Curso de Imagem e Som na UFSCar

Objetivo

Tarefa instigante, mas complicada, tratar do curso universitário em que se estuda e expor seu ponto de vista e opiniões, assim, de forma aberta. Diferentemente de nossos professores – ao menos uma boa parte deles – nós, alunos, no dia-a-dia, nos sentimos à vontade para falar o que der na telha sobre o Curso, o que muitas vezes acontece de forma irresponsável.  Ainda assim, tentarei considerar as diversas opiniões de alunos, alternando entre a objetividade e a subjetividade na abordagem, mas sempre mantendo o comprometimento.

Abordagem e comprometimento

Se for traçada a divisão dos elementos que compõem o Curso de Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos partindo de uma perspectiva materialista, este poderia ser toscamente dividido em infra-estrutura, super-estrutura e pessoal. A infra-estrutura seria formada pelos equipamentos audiovisuais, laboratórios entre outros espaços ou ferramentas didáticas. Em super-estrutura estariam inclusas: diretrizes, grade de disciplinas e suas respectivas ementas, assim como regras formais e informais que regem a vida acadêmica. Por fim, em pessoal estaria o corpo docentediscente e funcionários técnico-administrativos, além daqueles que fazem parte de serviços terceirizados de limpeza e segurança que, mesmo não sendo parte institucional do Curso, freqüentam o Departamento.

Foto de satélite do Google Maps

Porém, mesmo que pinçasse e discorresse sobre cada um desses elementos, traçando um mapa, não alcançaria necessariamente uma visão sistêmica do Curso,  também pelo motivo deste ser um objeto complexo de ser analisado. Devemos considerar o princípio de que quem conhece separadamente as partes, não conhece necessariamente o todo. Também deve ser levado em conta o fato de que, com o passar do tempo, aqueles elementos estruturais (infra e super estrutura) transformam-se pela ação e presença humana (pessoal). Por isso, não me proponho a desenhar um mapa detalhado do Curso de Bacharelado em Imagem e Som visto de um ponto de vista distanciado; mas sim fazer uma abordagem pessoal que leve em conta a responsabilidade dos indivíduos, inclusive a minha, no processo de construção de nosso objeto de estudo.

É comum entre nós estudantes falarmos isso ou aquilo sobre ‘a Imagem e Som’, como que sustentando uma personificação aberta do Curso. Aberta justamente por ser uma dessas coisas que se diz em um acordo mundano: quem fala acredita que o outro entendeu exatamente aquilo que havia pensado ao dizer, e quem ouve também acredita ter visualizado aquilo que o outro pensou ao falar, sendo que, na verdade, o termo traz significados, sensações e lembranças diferentes para cada um. No dia-a-dia, quando conversamos ou discutimos sobre o Curso, surgem diversas opiniões, algumas ponderadas, outras extremas, marcadas pelo idealismo ou por uma virulência sem razão.

Por tudo isso, trarei apenas um pouco d o que escutei nesses últimos três anos. Vou buscar o exercício de minha própria percepção e ponderar o máximo possível. Ainda assim acredito que deve haver muito sentido no subtexto das opiniões de cada um que vive ‘a Imagem e Som’. É com essa aproximação pessoal e um tanto ingênua, mas sincera, que pretendo tratar do nosso curso de graduação.

Elogio à diversidade, crítica à ignorância

Quando entramos no Curso parecemos e até podemos acreditar que, de alguma forma, somos todos iguais. Nós rapazes, de cabeças raspadas, dificilmente somos distinguidos, formando uma grande massa de carecas. Porém, o perfil do aluno que Cursa Imagem e Som, além de ser bem variado, tem mudado bastante no decorrer dos anos.

Por isso, partir em busca de uma descrição do Curso que esteja de acordo com a visão de todos alunos seria uma tarefa quixotesca. Entre as características mais marcantes das turmas de Imagem e Som está a variedade e até mesmo a oposição de gostos, interesses e idéias. Por isso seria mais apropriado tratarmos do corpo discente como um conjunto , não como um coletivo ou um grupo de pessoas unidas em conformidade.

Mas isso não representa um problema. Pelo contrário. Talvez o problema esteja justamente nos olhos de quem vê. Não acho que seja algo lamentável o fato de não termos convergência entre os alunos como um todo, pois acredito que a diversidade possa ser nossa maior riqueza. O que pode ser identificado nos diversos projetos e iniciativas que possibilitam a reflexão e a prática do audiovisual, seja por meio da crítica e interpretação, exibição ou produção.

