Por Matheus Fragata*
Durante os meses de abril e maio, mais precisamente nos dias 15/04 a 06/05, a cidade de São Paulo foi presenteada com um dos maiores (e melhores) eventos do ramo audiovisual. Trata-se do Vivo Open Air e de sua proposta inovadora. Mas antes de falar da experiência que vivi nos dois dias em que fui convidado a participar, tenho que escrever sobre a história e reputação que ele carrega consigo nos seus dez anos de sucesso.
O Open Air teve sua primeira edição em 2002, um dos anos mais agitados para o nosso país, nos Jockeys de São Paulo e Rio de Janeiro entre os meses de outubro e novembro. O evento já era uma sensação na Europa em 1988 e já estava consolidado em diversos lugares ao redor do mundo. Em 2005, o Open Air chegaria, enfim, a capital brasileira, Brasília. Como sempre, o sucesso foi imediato, não só por causa do principal atrativo do evento, mas pela inteligente programação que sempre busca miscigenar os eternos clássicos do cinema com o que há de mais recente nas telonas.
Além das exibições, o evento mantém uma tradição de oferecer mais do que a oportunidade de assistir a excelentes filmes. Shows de Pepeu Gomes, Nando Reis, Maria Gadu, Nação Zumbi e Wando já marcaram presença no Open Air, garantindo entretenimento musical de qualidade.
Em sua décima edição, o evento retornou mais interessante do que nunca e com uma tela ainda maior. Aliás, essa é principal atração do Vivo Open Air. Desta vez ela veio para o Brasil com 325 metros quadrados de área. Sim, é uma das maiores telas do mundo – só perde para a sua irmã européia de 400m² que já visitou a Suíça e Madri. Além do tamanho inacreditável da tela, o sistema sonoro 8.1 é composto por um jogo de 28 caixas sonoras muito bem organizadas no espaço disponibilizado pelo Jockey Club São Paulo. E o resultado de tudo isto? Confira nos parágrafos abaixo…
Na primeira noite em que fui ao evento, logo notei que a organização e a produção do Open Air haviam realizado um excelente trabalho. Os estandes dos patrocinadores não interferiam na logística espacial do lounge de convivência dedicado para os espectadores aguardarem o início da sessão. Os estandes existentes e a banda que tocava no pequeno palco forneciam uma ótima maneira de se distrair e deixar o tempo passar. O perigo de perder a sessão era nulo, já que, de tempos em tempos, a equipe do Open Air se dispunha em avisar se o início da projeção estava próximo nos orientando para procurarmos os nossos lugares e pegarmos as pipocas gratuitas na entrada. Além disso, perder-se no meio de tantos assentos na arquibancada do Jockey era impossível, pois vários funcionários estavam localizados estrategicamente entre os lugares pares e ímpares dispostos a nos orientar com prontidão.
Neste dia, a pontualidade do evento não foi boa. A projeção começou com atrasos de quinze minutos, mas notei que isso teve uma razão nobre: foi um tempo de tolerância para que os atrasados não perdessem a sessão. Nesse meio tempo, quem já estava aguardando o início do filme, admirava a estonteante vista panorâmica da Marginal Pinheiros acompanhada de seu típico tráfego ligeiro em uma gélida e charmosa noite paulistana.
Com todos acomodados em seus devidos lugares, foi iniciado um espetáculo de iluminação enquanto a gigantesca estrutura de setenta toneladas se erguia graças aos esforços do potente sistema hidráulico. Para acompanhar o movimento monumental, um mash-up de temas musicais inesquecíveis de clássicos do cinema invadia o espaço conferindo uma atmosfera única. Além disso, terminar esse breve espetáculo com um fragmento do tema de “Contatos Imediatos de Terceiro Grau” foi uma das brilhantes sacadas da organização do evento. Pude observar que diversas pessoas estavam olhando para o céu caçando, inutilmente, OVNIs com os olhos assim que a música terminou – só encontramos helicópteros e aviões nesse breve momento de reflexão.
