Entrevista com Leonardo Rossato

Leonardo Barbosa Rossato é graduado em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e atualmente pós-graduando na mesma faculdade. É também Diretor de programação do CineUFSCar.

Léo, você como graduando em Imagem e Som e pós-graduando no mesmo curso, pode nos esclarecer em que sentido a faculdade tem lhe auxiliado na sua inserção como profissional?

O curso obviamente teve importância primordial na minha formação, principalmente no que tange ao largo conhecimento cinematográfico. O que potencializou foi o contato com outras áreas do conhecimento, assim como, com atividades cinematográficas não necessariamente abarcadas pelo curso, como o cineclubismo, no meu caso.

Pode nos destacar, segundo a sua opinião e vivência, quais as facilidades e dificuldades encontradas por um estudante de audiovisual?

As dificuldades são imensas e refletem a própria situação do audiovisual brasileiro, principalmente em relação ao cinema e seus formatos clássicos de exibição. No entanto, vemos que, com as novas tecnologias há todo um espaço audiovisual a ser estudado e a produção e o pensamento a cerca das imagens deve acompanhar. O campo é extremamente vasto e é preciso inserir estes estudantes neste novo contexto.

Quais as especificidades do curso de Imagem e Som você acredita que tenham sido de importância na sua formação? E as negativas da graduação? Neste sentido como se insere São Carlos no auxilio a propostas culturais vinculadas ao audiovisual universitário?

O curso simplesmente estimula as potencialidades que cada um pode criar. No meu caso foi o conhecimento aprimorado sobre as histórias do cinema brasileiro e mundial e uma vontade de conhecimento principalmente do cinema brasileiro. A videoteca, hoje decadente e relegada por professores e alunos, foi importantíssima para minha formação cinematográfica, assim como o contato com outros cursos e professores, que contribuiu para uma formação mais interdisciplinar, o que não é muito estimulado.

Uma das principais negativas foi o que me estimulou a trabalhar com exibição, que é falta de estudos e pesquisa sobre distribuição e exibição. Mas este também é um problema do ensino de audiovisual me todos os lugares.

A função de São Carlos seria, portanto, construir uma alternativa aos grandes centros produtores, disseminando e produzindo conhecimento, criando circuitos e pensamento crítico através de festivais, portal de críticas e debates, cineclubes, etc.

Sobre o cenário cineclubista nacional, quais as expectativas e o atual quadro em relação aos anos anteriores (há um maior interesse pelo segmento? um maior auxílio público ou privado na área?)?

É um momento importante para o cineclubismo brasileiro. Há mais de 300 cineclubes filiados ao Conselho Nacional de Cineclubes e há um grande diálogo com o Ministério da Cultura, através do programa Cine Mais Cultura, com editais para a área. É um início de construção de políticas públicas para cineclubes.

Desde o proliferamento das mídias digitais ficou relativamente simples montar um cineclube. O que é necessário colocar é que antes de tudo, os cineclubes são uma forma de o público se organizar em torno do audiovisual. Cineclubes são públicos organizados.

Hoje em dia há cineclubes de todas as maneiras, desde os poucos que exibem em 35mm quanto as centenas que exibem em DVD nos mais diversos formatos; há cineclubes que exibem em comunidades; com movimentos sociais; que abrangem um gênero, por exemplo cineclubes de filmes de terror; cineclubes de grandes clássicos. Enfim, é o público tomando conta do cinema e exibindo o que quer ver e propondo experiências de fruição.

Qual a sua visão acerca das produção audiovisuais, principalmente cinema, atualmente realizadas no pais? Em que sentido os novos profissionais recém formados tem participado e auxiliado nestas etapas?

Sempre há pessoas das novas gerações nas novas produções cinematográficas; faz parte do ciclo. No entanto, prefiro ver além do cinema, ou a partir dele. A relação com a TV, a internet torna-se mais que imprescindível para a configuração do novo profissional de audiovisual. É necessário conhecer cinema, sua linguagem e sua história, pois é base para qualquer estudo da Imagem. No entanto, a realidade econômica e social dos novos processos audiovisuais e deste estudante nele inserido é variada e abrangente.

Por exemplo, não vejo mais sentido mais em analisar audiovisual puramente do ponto de vista estético, como muitas vezes é feito na universidade. O aspecto econômico, social ou pensamentos relacionados a espectatorialidade audiovisual complementam e expandem a discussão.

Por que da opção de voltar pra universidade, agora como pós-graduando e cineclubista?

A opção foi de juntar o trabalho com a pesquisa.

Estou estudando a distribuidora de filmes do movimento cineclubista, a Dinafilme, que atuou durante os anos 70 e 80. Vejo várias pesquisas apontando para o campo da distribuição e exibição e acho bem interessante. Há o fato também de optar por morar em São Carlos, pelo menos por enquanto, e expandir os trabalhos com cineclubismo na cidade.

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