Uma experiência em 4D

* Por Matheus Fragata

Na cidade de São Paulo, há pouco tempo foi inaugurado o primeiro cinema 4D do Brasil no shopping JK Iguatemi. A rede de exibição Cinépolis foi pioneira ao trazer a tecnologia ao país e, por meio deste texto, lhes agradeço pela iniciativa – isso ajudará a acelerar uma resposta das empresas concorrentes difundindo a tecnologia país afora.

Você, caro leitor, já deve ter participado de sessões no formato 4D em algum momento de sua vida. Seja em estabelecimentos perdidos em corredores de shoppings ou em parques de diversões. O conceito é familiar e muitos de nós já o imaginamos.

Trata-se de exibições cinematográficas em 3D sincronizadas com movimentos mecânicos das poltronas em conjunto de alguns outros efeitos especiais tais como espirros d’água, ventos, aromas, etc. Sendo assim, a empresa coreana que fornece o 4DX, sistema utilizado pela Cinépolis, sai na frente na corrida tecnológica ultrapassando sua concorrente D-Box, pioneira ao criar os movimentos mecânicos para as exibições desde 2009 com a estreia de “Velozes e Furiosos”.

Enfim, com muita curiosidade, fui conferir como era a experiência de assistir a um longa metragem nesse formato inovador. A tecnologia e a exclusividade de serviço foram alguns fatores para a Cinépolis deixar o preço do ingresso nas alturas. Uma entrada inteira custa “apenas” R$ 68,00. Já a meia tem o preço elevado de R$ 34,00 (maior que o preço integral do ingresso da sala IMAX do mesmo cinema).

Depois de assassinar minha carteira, fui à sala 4DX toda ornamentada com luzes elegantes em sua porta de entrada. Chegando lá, logo notei a diferença arquitetônica daquele tipo inédito de cinema. A estrutura da sala é inteiramente reforçada para aguentar os trancos das pesadas cadeiras. No teto, existem vigas de metal que sustentam aparatos similares a ventiladores e alguns pequenos holofotes para os efeitos de vento e luzes, respectivamente. Entretanto, o principal destaque do cinema são as confortáveis poltronas motorizadas sendo que cada uma dispõem de dispositivos que simulam jatos d’água, aromas, trepidações, pequenos disparos de vento e claro, a movimentação do assento.

Após alguns minutos de espera escutando um comunicado de segurança que se repetia infinitamente, a projeção subitamente começa. O público já ficava na expectativa das cadeiras se mexerem no meio dos trailers, mas isso não aconteceu. Claro que as risadas dominaram a sala nesse meio tempo. Finalmente, a projeção de “A Era do Gelo 4” começou e logo no primeiro segundo as cadeiras começaram a se movimentar num embalo suave acompanhando os movimentos de câmera do filme. E claro que a plateia não se conteve. Sussurros e gritinhos de surpresa misturada com uma felicidade besta e contagiante dominaram os primeiros minutos da projeção. De forma alguma essa reação da plateia chega a incomodar o espectador já que se trata de uma experiência nova.

O filme em si, parece ter sido feito especialmente para o formato. Os efeitos especiais gerados pelos equipamentos das salas praticamente não cessam durante a sessão. Várias vezes recebi espirros d’água no rosto quando os personagens caíam no oceano ou quando uma onda colossal ameaçava destruir um iceberg – a quantidade de água não chega a molhar muito o espectador ou os óculos 3D não prejudicando a experiência.

Em meio a uma tempestade, efeitos de luzes são gerados simulando relâmpagos. A ventania também é presente assim como os solavancos das cadeiras. Em outro momento, recebemos uma pancada nas costas quando um personagem se esborracha no chão. Além deste recurso, outro truque é utilizado para simular impactos só que este não é tão inteligente quanto o primeiro. Diversas vezes, os personagens levam pancadas ou desviam de objetos – é o filme mais agitado de toda a série. Nessas horas, um sopro forte e alto é liberado atrás da cabeça do espectador. Particularmente, achei o efeito incômodo por ser usado constantemente no meio da projeção. Como o barulho daquela simulação é consideravelmente alto, tive a impressão de ele tirar o espectador do filme, o que acaba indo totalmente contra o propósito do formato que tenta proporcionar a imersão total do público no entretenimento.

Entretanto, os efeitos nunca deixam de surpreender. Outro momento, em outra pancada, o espectador sente jatos de ar passando entre as pernas. Depois, quando uma nuvem de poeira se aproxima dos personagens, uma leve fumaça é liberada na frente da tela. O cinema também é capaz de reproduzir aromas, mas acredito que este efeito não estava programado na cartela de “A Era do Gelo 4”.

No término da sessão, o público saiu das cadeiras um tanto desorientados. Alguns, geralmente os mais velhos, estavam cansados com tantas trepidações das poltronas. Já as crianças queriam mais uma rodada. Eu também me sentia um pouco cansado. Achei a experiência bem divertida, apesar daqueles sopros ensurdecedores no meio da projeção. Entretanto, não creio que, neste momento inicial da tecnologia, seja um item obrigatório para o espectador. É válido, sim, que se visite o cinema ao menos uma vez para conhecer a nova tecnologia, mas assistir a todos os filmes que saiam nesse formato vai exigir, e muito, da carteira do espectador. Além disso, a tecnologia ainda tem de ser aprimorada ou melhor desenhada para as projeções. Em diversos momentos, o filme trazia oportunidades para simular efeitos interessantes, mas nada acontecia.

O próximo lançamento em 4D será a nova animação da Pixar – “Valente”. A Cinépolis já lançou mais um complexo acompanhado de uma sala 4DX em Salvador. Agora, ficamos no aguardo para observar se essa nova tecnologia irá prevalecer assim como o 3D de James Cameron. Em síntese: uma tecnologia promissora e divertida, mas mal aproveitada nesse caso.

Até a próxima cobertura!


* Matheus Fragata é graduando do curso de Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e Editor Responsável pela Cobertura da Revista RUA. É editor do site Plano Crítico – http://www.planocritico.com/

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