Entrevista com Jeferson De

Jeferson De na exibição do filme Bróder no Cine São Carlos. Foto da Secretaria Municipal de Cultura.

No dia 27 de maio de 2011, o cineasta paulista Jeferson De diretor do longa-metragem Bróder (2010) foi convidado especialmente para integrar a 11º Semana de Imagem e Som (SeIS.11) como convidado. A semana é promovida pelos alunos de graduação do curso de Imagem e Som da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), evento que oferece oficinas, workshops e palestras do universo audiovisual. Jeferson trouxe consigo o próprio filme Bróder e realizou uma exibição no Cine São Carlos na cidade de São Carlos. Após a exibição aconteceu um debate com o público. O diretor concedeu entrevista a Revista RUA falando sobre sua carreira e o filme exibido.

Estela Andrade: Como foi sua iniciação no meio audiovisual?

Jeferson De: Eu fiz o caminho hoje tradicional, que é através de uma escola de cinema – o que não era muito comum antigamente, não tinham escolas de cinema. Eu entrei no curso de cinema da ECA – USP (Escola de Comunicações e Arte), e ali comecei a escrever meus curtas e a inscrevê-los em editais e ganhei alguns prêmios em festivais. Então foi um caminho quase que natural para que eu fosse fazer um longa – metragem, e foi exatamente isso que aconteceu. Uma carreira clássica de diretor: primeiro fazer alguns curtas e depois um longa. Teve também essa coisa da faculdade, de aprender cinema dentro de uma estrutura acadêmica. E também, acho que ao meu favor, teve o fato de eu ter trabalhado em emissoras de TV; trabalhei na MTV por muito tempo, no SBT, na rede Globo com a Regina Casé. Então foi me dando a compreensão de que do outro lado da tela tinha um público ali.

Estela: O Bróder (Jeferson De, 2010) teve sua première na Mostra Panorama do Festival de Berlim. Como foi estrear com seu primeiro longa – metragem em Berlim?

Jeferson: Primeiro é muito excitante. Eu não tinha a mínima ideia do que era um festival internacional. Berlim, ao lado de Cannes e Veneza, é um dos mais importantes festivais da Europa e do mundo. Para mim foi inicialmente assustador, era uma sala de cinema onde cabiam mais de 800 pessoas, pela primeira vez eu ia ver meu filme projetado para o público. Foi emocionante nos primeiros minutos do filme, eu chorei muito; tinha também o fato de eu estar vendo o filme pela primeira vez além de tudo. E aí teve a repercussão daquilo, críticas internacionais, falar para uma plateia que não sabe nem o que é São Paulo, o que é Capão Redondo, o que é a periferia de São Paulo, nunca tinham ouvido falar em português – a língua portuguesa é quase como um código secreto no planeta Terra. Isso foi emocionante, uma sensação de maturidade, senti que eu estava amadurecendo como realizador, estava dando um primeiro passo muito sólido. Muitas coisas que outras pessoas haviam dito sobre o meu projeto eu tive a oportunidade de vivenciar: de o quanto era importante que ele fosse feito, de o quanto ele se comunicava. Foi muito assustador no primeiro momento, mas foi um momento de maturidade pessoal.

Estela: Em meio a muitos filmes que hoje relatam a periferia como Tropa de Elite (José Padilha, 2007) e o Cidade de Deus (Fernando Meirelles, 2002), o Bróder (idem) se diferencia, porque ele conta uma história de amizade que tem como locação a favela. Por que você preferiu abordar esse ponto de vista?

Jeferson: Eu senti falta de chegar mais perto da família. Eu gostei muito de Cidade de Deus , mas eu senti falta de conhecer mais a família do Zé Pequeno, quem era essa pessoa? Porque às vezes pode passar a impressão de que na favela esses meninos negros e violentos nascem assim naturalmente. Você vai na favela, faz um buraco e sai um menino negro e violento dando tiro, e na verdade eles tem uma história. Zé Pequeno tem uma história de vida, tem uma família, tem um pai, uma mãe, um irmão, uma tia. Então no Bróder minha intenção era chegar mais perto do Zé Pequeno, que esse Zé Pequeno não fosse nem negro, fosse branco, por exemplo, como é o Caio Blat. O filme é construído de dentro da favela, embora eu não seja um cara que tenha nascido na favela, que nunca tenha convivido num ambiente de favela, mas um ambiente familiar, isso eu tenho até hoje.

Estela: Eu gostaria que você fizesse um comentário sobre a burocratização do cinema nacional, já que o filme demorou em ser lançado.

Jeferson: Em geral ele demora muito, tentamos agilizar o processo burocrático. No início isso é mais intenso ainda porque você não tem como provar que você vai fazer um longa – metragem e um bom longa – metragem. Então ainda tem muitas coisas que o estreante tem de passar, mesmo fazendo um filme pequeno. Em geral os editais não repassam tudo direto, você tem 300 mil aqui, 400 ali, até você juntar o total que você precisa para filmar demora muito tempo. Espero que essa desburocratização da Ancine ( Agência Nacional do Cinema) facilite as coisas para os estreantes.

*Estela Andrade é graduanda do curso de Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

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