Projeto Sal Grosso VIII

água viva

As filmagens da oitava edição do Projeto Sal Grosso aconteceram de 14 a 19 de abril, na pequena cidade de Miguel Pereira, no sul fluminense. Ano passado (2008), o roteiro selecionado pelo júri da oficina para a produção foi o água viva, de Raul Maciel, da Universidade Federal de São Carlos. A UFSCar, portanto, ficou a cargo da equipe de Direção. Aliás, ótima equipe: Giovanna Pezzo, Matheus Cury e Felipe Coripio. As demais funções foram distribuídas pelo júri da Mostra Competitiva Nacional, que escolheu as faculdades que mais se destacaram pelos filmes vistos durante o Festival. A partir disso, as escolas indicaram seus representantes: da USP (Universidade de São Paulo), veio a Equipe de Fotografia: Amanda Amaral, e Câmera: Jorge Maia e Dhyana Mai Mattos; da UFF (Universidade Federal Fluminense), veio a Equipe de Som: Thiago Sobral e Leonardo Bortolin; da FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado), veio a Equipe de Arte: Marcel Badan, Anna Mendonça e Joanna Camargo. Participou também do set Marina Gante (da UFF), que fez Maquiagem, além da Equipe de Produção: Aleques Eiterer, Raquel Rocha, Rafael Amorim, Paula Lousada e Luiz Eduardo Biaso. A Montagem será feita por dois alunos da FAP(Faculdade de Artes do Paraná) (PR) que participaram da Oficina do Sal Grosso no ano passado: Álvaro Cruz e Alexandre Garcia.

Os atores, Mariah Teixeira (que ficou conhecida com o filme Baixio das Bestas), Plínio Soares e Samuel de Assis, foram ótimos. Bom trabalho de todos, que fizeram interpretações maduras e bastante “dentro” do universo de seus personagens.

O Projeto Sal Grosso é uma iniciativa que aproxima estudantes de Cinema de diferentes partes do Brasil, de diversas Universidades. Pessoas que são envolvidas pelo simples desejo de fazer Cinema e que acabam fazendo amigos e aprendendo muito com a experiência que é este encontro. Com certeza, o Água Viva não foi diferente. Já sinto saudades de todos!

A partir de agora o filme entra em processo de montagem e finalização, o que se dá rápido, pois a estréia está marcada para o dia 09 de agosto, na Sessão de Encerramento do 14º FBCU. Nos encontramos lá!

Rafael Amorim

Diretor de Produção

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Quando me chamaram para o Sal Grosso demorei para entender a logística. Não fazia sentido um filme ser feito à longa distância e esse era o meu maior receio em aceitar o convite. O roteiro era um tanto confuso, e poético. Parecia bonito, desafiador. Aceitei. Logo na primeira reunião, o Raul disse duas coisas importantíssimas: “Não imaginei muito para a arte, você está bem livre para criar!” e “Ficaríamos muito felizes se você fizer uma prótese de uma água-viva” – enquanto a Amanda abria um sorriso do tamanho do rosto. Meu mundo nunca mais seria o mesmo.

Jamais me passaria pela cabeça que o Água Viva seria a direção de arte mais prazerosa, delicada e criativa que eu faria. Passar aquela semana em Miguel Pereira com 20 outras pessoas que eu estava começando a conhecer poderia ser maior que o próprio filme; mas a experiência de ambos foi otimista e me orgulho de como lidamos com tudo isso de uma vez.

Também jamais teria me passado pela cabeça que é muito mais preocupante um diretor que te diz não ter visualizado muito para a arte do que um que sabe exatamente o que quer (como em todos os outros projetos me ocorreu). Porém, o quarto da Elisa acabou ficando melhor do que esperávamos, assim como o banheiro e o quintal. Conseguimos casar com o trabalho da foto, não tivemos problemas em relação a isso, a Amanda, como uma boa fotógrafa, é extremamente meticulosa e perfeccionista, o que me tranquilizava grande parte do tempo.

Para a água-viva, contei com a Joe Camargo para desenvolver a prótese. Após uma pesquisa de forma, cor e material, ela realizou alguns testes para chegar no modelo final, que deu super certo nas filmagens. Quase desmaiei quando colocamos a água-viva na piscina e ela boiou, mas nada que mais algum trabalho de arte não a fizesse finalmente dar o mergulho.

