Por Larissa Cardoso*
Não é fácil ser você mesmo hoje em dia…
“Fazer as coisas ´ficarem mais próximas` é uma preocupação tão apaixonada das massas modernas como sua tendência a superar o caráter único de todos os fatos atrás da sua reprodutibilidade (…)”.
Walter Benjamin.
(Donald Rice/Inglaterra/ 2007/Fic/19’/Cor/35mm)
Por onde passa pelo mundo o curta I am Bob (2007) arranca risadas e aplausos, sendo um dos mais cotados da atualidade nos mais importantes Festivais.
Mas antes de falarmos mais a fundo do filme, vamos à historinha. No meio do caminho para uma campanha de combate à fome, o rockstar Bob Geldof acaba sendo abandonado pelo chofer num motel de beira de estrada no meio do nada. Ao procurar a ajuda de pessoas do local, se depara com a descrença de que ele seja ele mesmo, o rockstar -daí o nome I am Bob. Então ele descobre que o local está sediando um encontro de sósias, a oportunidade perfeita de levar o prêmio e sair daquele fim de mundo; sendo ele o original era certo que venceria o concurso. Porém, ele se depara com o seu sósia. Na disputa, o verdadeiro Bob acaba perdendo nas perguntas e o sósia recebe o prêmio em dinheiro, lindas garotas e uma carona na limousine do próprio Bob. Ele mesmo acaba preso por ter causado confusão.
Certamente a força do filme está no carisma (ou na personalidade antipática/apática, se me permitem) de nada mais nada menos que Bob Geldof. Para aqueles que como eu assistiram ao curta e se encantaram com o personagem sem conhecer o rockstar irlandês, eis aí a prova do carisma do filme. Sendo ele mesmo, nos solidarizamos e rimos das bizarrices que lhe acontecem. Mas como o cinema contemporâneo (longas e curtas-metragens) está vivendo uma fase de filmes em que os personagens são postos à prova em situações dramáticas extremas, o desafio do cineasta será maior ao tentar passar comicidade nessas situações. Isso o diretor Donald Rice faz muito bem, e talvez aí resida mais um dos temperos do curta.
Sobre a cópia de Bob, seu sósia, gostaria de refletir sobre o trecho da epígrafe, retirado de “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”. Creio que tal conceito de perda de autenticidade de Benjamin, hoje pode ser estendido desde a pirataria até o surgimento dos sósias, que são praticamente um movimento consolidado em nossa cultura contemporânea. Lembre-se, como disse Benjamin, a cópia surge da necessidade de possuirmos o objeto desejado mais próximo. E, nesse caso, tão próximo, que duas identidades fundem-se numa só pessoa.
O sósia ter ganhado o concurso me intrigou tanto, que tentei entender o porquê dele ter superado o Bob original. Algum engraçadinho pode responder: “por que ele era um sósia melhor!”. Fiquei me perguntando em que sociedade vivemos, em quais valores estamos pautados. Cheguei a pensar que valorizam mais o que aparentamos ser ou o que dizemos ser do que realmente o que somos. Já que parecer com um artista, imitando-o, é nesses concursos ser idolatrado como um, chego à conclusão de que estamos numa sociedade de aparências. Estaríamos tão cegos a ponto de negligenciar a personalidade, ou a persona em si?
Moral da história: não é fácil ser você mesmo, muito menos para um rockstar.
Prêmios que ganhou mundo afora: Melhor comédia, LA Shorts Fest, Los Angeles, 2007 / Prêmio Fernand Raynaud da melhor comédia, Festival de Court-Métrage, Clermont-Ferrand, 2008 / Prêmio do público, Milan Film Festival, Milão, 2007.
Links
Festival Internacional de Curtas http://www.kinoforum.org.br/curtas/2008/detalhe.php?c=15064&idioma=1
IMDB http://www.imdb.com/title/tt1063331/
Notícia http://movies.nytimes.com/movie/394039/I-Am-Bob/overview
Vídeo http://blip.tv/file/447435
Crédito de imagem
http://media.tribecacinemas.com/images/film15366-4324.jpg
http://imagecache2.allposters.com/images/pic/RSPOD/RS462~Bob-Geldof-Rolling-Stone-no-462-December-1985-Posters.jpg
http://www.vnn.vn/dataimages/original/images469779_BobGeldof2.jpg
*Larissa Cardoso é graduanda em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).