O Festival É Tudo Verdade completou em 2010 seu 15ª aniversário. Desta vez apenas as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro tiveram a oportunidade de sediar o mais importante festival de documentário do Brasil. Brasília, Porto Alegre e Recife tiveram uma mostra itinerante uma semana depois, onde foi exibido “Terra Deu, Terra Come” de Rodrigo Siqueira, premiado como o Melhor Documentário Brasileiro de Longa Metragem.
O trabalho realizado pelos organizadores é coeso e fica evidente até para mim que freqüento há apenas cinco anos o festival (desde 2006, sempre em São Paulo). O festival proporciona uma oportunidade única para estudantes de cinema, cinéfilos, professores, realizadores e até para o público em geral, que cresce a cada edição. Um evento gratuito e com vários locais de exibição: Cinemateca, Espaço Unibanco de Cinema, Reserva Cultural, Centro Cultural Banco do Brasil, Cinemark Eldorado e Cinusp Paulo Emilio.
Salas quase sempre cheias, às vezes lotadas como na sessão de “Segredos da Tribo” de José Padilha ou do já citado “Terra Deu, Terra Come”. O inchaço do número de filmes positivo a meu ver, também foi outro motivo pelo qual não consegui assistir tudo o que gostaria. Por isso, a descrição do festival que aqui faço é apenas do que assisti e vi. (ver também artigo sobre a 10° Conferencia de Documentário)
O primeiro documentário que assisti esse ano foi talvez o mais emocionante. “Quando o Dragão Engoliu o Sol” (EUA – 2009) de Dirk Simon integrava-se na mostra “O Estado das Coisas”. O documentário dialoga com o vencedor do festival do ultimo ano, novamente exibido em 2010, “VJs de Mianmar”. No entanto o documentário tem como tema os conflitos no Tibete que luta há 59 anos por sua emancipação da China. O palco central são as olimpíadas de Pequim, quando os exilados políticos tentam chamar a atenção dos líderes mundiais para o massacre cultural e humano que ocorre no Tibete. Durante a passagem da tocha, milhares de protestantes pedem, em diversos países, o boicote as olimpíadas. Paralelamente a isso, o documentário penetra o interior da comunidade tibetana no exílio.
O documentário mostra as divisões nas lideranças tibetanas e o conflito entre a velha e a nova geração, que tentam chegar a um consenso sobre os rumos que as manifestações devem tomar: Liberdade ou acordo de equilíbrio entre chineses e tibetanos. Ambos esforços, do 14º Dalai Lama e dos manifestantes exilados, parecem em vão diante do poderio militar e econômico do gigante chinês. Nessa sensação de impotência de alguns, é questionada a própria validade da resistência pacifica empregada pelo povo tibetano, evidenciando um desgaste psicológico naquele povo pacifista. Oprimido, acuado, sem perspectivas e perdendo forças, vemos um povo tentando apegar-se a sua cultura, enquanto a China a ferro e fogo tenta aculturar um país de tradições milenares e únicas.
“Quando o Dragão Engoliu o Sol” aborda varias questões contemporâneas e faz um paralelo com os regimes autoritários anteriores. Na cena final, vemos imagens da glamorosa abertura das olimpíadas de 2008: coreografistas, malabaristas, artistas, atletas. Milhões deles participam da recepção chinesa. É a derrota da causa tibetana aos aplausos do mundo. O sincronismo, a quantidade de pessoas, a inteligência, determinação e poderio chinês em sua própria casa. Temos então um depoimento de um jovem tibetano que lembra dos jogos olímpicos de 1936 na Alemanha. Hitler e o nazismo mostravam sua força para três ano depois empenhar um genocídio em massa e uma Guerra Mundial. As imagens saem então do centro do evento e vemos planos de fora do “Ninho de Pássaro”. Começa então a espantosa queima de fogos que dão inicio aos jogos. O depoimento vai sendo calado pela trilha sonora. Os fogos tomam Pequim por todos os lados, todas as cores e tamanhos: parece uma blitz alemã. “Abram os olhos, porque dessa vez a vitima de holocausto podem ser os tibetanos” o mundo é alertado pelo jovem. O choque das imagens e da analogia histórica é marcante e apavorante, intensificada pela trilha sonora.