Foto de Juliana Soares

Desde seu lançamento, a Revista Universitária do Audiovisual, que tem servido de forma exemplar à divulgação do pensamento em torno do audiovisual, tem a base de sua equipe composta por estudantes do Curso. O CineUFSCar, um cineclube diferenciado, onde são exibidas obras em 35mm e formatos digitais, foi um projeto desenvolvido por um ex-aluno de Imagem e Som e hoje possibilita o envolvimento de estudantes do Curso na atividade cineclubista com bolsas ou estágio remunerado. Nossos filmes de formatura também são prova irrefutável da multiplicidade que o Curso apresenta. São temas, gêneros, estilo e abordagens variadas em obras que nem sempre se limitam à divisão que comumente é feita entre animaçãoficçãodocumentário.

Enfatizo a importância desse diferencial da Imagem e Som também como forma de impugnar certas atitudes de quem não respeita essa diversidade. Quando a ótica e as intenções do outro são diferentes a tal ponto de se tornarem inacessíveis a alguém, que não se esforça para compreendê-las, mas passa a criticá-las indiscriminadamente, essa pessoa está adotando uma postura arrogante de ignorância. Algo que, lamentavelmente, pode ser visto em nosso curso com certa freqüência.  Nessa conjuntura de indiferença, a impossibilidade de diálogo entre opiniões opostas dissolve discussões que trariam ao Curso um desenvolvimento mais bem fundamentado, com base em conflitos e não em omissões e conseqüentes posições unilaterais.

Conflito de desinteresses

A entrada de professores efetivos nos últimos anos foi fundamental às mudanças administrativas que ocorreram no Curso e no Departamento. A regularização do sistema de uso dos equipamentos contou com o auxílio do funcionário técnico-administrativo Djalma Ribeiro Jr e tem sido fundamental para a preservação dessa estrutura. Também foram tomadas providências enfáticas de segurança que conseguiram resolver, ao menos até o presente momento, o problema dos furtos recorrentes. Outra mudança positiva é a presença cada vez maior do corpo docente no departamento, que tem como conseqüência projetos de extensão e iniciação científica, além da disposição para o acompanhamento das atividades dos alunos. Essas são algumas mudanças fundamentais que devem refletir no desenvolvimento do curso.

Foto de Juliana Soares

Estudantes ingressam e se formam todos os anos, permanecendo na Universidade por cerca de 4 anos. Porém, nesse período, podem desenvolver ou se ligar a algum projeto existente como forma de incrementar sua formação e apoiar ativamente o desenvolvimento do Curso. São vários projetos em que estão envolvidos alunos e ex-alunos e que tem sido importantes meios de divulgação da Imagem e Som.  Dentre estes poderia citar os projetos que se propagam pelo Festival Contato, além de outros nos quais os estudantes são gerentes ativos como, por exemplo, a ArtCom, nossa empresa júnior. Assim como alguns  projetos que ultrapassam os limites do campus e têm colaborado para a construção de um contexto favorável à consolidação da produção, exibição e discussão sobre o audiovisual em São Carlos.

O que pode parecer contraditório é que, apesar de toda essa atividade, uma das reclamações mais comuns entre alunos e professores é o desinteresse em relação ao Curso. Por parte de alguns alunos, existe a queixa de que os professores não estão realmente interessados na Graduação, dando prioridade à pós-graduação, à parte teórica em detrimento da parte prática ou até mesmo a projetos pessoais. Já por parte dos professores podem ocorrer queixas em relação à falta de interesse dos alunos dentro e fora da sala de aula, à pesquisa ou iniciação científica e até mesmo pelo fato de não os procurarem fora da sala de aula em busca de informações, esclarecimentos de dúvidas ou proposição de projetos.

Se por um lado alunos queixam-se de algumas decisões supostamente unilaterais tomadas nas reuniões do conselho do departamento ou da coordenação, por outro lado, há pouco comparecimento de estudantes a essas reuniões, assim como boa parte dos professores também não tem comparecido. Por isso, as queixas recorrentes entre os alunos em relação a medidas tomadas pelos professores são essencialmente contraditórias. Como pode ser notado, geralmente, o aluno da Imagem e Som, ao invés de buscar representatividade no conselho, que é o momento de tomada de decisões, tem preferido a omissão seguida de críticas e reclamações a esmo.

