Dia #2: Roda de conversa “Estéticas da produção audiovisual em rede”

Por Lucas Scalon*

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“Estéticas da produção audiovisual em rede” é o nome da rode de conversa entre participantes da 7ª Semana Universitária do Audiovisual, com Fred Benevides e Luiz Garcia. O evento foi marcado para a discussão da produção audiovisual para a internet, principalmente no que tange aos vídeos utilizados como forma de protesto e como forma alternativa à mídia hegemônica, tema que já foi abordado na Revista Universitária do Audiovisual.

No início, foram exibidos dois curtas do coletivo Dziga Vertov, grupo do final dos anos 1960, que tinham uma série de regras a ser seguidas em sua produção audiovisual. Em um deles, via-se o protesto de pessoas na rua, em 1968, na França, e no outro, do cineasta Jean-Luc Godard, a bandeira da França é mostrada com o vermelho escorrendo sobre as outras cores, como se fosse sangue. Na conversa, que teve um tom bastante informal – e, não por isso, deixou de ser séria -, os curtas puderam ser facilmente ligados aos vídeos produzidos pelos populares nas revoltas que tomaram conta do Brasil a partir de junho de 2013, não só visualmente, mas também em seu conteúdo, o que levou à discussão que a coincidência se deve pelo fato de as pessoas estarem em momentos históricos com problematizações semelhantes.

Apesar disso, algumas diferenças foram apontadas. Os curtas do coletivo tinham um ideal claramente e intencionalmente panfletário, em contraste aos de mídias livre que, em sua maioria, estão engajados em mostrar os acontecimentos por dentro, ao invés de deixar a população à deriva da grande mídia alienante. Foi levantando, neste momento, o poder da montagem que, desde Sergei Eiseinstein, é uma forma clara de dar um poder ideológico à imagem. Segundo vários participantes, e inclusive os convidados na roda de conversa, os vídeos dos protestos que sofrem alterações ideológicas, tentando guiar o espectador a um consenso geral, é bastante nocivo à forma como esses jornalistas livres trabalham, já que a ideia é mostrar o que acontece sem a criação de narrativas jornalísticas, heróis, ou qualquer coisa do gênero. Dessa forma, foi colocado, que a imagem um policial agredindo um manifestante sem cortes é muito mais chocante e criador de uma conexão sentimental do que a que é editada e induzida para isso.

Também foi levada em consideração a credibilidade e visibilidade que tem Godard e o coletivo em relação à imprensa alternativa. A questão foi como se ter crédito e se fazer visível. Como foi levantado, um vídeo no Youtube, por exemplo, está perdido em meio a outros vários e, mesmo que interessante a um determinado nicho, pode nunca ser encontrado por ele e ganhar popularidade. No entanto, a ideia é que mesmo com a possibilidade de poucas visualizações, se vislumbre a mudança que ele acarretará em quem assistir ao vídeo postado. E, mesmo que o interesse das pessoas nele seja líquido, havendo a possibilidade de uma rápida viralização e o esquecimento em breve, seu conteúdo poderá ficar na memória social, que poderá ter um uso no futuro. O vídeo do coletivo só se concretizou enquanto ideologia quando seu contexto histórico ficou para trás cronologicamente. O mesmo, então, pode acontecer com os registros das redes de imprensa alternativas atuais.

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O mais interessante da roda foi que não houve uma conclusão, mas uma série de apontamentos para a reflexão do contexto atual da produção audiovisual em rede. O importante é que, como colocado por Djalma Ribeiro para a RUA em julho desse ano, “o vídeo popular não pode cair na armadilha de se rotular como um processo de comunicação alternativa e continuar à margem dentro do sistema hegemônico e homogeneizante de comunicação, mas deve assumir o compromisso de buscar uma alternativa à própria ideia de comunicação, reinventar a ideia de comunicação, somente a partir deste compromisso, assumido pelos coletivos de vídeo populares, poderemos vislumbrar um processo de descolonialidade do imaginário, fortalecendo-se em um sempre constante e crítico diálogo intercultural.”

*Lucas Scalon é graduando no curso de Imagem e Som na Univesidade Federal de São Carlos (UFSCar) e editor responsável pela seção Panorama na Revista Universitária do Audiovisual, para a qual  escreve esporadicamente.

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