Após propagandas e trailers, o filme, enfim, começou – nesse dia fui ver as duas partes de “Harry Potter e as Relíquias da Morte” e logo nos primeiros segundos, a potência do sistema sonoro me surpreendeu. Foi o melhor jogo sonoro que já tinha ouvido em um filme. Era alto, claro, bem distribuído e confortável e com os efeitos sonoros soberbos do longa metragem, ficou espetacular. A projeção, por sua vez, foi igualmente sublime. Toda a vasta área da telona foi coberta pelas imagens gigantescas de resolução perfeita. Vale notificar que este será o último ano que os filmes serão exibidos em cópias de 35mm. A partir do ano que vem, tudo será exibido no formato digital. Entretanto, apesar da magnitude publicitária da tela, notei que ela parecia diminuir de tamanho nos assentos laterais, apesar de saber que isso é impossível. Entretanto, a ilusão desta redução era bem expressiva, logo quem assistia ao filme nas laterais da arquibancada ficava desfavorecido e não experimentava o efeito em sua totalidade. Sei disso, pois no segundo dia que fui, tive a sorte de sentar bem no centro da arquibancada e senti uma tremenda diferença em comparação ao dia anterior no qual estava sentado mais na lateral esquerda.
Na minha segunda visita, não tinham muitas novidades no local , mas a programação do dia era uma das melhores do evento: pré-estreia de “Carnage” de Roman Polanski, exibição do excelente curta “O Céu no Andar de Baixo” e no fim, uma das festas mais badaladas da noite paulistana – a “Festa Sem-Loção”. Novamente, a vista, as caixas de som e a projeção foram espetaculares – somente nos dez minutos finais, a película apresentou problemas de desgaste. Após a exibição, fomos encaminhados para o lounge do evento que ocorreu a festa da noite, com músicas excelentes.
Entretanto, nem tudo foi um paraíso no Vivo Open Air. Entrevistei algumas pessoas que estavam no evento e elas me disseram o que mais as desagradaram. A maioria relatou que o preço dos produtos disponibilizados pela lanchonete local era demasiadamente caro, além da pouca variedade que o estabelecimento oferecia. Outro aspecto que desagradou foi o tamanho das filas para conseguir comprar uns lanchinhos no único estande existente. Os banheiros também pareciam ser insuficientes em relação à quantidade de pessoas, assim como o espaço do lounge onde ocorreu a Festa Sem Loção.
Também senti que era razoavelmente difícil se concentrar no filme quando sentado na lateral da arquibancada, já que a todo o momento surgia um avião, helicóptero, buzinas oriundas do trânsito estressado, lanternas da equipe do Jockey, além de pessoas mal-intencionadas que miravam lasers no anteparo. Porém, o maior perigo que pode causar uma tremenda insatisfação do público é o clima da capital paulista. Como se trata de um evento a céu aberto, a platéia estava sujeita a temperaturas congelantes caso não estivesse bem agasalhada. E na pior das hipóteses, a sessão poderia ser cancelada caso chovesse ou ventasse muito. (Alprazolam)
Entretanto, apesar desses problemas, a maioria absoluta do pessoal presente confirmou que estava adorando o evento e que estavam ansiosos para um possível retorno na próxima edição do Open Air. Aliás, não se esqueçam que ainda este ano, o Vivo Open Air chegará ao Rio de Janeiro.
O evento me apresentou uma experiência cinematográfica que nunca tinha vivenciado antes. Sua proposta me cativou, não só pelo tamanho da tela e da qualidade do som, mas também pelo seu formato eclético e inteligente. Principalmente pela exibição dos curtas-metragens nacionais antes do filme destaque da programação. E, creio eu, que seria uma excelente idéia se os cinemas comerciais repetissem o conceito. Logo, a maioria da população conheceria o que está sendo produzido com orçamentos menores aqui no nosso país, visto que esses filmes dificilmente ganham visibilidade comercial. Poderia ser uma ótima alternativa para que o público conheça as próximas promessas do cinema nacional.
Até a próxima cobertura!
* Matheus Fragata é graduando do curso de Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e Editor Responsável pela Cobertura da Revista RUA. É editor do site Plano Crítico – http://www.planocritico.com/