Ilha do Medo (Martin Scorsese, 2010)

Ter o deleite de ir ao cinema e assistir a um filme de um grande diretor vivo é uma experiência única, principalmente com o crescente número de diretores emergentes limitados e a falência das poucas lendas vivas da sétima arte. O nova-iorquino Martin Scorsese ainda está na ativa, e é uma das principais colaborações ao cinema mantendo sua regularidade de bons filmes

Cartaz Americano do Filme "Ilha do Medo"
Ilha do Medo conta a história de Teddy Daniels (Leonardo DiCaprio), um detetive da polícia americana, e seu novo parceiro, Chuck Aule (Mark Ruffalo), que investigam o sumiço de uma paciente – Rachel Solando (Emily Mortimer) – de um manicômio/presídio de alta periculosidade, numa ilha isolada, a Shutter Island Ashecliffe Hospital, nos anos 50. Lá, Daniels começa a suspeitar que os médicos utilizem métodos desumanos com os pacientes, e a equipe do hospital resiste em colaborar na investigação do paradeiro de Rachel. Soma-se a isso uma forte tempestade que impede a entrada e a saída da ilha e, também, qualquer tipo de comunicação. O resultado final é uma bela sinopse, instigadora, assustadora e que dá vontade de pagar (a fortuna que é) uma entrada de cinema .

Muitos podem dizer “já vi isto” ou ainda classificar como clichê, exemplificando na frase do capitão do barco que transporta os detetives até a ilha: “o cais é o único jeito de entrar e sair da ilha”. O roteiro de Laeta Kalogridis (baseado no livro Paciente 67, de Dennis Lehane, 2003) é uma base para Scorsese homenagear todo o gênero suspense/horror. Lehane já confessou à mídia que sua ideia era homenagear dos filmes B aos góticos. Trovoadas, estátuas de faunos, ilhas assustadoras, manicômios com perturbados e potenciais assassinos, sumiço de pessoas, sonhos irreais… Tudo está lá, num mix, uma verdadeira salada de frutas, que tinha tudo para dar errado. Tinha. A diferença é a “mão” de quem agarrou este roteiro. E essa “mão” é diferenciada, pertence a um gênio vivo , afinal, Scorsese já havia flertado com o suspense e o horror, como em Cabo do Medo (1991), Vivendo no Limite (1993) e num episódio na série Amazing Stories (1986), por exemplo. Sua preferência sempre fora o drama e suas desmembrações, que representa boa parte da sua obra, e grande parte das suas obras-primas.

Cena do Filme "Ilha do Medo"

Com seus chicotes rápidos (movimento de câmera em que ela rapidamente faz uma panorâmica), as belas cenas nos sonhos psicodélicos (delírios ou pesadelos?) de Teddy, e com a traumatizante experiência na Segunda Guerra Mundial e de sua falecida esposa Dolores Chanal (Michelle Williams), que faleceu num incêndio, Scorsese se impõe a um diretor de suspense/horror ordinário, muito comumente ofertado nas salas multiplex de shopping.

O filme se diferencia também pela constante trilha sonora pesada. No longo trecho que vai do início da projeção até começar um diálogo com o policial responsável pela ilha, uma inquietante música é executada, num volume acima do normal, gerada pela mixagem, propositalmente, em timbres altos que nos fazem suspeitar da pessoa na cadeira mais próxima na sala de cinema. Quebras de continuidade e cortes rápidos na montagem, que podem parecer descontinuidade a olhos inexperientes, são na verdade mais uma marca registrada de Scorsese, que todos acabam absorvendo conforme o filme se desenvolve. É a famosa fragmentação, que com essas quebras, dão a sensação de desordem que vai fazendo sentido conforme o mistério é revelado, juntando as peças soltadas caoticamente até um surpreendente fim.

A direção de atores, outra marca forte de Scorsese, segue visível. Ele extraiu o máximo possível de DiCaprio e Ruffalo, que, reconhecidamente, não são atores geniais (como Robert DeNiro, o qual o diretor costuma trabalhar), nem os coadjuvantes, como Ben Kingsley. Talvez, no elenco, a atriz Michelle Williams se destaque. O elenco é simples (não financeiramente, mas sim em potencial artístico), mas funcional para o roteiro.

Cena do Filme "Ilha do Medo"

Há um certo ponto no filme que tudo se mistura. O que é realidade? O que não é? Quem está mentindo? Onde está e quem é Rachel Solando? A “pseudo” desconexão do roteiro – que se prova “pseudo” somente em seu fim, onde as peças do quebra-cabeça são juntadas – chega a tal ponto em que ele descobre que o incêndio que matou sua esposa foi proposital e que o culpado pode ser um dos pacientes (ou presos) da ilha.

Com um final surpreendente, Scorsese prova a teoria de Hitchcock: um bom diretor, mesmo com um fraco (ou nesse caso, clichê) roteiro, consegue fazer seu estilo imprimir-se no resultado final. Mas os bons diretores que divulgam suas obras nas salas de cinema hoje em dia são poucos. E os poucos que ainda estão vivos devem ser reverenciados, como o mestre Martin Scorsese.

Thiago Köche é graduado em realização audiovisual pela universidade UNISINOS (RS)

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Este post tem um comentário

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    Anna Paula Cardoso

    Gostei muito do seuy comentario! Mas, não tiver a oportunidade de assistir a metade inicial do filme. E o resultado foi que eu não entendi nada sobre o filme! hueheuehuehueheu Vou tentar assistir do inicio para ver se pcnsigo entender o filme!

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