Dia #2: Mesa “Audiovisual brasileiro contemporâneo”

Por Fernanda Sales Rocha Santos*

A segunda mesa da sétima edição da Semana Universitária do Audiovisual (SUA) foi realizada nessa sexta-feira, 15 de novembro, e teve o intuito de colocar em debate questões relevantes do audiovisual brasileiro contemporâneo. Para tal, foram convocados o professor e pesquisador da UFRJ Denilson Lopes, o realizador de Minas Gerais e autor do livro “Cinema de Garagem”, Dellani Lima e o educador e realizador do Ceará, Alexandre Veras. Como mediador, o docente da Universidade Federal Fluminense, Rafael de Luna, abriu a mesa pontuando que o cinema brasileiro é marcado por diversidade e dualidade (entre cinema comercial e experimental). Desta forma, a mesa se propunha discutir essa variedade, assim como dar visibilidade a novas propostas de realização e circuito audiovisuais.

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A primeira fala foi de Denilson Lopes, que pesquisa a produção audiovisual contemporânea através de jovens realizadores – cujos longas-metragens foram lançados nos últimos cinco anos. Seu objeto de estudo tem recebido diferentes nomenclaturas, como por exemplo “Novíssimo Cinema Brasileiro”, porém, o pesquisador ressaltou que não se apropria de nenhum nome definidor. Seu enfoque visa o estudo dos quesitos estruturais e estéticos de tais filmes, traçando semelhanças e diferenças sobre eles. Primeiramente Lopes abordou a questão do realismo, quesito muito evocado em diversas produções atuais. Quando se fala em realismo, pontuou, se fala da necessidade em se falar do cotidiano e de personagens comuns, além do apelo de diferenciação em relação ao melodrama presente tradicionalmente em nossas tele-novelas, assim como no cinema da retomada. Denilson dá o exemplo do recente filme de Kleber Mendonça Filho, “O Som ao Redor” (2012). Ainda sobre o tópico realismo, o Lopes comentou a tendência de mesclar esse realismo com o cinema de gênero, como por exemplo, o longa “Trabalhar Cansa” (Rojas e Dutra, 2011).

Outro ponto comentado por Denilson, comum em alguns longas recentes, foi a maior visibilidade de localidades e personagens deslocados dos grandes centros, como exemplo, “Histórias Que Só Existem Quando Lembradas” (2011) de Julia Murat e “Sudoeste” (2012) de Eduardo Nunes. Ambos filmes também dialogam com o cinema fantástico, trabalhando com com paisagens poéticas. O olhar queer, com a exploração de uma diversidade sexual através de uma chave política, é outra importante característica do cinema contemporâneo citada nessa primeira fala da mesa. Como exemplo, os filmes “Tatuagem”, lançado comercialmente no dia de hoje, e “Doce Amianto”, (2013) . Amizade e o olhar para fora do Brasil foram outras temáticas que permeiam o a atualidade cinematográfica para Lopes. No fim de sua fala, ele questiona uma possível perda de diálogo entre os longas-metragens e outras artes, como as plásticas, as cênicas e a literatura.

Em seguida foi a vez de Dellani Lima, cuja fala começou ressaltando que não há nada de propriamente novo, ou novíssimo, nos temas e enredos no audiovisual contemporâneo, mas que a verdadeira novidade está no suporte digital, na internet e nos novos modos de produção de imagens e sons. Dellani fez um contraponto com a época em que estudou em um instituto de artes (Dragão do Mar). Na época, qualquer equipamento de cinema era extremamente caro, o que impossibilitava uma produção verdadeiramente independente. Com os computadores, já no final da década de 90, Dellaine inicia inúmeras experiências audiovisuais, principalmente a partir do momento que conseguiu instalar uma das primeiras versões do software premiere no seu computador próprio. Como não tinha nenhum equipamento de captura de video, o jovem realizador saciava sua vontade por fazer arte com imagens e sons através de montagens de fotos. Quando surge a câmera mini-Dv abre-se uma perspectiva completamente nova para Dellaine, que desde então vem realizando poemas audiovisuais e videoarte.

O realizador, fortemente influenciado pela arte conceitual, sublinhou que qualquer experimentação audiovisual deve ser precedida de ideia junto com conceito aplicados ao seu suporte (video, celulares, etc..). Desta forma, Dellani prosseguiu colocando exemplos de grupos e locais nos quais um fazer audiovisual alternativo se destacam. Ainda ressaltou processos alternativos de distribuição, no qual a internet tem papel fundamental, e onde é possível desenvolver um “circuito underground” ou “circuito de afeto”.

A ultima apresentação foi de Alexandre Veras, que mais do que um realizador, se considera um educador, de modo que toda a sua palestra foi vinculada à um olhar para a formação. Para Veras, pensar realização audiovisual significa pensar formação audiovisual. Após esse apontamento, Alexandre começou com uma provocação: Qual seria o nosso intolerável? O que não suportamos? Quais questões e problemas nos incomodam a ponto de através de uma obra, tal um filme, conseguirmos questionar nossa realidade e reinventa-la? Para Veras, se não existe uma perspectiva de combate, dificilmente teremos novas invenções, novas ideias, novos modos de se apropriar do audiovisual. Sem isso, se cai em conformismo improdutivo. Para Veras, o fazer e pensar cinema está vinculado a uma perspectiva sempre política, consciente ou não.Uma importante questão levantada por Veras, foi que além de se pensar na distribuição para garantir acesso, deve se debater e investir na esfera da educação, para se ter uma real transformação no que diz respeito aos circuitos, e ampliação de produção, circulação e exibição de filmes.

Por fim foi realizado um debate com questões bastante pertinentes que envolveram a inserção do estudante universitário de audiovisual nesse contexto, a praxis de uma produção alternativa, os mercados possíveis e a criação de um curso de licenciatura na UFF.

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*Fernanda Sales é graduanda do curso de Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e editora geral da Revista Universitária do Audiovisual (RUA).

 

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