Depois dessa bomba crítica, os organizadores do festival parecem ter estrategicamente colocado um filme mais light, mas não menos deprimente. A sessão que se seguiu na cinemateca foi “O povo contra George Lucas” de Alexandre O Phillipe (EUA – 2009), também integrante da mostra “O Estado das Coisas”. O documentário mostra o quanto o povo americano se importa com causas como a do Tibete. A discussão gira em torno do amor e ódio dos fãs em relação ao cineasta criador da trilogia de Star Wars (1977). Tudo porque George Lucas decide, em 1997, modificar os filmes originais, acrescentando efeitos especiais e terminando o que considerava um rascunho de sua idéia original. Além disso, faz mais três filmes, que se encaixam como episódios anteriores a trilogia mais antiga. Pra que!? O cineasta, de mago e deus, é rebaixado a bruxo que “estuprou a minha infância” (dizem vários entrevistados, dentre eles profissionais da área cinematográfica americana).
O documentário faz um balanço do fenômeno de comunicação, passando pela loucura dos doentes colecionadores aos remakes realizados pelos próprios fãs. George Lucas inclusive patrocina esse tipo de iniciativa, distribuindo prêmios as melhores versões. O documentarista conta que conseguiu remontar um dos filmes completamente, somente utilizando seqüências feitas por fãs, seja em vídeo ou animação. Essa questão autoral também permeia o documentário, pois afinal, Lucas continua sendo ou não o dono de suas obras? O povo acha que não, que é um patrimônio público, ou seja, é cultura. É a cultura americana, que evidencia o consumismo, o exagero e a individualidade como base. George Lucas estuprou tudo isso e evidenciou ao mundo, ficando bilionário as custas do imaginário de fanáticos doentes como a mulher que perdeu marido e filhos porque preferia comprar bonequinhos do Star Wars. Indiretamente o documentário evidencia a questão da identidade americana através de sua maior expressão cultural que é a própria indústria cultural. A tradição e o novo estão em conflito constante, com o novo sempre em vantagem: uma contradição em um povo tão conservador quando se trata de história.
Outro filme que coloca a cultura e a arte em discussão é “O deserto da Arte Proibida” de Amanda Pope e Tchavdar Georgiev (Usbequistão, Rússia e EUA – 2009). O documentário relata a inspirada e rígida jornada de Igor Savitsky que, durante o regime soviético, coleta obras de artes de artistas independentes que eram perseguidos pelo Estado comunista. Utilizando a própria verba estatal, ele reúne mais de 40.000 peças de artistas proibidos e monta um museu no longínquo e isolado deserto do Uzbequistão. Longe dos olhos de oficiais da KGB ele agrupa obras da vanguarda russa e descobre uma desconhecida escola de artistas que realizaram uma original fusão entre o modernismo europeu e a tradição secular islâmica.
No entanto, ironicamente, o futuro dessa coleção está ameaçada com a queda do regime soviético, pois não recebe mais investimentos do governo russo com a fragmentação do leste europeu. A disputa pelas obras vai desde fundamentalistas islâmicos à negociadores de arte que visitam o museu para levar as obras. Com a morte de seu fundador, a curadora do museu se esforça para manter a conservação das pinturas (http://www.savitskycollection.org/)
O documentário relata a obsessão de Savitsky em seu trabalho de reconstituição da cultura e história esquecida e proibida. Empregava sua busca heróica mesmo ameaçando sua vida, desafiando Stalin e o ideal soviético.
Em “Brudus” de Julia Bacha (EUA, Palestina e Israel – 2009), o ato heróico parte não de um individuo, mas de um coletivo organizado e pacifico. A comunidade palestina de Brudus se reúne para protestar contra a construção do muro, pelos israelenses, que separará Israel e a Cisjordânia. A divisão, no entanto, invadiria para muito além da fronteira legal, além de destruir oliveiras histórica e economicamente importantes ao vilarejo. O movimento pacífico liderado por Ayed Morrar logo ganha espaço na mídia internacional em 2003 e isso trás força e crédito aos moradores. Recebem apoio de facções palestinas rivais e até mesmo de judeus progressistas. O movimento também conta com o apoio maciço de mulheres que enfrentam corpo a corpo ao exercito israelense, que responde algumas vezes com dialogo e outras com força desnecessária.
