Editorial Junho de 2013

A integração. Muito se tem falado sobre a interatividade do contemporâneo. Teriam as redes sociais papel fundamental nesse contexto de compartilhamento de opiniões em tempo real.  Estamos, mesmo aqui, estabelecendo uma relação entre o periódico online e seus leitores internautas. Às vezes, a tal integração tem também outros significados menos “modernos”. O próprio produto audiovisual, o próprio filme, estabelece uma relação complexa, de troca, com seu espectador. O espectador e o filme, o filme e a crítica, a crítica e o leitor, o realizador e o mundo.

O realizador e o mundo. Tem o filme dialogado com seu contexto social e histórico? Restrinjo um pouco mais a pergunta, me direcionando ao cinema nacional e, ainda mais in loco, ao cinema universitário nacional, aquele que seria o início de parte de um cenário futuro. Sendo assim, estaria o cinema universitário brasileiro se relacionando com o contexto nacional?

O cinema universitário. Quem é o estudante de audiovisual de hoje, que conhece, com invejável destreza, diversas especificações equipamentárias, nomes, números e preços? Aquele estudante que posa, orgulhoso, ao lado de câmeras e microfones, está inserido em qual classe social e convive com qual realidade? É com facilidade que podemos responder que esse estudante, majoritariamente, não difere muito do contexto nacional da universidade pública elitizada. É nessa mesma fatia que encontramos a juventude despolitizada da classe média carente de material ideológico para “chamar de seu”. O que podemos observar é o fenômeno do querer incessante de gravar, mas da falta latente do que dizer. O resultado é um audiovisual fadado a si mesmo, que quer ser assistido, mas não tem por quem ser identificado. Se não falamos de contextualização social, podemos falar de proposta estética. A aridez é, se não a mesma, muito semelhante.

Não se trata aqui de menosprezar a importância da técnica, mas de afirmar sua incompletude quando fadada a si mesma. Uma fotografia deve ser muito mais do que bela, conceito tão subjetivo e fluido.  Uma fotografia deve carregar, mais do que inúmeros fresnéis e refletores, uma proposta consistente, crítica e reflexiva. E nossas grades de ensino na universidade não podem ser meramente tecnicistas, exclusivamente cinematográficas, mas amplas e impulsionadoras do pensamento crítico.

A RUA decidiu reformular-se, pensando em questões como essa. Não podemos e não queremos ser apenas um espaço para a desova de artigos e textos cheios de especificidades. Queremos instigar, impulsionar e incentivar aquilo que acreditamos, o pensamento audiovisual crítico, engajado e reflexivo. Assim, nos dispomos como um espaço para discussões acerca de uma linguagem cinematográfica universitária que volte a dizer algo, que deixe de ser apenas um postulado de regras e métodos. Acreditamos que o estudante de audiovisual e a juventude possam sair da bolha da cultura imperialista e colonizadora, e voltar a lutar experimentalmente, sem receios, pelos seus sonhos.

Jéssica Agostinho
Editora Geral

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