Oficina de Circuit Bending


Cobertura em vídeo da oficina de Circuit Bending pela RUA

A prática do circuit bending foi iniciada na década de 60 pelo americano Reed Ghazala, na época um garoto de apenas quinze anos de idade que por não poder comprar um sintetizador (em função de seu custo) passou a buscar novos efeitos sonoros através da adaptação de mecanismos elétricos que estavam ao seu alcance. O que poderia soar como mera distração de um jovem aparentemente desocupado veio a se tornar uma atividade bastante difundida pelo mundo, com a ampliação de sua influência no segmento musical ano após ano.

A técnica consiste basicamente na modificação de dispositivos eletrônicos (tais como brinquedos usados ou outros aparelhos) visando à criação de instrumentos musicais com uma sonoridade única, adaptados com uma série de novos recursos (componentes e botões) responsáveis por esta nova sonoridade. A experimentação é um dos processos mais pertinentes durante o processo de síntese destes materiais, fator que possibilita uma melhor absorção das capacidades de reprodução deste dispositivo eletrônico modificado. Interessante também pontuar que são muitas as variáveis que definem o som destes instrumentos, mesmo a bateria, influenciando de acordo com sua carga, fator que pode levar a uma infinidade de possibilidades para cada dispositivo eletrônico alterado.

A reutilização de materiais velhos ou descartados é outra prática abraçada pelo circuit bending cuja finalidade é bastante interessante, principalmente tratando-se de uma reciclagem das funcionalidades deste material (mais interessante ainda se pensarmos em uma reutilização artística). O músico Pan&tone, que lida com circuit bending desde 1989 e que já fez várias apresentações pelo Brasil, é um destes experimentadores a utilizar “sucata” como instrumento de sua arte, tendo sido ele o escolhido para ministrar uma oficina sobre o assunto durante o 2º Festival Contato.

A oficina lecionada não limitou-se unicamente à transmissão de conceitos relativos ao circuit bending. A proposta apresentada foi a experimentação desta técnica pelos alunos, através da interação destes com os materiais utilizados por Pan&tone em suas apresentações. Trata-se mais de uma difusão da prática, um mecanismo de incentivo a sua utilização. A idéia é que a partir deste aprendizado mais pessoas passem a se envolver com a atividade, havendo, portanto, mais trabalhos no segmento, mais experimentações, discussões e uma maior repercussão desta iniciativa no cenário audiovisual. Pan&tone traz assim com sua arte a importância da colaboração e da coletividade no desenvolvimento do circuit bending, valoriza também o que viria a ser chamado por ele mesmo de “hardware livre” através experimentação de diversos dispositivos eletrônicos presentes no mercado.

Trazendo estes pontos em discussão, nada mais justo do que a presença de Pan&tone neste 2º Contato (que participou ainda através de uma apresentação ao vivo durante os shows do festival). A recombinação, o coletivismo, a experimentação e o produto de trabalho livre são propostas que se encaixam perfeitamente com a temática levantada para esta segunda edição do maior festival multimídia do interior do Brasil. A presença cada vez mais marcante também do circuit bending no processo de composição musical é outro fator a somar a necessidade de discutir-se esta prática cada vez mais difundida e valorizada.

Pedro Marcondes é graduando em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

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