O cenário explosivo de ódios mútuos históricos, encontra no pacifismo a única maneira de dialogar e evitar assim perdas humanas. A guerra se faz no plano das ideias, e a mídia tem papel moderador importante ao evitar maiores repressões. As manifestações duram meses e retardam a construção do muro. O documentário relata todo o desenvolvimento da crise, conversando com os próprios israelenses personagens do evento. Diferentemente das manifestações pacificas do Tibete contra a ocupação chinesa, os palestinos tem sua causa atendida e a muralha é desviada para outro percurso mais próximo a divisa legal. Talvez por isso, a abordagem do documentário também seja distinta do primeiro descrito. Em “Quando o Dragão Engoliu o Sol” o tom dos tibetanos é muito mais de vitima enquanto no segundo podemos perceber uma construção mais heróica, baseada na repetição e na determinação.
Essa determinação também está presente nos pacientes de “Químio” de Pawel Lozinski (Polônia – 2009) que lutam por suas vidas na batalha contra o câncer. O documentário trás as diferentes perspectivas, sonhos, anseios e preocupações dos pacientes. Jovens e adultos e idosos, cada um conta sua vida e projeta como será quando a doença passar. Essa idéia do futuro interrompido pela possível morte atordoa a relação familiar e até mesmo o relacionamento do paciente com a própria vida. As pessoas estão todas juntas no grande quarto recebendo seu tratamento e conversam entre si para passar o tempo. Não existem perguntas e respostas, e o papel do diretor é de intervir o mínimo possível (na montagem ele não aparece em nenhum momento). A equipe se utiliza do cinema direto para deixar os diálogos fluírem entre os personagens.
Os planos são fechados em zoom, o que demonstra um certo distanciamento da câmera nas conversas. É evidente que os pacientes conversam por causa da câmera, mas essa interação forçada causa um contato maior entre aquelas pessoas que sofrem a mesma angustia. Temos também a presença de alguns familiares, que acompanham as sessões de quimioterapia. Vemos que em alguns casos a relação é conturbada, como no caso do pai que constrange o filho com seu pessimismo, ou em outro caso o filho que pede uma cara guitarra ao pai que diz que a situação financeira não é das melhores (ao que o filho responde que se não estivesse doente poderia trabalhar para comprar). Em outros casos, vemos pacientes de auto-estima apoiando e auxiliando os de humor mais sensível. Esses diálogos paralelos sempre acontecem com o “vizinho de cama” e por isso existem muitos núcleos que são alterados durante o documentário.
A questão da morte está em quase todas as falas. Todos os pacientes querem a vida, sonham sobre ela, ou seja, temem a morte. O otimismo de algumas palavras é contraditório ao próprio humor. O tratamento é longo e cansativo, e a espera angustiante. Os pacientes se seguram nas estatísticas e na esperança. Para alguns, a iminência da morte os traz mais perto da vida.
Essa relação direta entre a vida e a morte é o cotidiano muito peculiar de uma cidade no Egito retratada no documentário “A cidade dos Mortos” de Sergio Trefaut (Portugal – 2009). O cemitério de El Arafa, no Cairo é considerado a maior necrópole do mundo. Em torno das tumbas e mausoléus onde jazem os mortos habitam cerca de um milhão de habitantes vivos. Mercados, casas, apartamentos, carros, padarias, escolas infantis, oficinas mecânicas, teatro móvel, vendedor ambulante de doces. Tudo existe na chamada “Cidade dos Mortos”. A comunidade convive mutuamente com os enterros diários e as casas construídas se confundem com os mausoléus. Em alguns casos não existe essa diferenciação: as pessoas moram dentro dos mausoléus, alugados pelos familiares dos mortos. A inflação do local é grande aponta uma moradora que diz que primeiro pagava cerca de U$ 1,00 por aluguel e agora já havia mausoléus que chegavam a custar U$ 53,00 por mês.