Tivemos sorte – toda a equipe trabalhou legal, estavam empenhados, só tenho boas memórias. Trabalhamos muito todos os dias e depois ainda restava um tempinho para jogar mímica antes de dormir. Sobre os atores, a Mariah, o Samuca e o Plínio, também só tenho ótimas lembranças; foram próximos, sinceros, pacientes – amigos.

A equipe só tem do que se orgulhar; ainda não vi o material, mas pelo que dava para ver no set, cada plano era um mais lindo que o outro e acredito ter composto quadros visualmente agradáveis e de acordo com a proposta do roteiro – que não era nada simples.

Foi um desafio atrás do outro, mas os superamos e fomos além. Só tenho a agradecer, principalmente ao Raul, que me escutou desde o início, me apoiou e me dirigiu da melhor forma. Mesmo tendo entregue poucas referências, ele entendeu a intenção da arte, foi extremamente paciente no set, e me ouviu sempre que eu tinha algo a dizer.

Enfim, deixei Miguel Pereira e a Elisa já com saudades, mas extremamente feliz e realizado por mais um ciclo que se encerrava.

Marcel Badan

Direção de Arte

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Acredito que o processo edição/montagem possa se dar de duas formas: como algo puramente mecânico, onde o diretor exerce sua autonomia como “dono” do filme e o editor permanece relegado ao papel de operador da ilha de edição, ou como o terceiro momento criativo que compõe o tripé narrativo de um filme (os outros dois sendo roteiro e direção), em que o(s) montador(s) encontra uma forma para o filme, num processo de experimentação e diálogo constante com o diretor.

No “água viva”, felizmente, se deu esse segundo processo: eu e Alexandre passamos cerca de um mês com o material, montando diferentes cortes, sempre em diálogo com o Raul, que por sua vez, veio à Curitiba para adiantarmos as últimas versões, algo que se revelou essencial para o desenvolvimento do filme. Assim, a relação estabelecida entre montador e diretor foi a de cooperação mútua em prol de soluções criativas que dessem ao filme unidade, ritmo e forma, sem que funções se sobrepusessem ao papel uma da outra. O fato de editarmos em dois também contribui no processo, dando ao “água viva” o dobro de possibilidades e experimentações através de visões distintas sobre o material, que convergiam em tentativas e discussões antes de chegar ao produto final. Essa etapa de reflexão sobre o material sem dúvidas está refletida no filme.

Por fim, falo por mim e pelo Alexandre da importância que o “água viva” representou como aprendizado, não só pelo fato de trabalharmos em película, como também pela oportunidade de nos debruçarmos sobre um projeto que conhecíamos há quase um ano, desde sua seleção no Sal Grosso. Portanto, não exagero em dizer que o “água viva”, para nós, equivale à “conclusão” e aperfeiçoamento da disciplina de Edição e Montagem que tivemos na faculdade.

Álvaro Zeini Cruz

Edição

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No set do água viva pudemos experimentar uma vivência muito específica. Estivemos hospedados na mesma casa que servia como locação. Assim, a convivência aconteceu em tempo integral, o que tornou ainda mais interessante a relação de trabalho entre pessoas que não se conheciam. Todos os dias depois do trabalho aconteceram muitas conversas. Vivemos intensamente. Tínhamos objetivos comuns. Foi uma semana como poucas que se tem na vida. Não bastasse o aprendizado, mas também a oportunidade de fazer amigos, conhecer pessoas únicas e olharmo-nos uns aos outros como referenciais, afinal, ali éramos todos estudantes de cinema. Foi nesse ritmo vivo e gostoso que por uma semana nosso mundo girou em torno daquela casa, daquele projeto.

Apesar desse fator ‘equipe que não se conhece’ inerente ao Sal Grosso, desde o princípio minhas maiores preocupações estavam ligadas às minhas tarefas e responsabilidades enquanto diretor: referências para composição dos quadros, percepção de ritmo e espacialidade das cenas, construção e progressão dramática a partir do roteiro, direção de atores, ambiência e construção da mise-en-scène.