Foto de Juliana Soares
Foto de Juliana Soares

Se quiser alimentar essa controversa, basta perguntar aos próprios alunos o que pensam sobre a relação dos estudantes em geral com o Curso, sobre a atividade do Centro Acadêmico de Imagem e Som – CAIS – ou sobre a empresa júnior – ArtCom Jr. Várias vezes você deve obter críticas negativas e desiludidas a essas perguntas. O que seria o bastante para se compreender que no Curso de Imagem e Som, mesmo em meio à agitação, aos projetos e melhorias, existe uma tendência à crítica infundada que pode atingir indiscriminadamente a tudo e a todos. Além disso, deverá constatar também que justamente as pessoas menos ativas e comprometidas são justamente as que tendem a adotar esse tipo de postura negativa.

Portanto, nesses últimos anos ocorreram melhorias administrativas na Imagem e Som. Projetos surgiram, outros ganharam força e se legitimaram como conseqüência desses esforços conjuntos. Ainda assim, quando menos se espera, o conflito de desinteresses pode ressurgir na ausência física ou no vazio insensato das lamúrias de pessoas que não se comprometem com o Curso.

Muita coisa, pouco espaço

Naquele dia os 38 calouros que ingressaram em 2006 no Curso de Imagem e Som tiveram de se acomodar na sala com capacidade para 20 pessoas, ficando a maior parte deles sentados no chão. O professor José Gatti encarava com revolta, mas também certa ironia, o fato de não estarem no ambiente adequado.

Eram os primeiros momentos de uma época que, na imaginação de alguns de nós, inclusive eu, representaria uma grande mudança em nossas vidas. Olhávamos para aquele professor – e não só para ele, mas para tudo o que cercava o universo da Graduação – com uma expectativa tão grande. Felizmente, ao menos naquele dia, não nos frustramos. Suas primeiras palavras já foram o bastante para que fossemos até as nuvens. E então, quando passou o VHS de Our Hospitality (1923), e falou por alguns minutos, de repente, já havia valido a pena nossos esforços no pré-vestibular. Isso, neste que foi nosso primeiro dia de aula.

Hoje, nós alunos de 2006 podemos contar aos calouros da Imagem e Som o que acontecia freqüentemente naquela época, quando, por descaso da Pró-reitoria de Graduação, as salas equipadas com aparelho de televisão requisitadas com antecedência pelo nosso departamento não eram reservadas para as disciplinas do nosso curso.

Foto de Juliana Soares

Ainda que tenha sido resolvido esse problema em particular, ainda existem carências. Não foram poucas as vezes em que ouvi queixas relacionadas à falta  de meios e oportunidades para que os alunos pudessem expressar tudo aquilo que anseiam. Reclamações que parecem estar implícitas na frase “Muita coisa, pouco espaço”, pichada na parede externa do Departamento de Artes e Comunicação. Frase que relata uma sensação ambígua de claustrofobia. Afinal, estamos sufocados pelo imenso volume de idéias, sensações e sentimentos que queremos expressar, mas sem ter meios para fazê-lo ou atordoados pela intensa vontade de nos expressarmos, mas sem saber bem ao certo como?

Essa sensação de impotência, seja o motivo qual for, deve ser algo comum entre nós. Posso dizer que também passei e passo por isso. Por esse lado pode ser compreensível que nós estudantes tenhamos certas atitudes aparentemente descabidas. Não bastassem nossos problemas e limitações humanas, enquanto discentes, também temos que lidar com os problemas e limitações do Curso.

Por isso, o mais importante é a disposição para o aprendizado.  Como conselho aos alunos que ingressaram ou pretendem a Imagem e Som, eu diria que enfrentem as vicissitudes do Curso como desafios, não como uma obstáculos. Sintam-se estimulados e aproveitem a fundo os benefícios e pendências, pois aqui, quando se aprende, aprende-se em dobro.

Raul Maciel é aluno do sétimo período do curso.

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Este post tem 6 comentários

  1. Author Image
    Jefison

    Onde é o lugar mais próximo para fazer o curso de imagen e som deSão Paulo?

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    Giovani Jorgetto

    Eu queria muito conversar com algum veterano sobre o curso, pois estou no terceiro colegial, sou fanático por cinema, e quero saber se é isso mesmo o que eu quero. Queria saber sobre as matérias, os projetos, etc.

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    helena

    Olá , gostaria de saber se existe anel de formatura para o Curso e Imagem e Som
    e em caso positivo, qual simbolo e onde encontrar.
    obrigada

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    Bianca Pizzolato

    Oi gente,eu queria saber a diferença desse curso com o Jornalismo,eu passei na casper libero e ainda nao decidi se farei Ufscar ou a Casper,se alguem puder me ajuda?
    beijos *-*

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    Bárbara Myla

    olá,gostaria de saber se ao me graduar em imagem e som,posso fazer a pós graduação em jornalismo ?

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