Crianças nascem aonde muitas são enterradas diariamente. Muitas demoram a entender o que é um cemitério, e para elas não há nada de bizarro nessa situação por já nascerem, brincarem e crescerem ali. O fato inusitado é tido com muita naturalidade naquela comunidade. A falta de melhores oportunidades levou aquela gente se estabelecer ali, e o vai e vêem dessas pessoas de baixa renda é uma constante. No entanto, algumas pessoas não sonham em morar em outro lugar. A religião está muito presente entre os moradores que aparentam encarar a morte com tamanha naturalidade que espanta: a proximidade física com a morte, diferentemente da proximidade psicológica dos pacientes de “Quimio”, faz com que os moradores de El Arafa aceitem a morte como um ciclo natural e inevitável.
O Festival É Tudo Verdade trouxe esse ano uma homenagem a Alain Cavalier em sua retrospectiva internacional. O diretor frânces que não pode estar presente no evento mandou uma vídeo-carta que muito tem a ver com sua obra intimista. No vídeo ele explica que não viaja mais de avião porque tem muito medo e passa mal.
(http://www.etudoverdade.com.br/2010/busca/index.asp?lng=&mos_id=11)
Cavalier não se considera documentarista, se denominando um filmador (“filmeur”, aquele que filma). O diretor “nos apresenta personagens maiores que a vida encontradas em seu cotidiano”[1]. É o caso da série “Retratos” exibida no festival. A série consiste em curtas que contam a historia de mulheres que tem ocupações ordinárias: “A Fazedora de Colchoes”; “A Senhora – Lavabo”; “A Maitre-Verrier”; “A Romancista”; “A Optometrista”; Em todas as historias o filmador se coloca com muita humildade entre essas mulheres e consegue extrair uma conversa vaga, vazia, mas ao mesmo tempo densa e complexa. A aparente falta de perguntas é proposital e ele não tenta provar ou enquadrar aquelas pessoas em uma condição social, mas extrapolar a simplicidade a tal ponto de tornar-la mágica. Sua força está justamente nos tempos vazios em que a fala inútil ocupa o espaço da ação. Representa em seus vídeos a vida e o presente. Não existe nada de fascinante nas falas ou no trabalho daquelas mulheres, o fascínio está nelas existirem.
Da mesma forma o diretor trabalha em seu auto-retrato “O Homem Cinema”. Filma seu cotidiano e expõe sua vida particular, seus problemas, suas dificuldades de relacionamento com a esposa ou até seu problema com um possível tumor no nariz que o obriga a uma cirurgia que o deforma. Sua própria vida se deforma ao longo do filme: ele muda de casa, viaja, inaugura um filme, passa por dificuldades financeiras. Uma vida normal como de qualquer outra pessoa relatada em 97 minutos.
Outro filme interessante e contemporâneo que explora essa mesma perspectiva intimista foi o documentário do chileno Cristian Leighton “Kawase-San” (Chile – 2009, ler mais no artigo sobre a 10° Conferencia). Leighton faz um paralelo entre sua vida e a da cineasta japonesa Naomi Kawase (conhecida por seus filmes intimistas e extremamente pessoais). Utilizando imagens de arquivo dos filmes de Kawase, o documentarista chileno conta a sua história através do relato da avó que está a beira da morte, aos 99 anos. Apesar de debilitada, a senhora ainda é muito lúcida, conversando com o neto coisas cotidianas ou até fatos marcantes como a historia de como seu filho (pai de Cristian) havia se queimado por um suposto acidente de avião. Essa busca pela historia do pai é incessante pelo fato do isolamento do pai em relação a família (não quer conhecer os filhos de Cristian).
A cineasta japonesa também relata em seus filmes sua relação conturbada com sua avó, e seu pai que a abandonara ainda pequena. “Kawase-San” é extremamente pessoal e com cenas muito particulares, mas apresenta significantes que vão além da historia dos dois cineastas.
