada posteriormente a de Produção Cinematográfica, quando a primeira deveria servir como pré-requisito para segunda.

IMPRESSÕES PESSOAIS

Ainda que apresente problemas (e o contato com alunos de outras universidade me faz crer que problemas são comuns em cursos ligados ao audiovisual), acredito que o bacharelado da FAP/CINETVPR apresente diferenciais importantes, como a boa infraestrutura e o respaldo de estar ligado a um projeto governamental, que corroboram para que o curso cresça, algo que se reflete na produção audiovisual numerosa que tem sido feita. Há, porém, um fator importante a se destacar, que interfere diretamente na qualidade do curso: o papel ativo dos alunos ao exporem seus interesses e opiniões, sobretudo no que diz respeito aos professores ligados ao curso. Sem dúvidas, a presença de um corpo docente atuante na área cinematográfica e audiovisual é talvez o maior diferencial apresentado pela FAP/CINETVPR.

Alvaro André Zeni Cruz está no 3º ano do curso.

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Este post tem 2 comentários

  1. Author Image
    André

    Achei muito interessante ler tudo isso. Estou pensando em fazer cinema e todas as informações são relevantes.

  2. Author Image
    Adriele

    O que devo estudar pra prestar cinema na FAP?

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