Nesse sentido sempre me questionei sobre como as particularidades do processo de realização influenciam no produto audiovisual. Com o tempo passei a acreditar na idéia de que as relações e situações vividas no set seriam impressas na película e fariam parte do filme como um todo. Também por esse motivo, abordei o trabalho não apenas como uma forma de se chegar um resultado. Procurei criar a ambiência cênica e cuidar do ambiente humano, valorizando as relações de respeito e cooperação no convívio. Nesse sentido tentei não enxergar o set forma utilitária, mas como um acontecimento em sua própria finalidade.

Desde o princípio queria fazer um filme que tivesse frescor. Não no sentido de novidade ou originalidade. Mas na intenção de que toda a ternura, a afetividade, a relação de intimidade e comprometimento pessoal com o tema pudessem ser transmitidas ao produto fílmico na forma de idéias e sensações intensas. Esse frescor também deveria refletir-se na estrutura do filme, que deveria ser aberta a inúmeros significados, porém sem perder o fio narrativo e a impressão de realidade, cuja manutenção era essencial para que as situações e personagens fossem verossímeis e, assim, trouxessem ao filme toda essa variedade de sabores e emoções ao seu universo sensorial.

Assistir ao copião foi um ritual doloroso. Por muito tempo acreditei que a essência do roteiro havia sido perdida na filmagem. Hoje, com o corte final fechado, não vejo as coisas do mesmo modo. Há uma semana, ao reler o roteiro, pude perceber como a essência da narrativa, tal como a havia idealizado, já havia sido perdida no próprio roteiro, que foi modificado drasticamente há menos de 3 semanas antes das filmagens. Assim pude notar que os problemas que demandaram soluções na edição, na verdade, vinham do roteiro. É claro que também ocorreram erros e carências da direção, particularmente problemas de construção dramática interna às cenas, o que traz conseqüências irreparáveis ao ritmo e à curva dramática do filme.

É nessa toada estranha que alterno entre dias nos quais acordo vendo o filme como um monstro e dias em que fico um tanto satisfeito. Mas tudo isso parte de impressões extremamente subjetivas e muito pouco construtivas. Quando me esforço para analisar com frieza vejo pontos positivos e negativos no filme como um todo. Também é importante dizer que o filme a cada dia que passa não é mais o mesmo que foi no dia anterior. Dos sentidos que buscava, vários desviaram-se. Alguns outros, que eram secundários acabaram aflorando. É inevitável notar a importância que o trabalho da arte e da fotografia têm no filme como está hoje.

Aliás, creio que é a estética visual do filme o ponto onde tenhamos sido mais bem sucedidos. Amanda e Marcel captaram os sentidos e as sensações fundamentais do roteiro de forma incrivelmente imediata, podendo acrescentar muito deles próprios na concepção do filme. Assim, puderam acrescentar nuances que muitas vezes não faziam parte do meu léxico cinematográfico ou gosto pessoal; mas que entraram na composição dos elementos fílmicos de forma muito direta e harmônica.

Também sou eternamente grato ao elenco. Pessoas únicas que traziam uma energia fantástica para o set e para as cenas. Creio que conseguimos chegar longe sem ensaios. Nesse sentido uma das minhas maiores frustrações é não ter dedicado mais atenção e tempo aos atores. Durante a preparação para o set meu maior investimento em estudo foi justamente nesse assunto, um conhecimento teórico um tanto idealizado que não pude exercitar plenamente no set e, conseqüentemente, ver refletido em nosso material.

Por fim, tenho que agradecer a todos que colaboraram também na pós-produção do filme. Àqueles que puderam assistir e trouxeram seus comentários sinceros, espontâneos e críticos a este curta que, sinceramente, não sei se um dia foi, mas certamente nunca será ‘um filme de’. Uma semente que cresceu com comentários, sugestões e leituras de várias e várias pessoas. Um roteiro que foi realizado por uma equipe comprometida e aconteceu em meio a uma energia muito intensa e positiva.  Por tudo isso e outras coisas que não tenho a menor dúvida de que ficaram boas lembranças.

A competência, o esforço, as qualidades singulares de cada um que participou e participa desse processo, particularmente, a sinceridade ao se relacionar comigo e com o meu trabalho fez com que eu pudesse aprender muito sobre o trabalho de todas as áreas ao mesmo tempo em que descobria muito sobre mim mesmo. Essa sensação de realização, de satisfação, é apenas um índice da importância que esse projeto teve, tem e terá em minha vida.

Raul Maciel

Roteiro e Direção

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