O ultimo documentário que tive oportunidade de assistir foi também o que eu mais me identifiquei. “No meio do Rio, Entre as Arvores” (Brasil – 2009) de Jorge Bodanzky (diretor de “Uma Iracema – Transa Amazônica”, 1976). O documentário é o resultado de uma expedição ao Alto Solimões, na Amazônia, que ministrou oficinas de vídeo, fotografia e circo a diversas comunidades ribeirinhas. Fazendo suas próprias imagens e escolhendo seus próprios temas, os moradores tem a oportunidade de desenvolvem seu olhar sobre sua própria vida.
http://www.tvnavegar.com.br/video/?idv=116&cat=1
Bodanzky define assim seu trabalho: “A Amazônia é sempre vista de fora para dentro, isto é, do ponto de vista de quem visita. Qualquer viajante que chega à região se sente autorizado a explicar ou interpretar essa realidade tão complexa. A idéia do filme surgiu da necessidade de inverter esse olhar, dando voz as populações ribeirinhas. Percorremos áreas de preservação no estado do Amazonas, criando condições para que a população local se manifestasse. No filme, vê-se quão articuladas e conscientes são as pessoas que ali vivem. Elas conhecem muito bem a realidade que as circunda e sabem o que é preciso fazer na luta pela manutenção da floresta e dos rios.”[2]
Na apresentação da sessão, o documentarista ainda disse que mesmo visitando varias vezes a Amazônia, ficava fascinado com aquele ambiente e suas filmagem sempre eram envoltas na impressão do primeiro olhar. A Amazônia parece surpreender e guardar segredos até mesmo as pessoas habituadas aquele local, como é o caso do diretor ou dos próprios ribeirinhos.
O documentário apresenta imagens maravilhosas do povo e do ambiente. O trabalho da equipe é intercalado as gravações da comunidade. A distinção se dá pela diferenciação da definição da imagem. Mas o olhar de fascínio é o mesmo em ambas partes: do lado do documentarista em ver aquele povo se expressando, buscando o melhor enquadramento, o melhor ângulo, dirigindo os outros moradores para que falem ou façam o que eles anseiam registrar, seu olhar compenetrado no visor LCD… do outro lado a população ribeirinha que grava, registra, explora seu mundo com um olhar nunca antes visto, o olhar 2d que re-enquadra seu próprio mundo, desvendando detalhes nunca vistos ou valorizando suas atividades como ninguém nunca fez. Essa apropriação da câmera é muito valorizada no documentário que diversas vezes mostra a própria ação de gravar por parte dos ribeirinhos.
O documentário é emocionante e não é apenas plástico. Ele traz assuntos recorrentes e da voz aquelas comunidades que protestam silenciosamente contra as desigualdades de direito e o desrespeito a floresta. “A gente não pode usar rede fininha senão pesca peixe pequeno, ai vem a fiscalização, né? Porque pra gente tem fiscalização, pra quem tem dinheiro não” diz um ribeirinho em um tom ingênuo mas crítico. Outro aponta que pescadores vem de longe e entram em áreas proibidas pelo IBAMA. Em outro momento, um senhor de idade diz que não tem nada pra falar sobre seu oficio, porque ele quer reclamar que ali não tem saúde. “Não é só com os votos do sul que se ganha eleição, aqui as pessoas votam também”. Outra preocupação é a questão da educação. Muitos jovens saem da comunidade para estudar em Manaus e acabam ficando por lá, ocorrendo um esvaziamento das aldeias.
Muitas questões importantes são colocadas pelos próprios moradores. O documentário tem uma sensibilidade incrível em não deixar o trabalho virar um cunho político de protesto, mas representa uma vontade de voz incrível que precisava se expressar, e tem nesse documentário construído por eles o começo do espaço que lhes é devido.
Um encerramento incrível para a minha experiência no festival desse ano de 2010. Muitas referencias, muitas idéias a serem postas em prática. Assistir a todos esses filmes é sentir a pulsação do planeta. Ver conflitos e se sentir angustiado, ver resoluções e tomar como lição. É enxergar o mundo através desses outros olhos, descobrir o impensável e olhar para dentro de si depois que tudo isso acaba. Fico feliz em poder compartilhar isso com vocês.
Agradecimentos: Marco Antonio e Waldete Silva.
Felipe Carrelli (felipecarrelli@gmail.com) é graduando do curso de Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
[1] Amir Labaki em sua introdução sobre o diretor no catalogo do festival.
[2] Catálogo do Festival É Tudo Verdade 2010, pg 84.
Pingback: 16º Festival É Tudo Verdade 2011 – Oficina de Web Doc e 11ª Conferência Internacional do Documentário « Revista Universitária do Audiovisual