Mini-curso Audiovisual e Educação na Jornada de Iniciação Científica

Jornada de Iniciação Científica e Tecnológica 2008
Mini-curso: Audiovisual e Educação: Propostas e Reflexões

Entre 7 e 10 de outubro foi promovida na UFSCar a Jornada de Iniciação Científica e Tecnológica 2008, e nela dois outros eventos ocorreram: o XVI Congresso de Iniciação Científica (CIC) e o I Congresso de Iniciação Científica em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (CIDTI). Durante os quatro dias da Jornada, que fez parceria com o Festival Contato em algumas atividades culturais e apresentações de trabalhos, foi oferecida uma grande variedade de mini-cursos de duração de oito horas.

O mini-curso “Audiovisual e Educação: Propostas e Reflexões” foi ministrado pelos alunos de Imagem e Som, Paulo Roberto Montanaro e Alberto G. P. de Oliveira, e teve como proposta a reflexão sobre as possibilidades que os recursos audiovisuais podem trazer à prática educacional. Partindo da concepção de que todo material audiovisual, seja ele qual for, transmite uma mensagem – valores, costumes, idéias, comportamentos, etc. – e possui um potencial educativo, infere-se a possibilidade de aprender e ensinar com filmes, peças para a televisão, publicidade, etc. Essa foi a primeira reflexão introduzida pelos ministrantes e discutida pelos participantes. O texto complementar As mídias na educação do professor José Manuel Moran foi enviado por e-mail para os participantes e expõe a idéia de que a televisão por ser mais despretensiosa que as salas de aula tradicionais torna-se mais eficaz na transmissão de mensagem pela procura da audiência e pelo desenvolvimento de técnicas sedutoras e emocionais. A partir dessa idéia, discutiram-se maneiras alternativas de levar a televisão e seu conteúdo para a sala de aula a fim de abordar novos temas e/ou gerar reflexões abordando também o papel do professor perante o uso da tecnologia na educação.

No segundo dia, pela exibição do trecho O Encouraçado Potenkim de Sergei Eisenstein e do trecho Superinteressante: Coração, foi discutida a diferença entre filme didático e educativo, o diálogo dessas categorias com o espectador e a dificuldade (provável impossibilidade) de restrição da classificação entre esses dois conceitos ao analisar um produto audiovisual. Também foi abordada brevemente a história do audiovisual educativo no Brasil – desde a radiodifusão em 1923, passando pela criação do Instituto Nacional de Cinema Educativo (INCE) em 1936, pelas emissoras de televisão públicas e de cunho educativo como a TV Escola do Rio de Janeiro e a TV Cultura/ Fundação Padre Anchieta de São Paulo em meados de 1950, sua importância na produção e exibição de filmes educativos nos anos 1960 e 1970, a retração da produção audiovisual educativa na década de 1980 e 1990 com o fim do INCE e a interferência da iniciativa privada para a continuidade deste material – e foi exibido o filme A velha a fiar de Humberto Mauro, de proposta educativa. Nós, participantes do mini-curso, ficamos com a tarefa de refletir sobre quais poderiam ser as propostas educativas que o filme de Humberto Mauro poderia oferecer e discutir isso na aula seguinte.

Retomamos rapidamente o filme A velha a fiar no terceiro dia do curso cujo tema foi Emissão e Recepção: o diálogo entre o texto audiovisual e o espectador. A novidade desta aula foi a consideração das diferentes recepções por espectadores de diferentes culturas. A aceitação, o incômodo, a indiferença ou a revolta do público são reações diversas que podem ser expressas pelo mesmo material audiovisual dependendo do público atingido.  Para o embasamento teórico desse conceito, os ministrantes explanaram a base da metodologia para análise da recepção do material audiovisual – as fases do processo comunicativo: emissor, meio de comunicação e mensagem, receptor, resposta e a consideração do ruído na codificação, decodificação e feedback entre estes elementos. Para ilustrar e motivar uma discussão sobre a diferença da reação entre espectadores de ideologias diferentes, assistimos a trechos dos filmes Obsessão (Loverboy de K. Bacon) e Terráqueos (Shaun Monson). Esses dois filmes trazem visões diferentes das que geralmente estamos acostumados a ter. O primeiro trata sobre uma mulher que deseja ter um filho mas que não quer se casar ou ter um companheiro para assumir a paternidade da criança. Desta forma, a personagem que não tem sucesso com inseminações artificiais decide sair à procura de estranhos que lhe ofereçam a possibilidade de engravidar. As cenas a que assistimos foram da perseguição dessa personagem pelo seu objetivo e as várias vezes que observa, seleciona e realiza o ato sexual sem relação emocional. O segundo trecho faz uma comparação emocional em tom documental entre os seres humanos e os animais expondo a crueldade humana com os seres de outras espécies. Na própria sala de aula, onde todos os universitários assistiam à mesma aula juntos, a discussão sobre os dois trechos teve pontos de vista diversos, quem dirá em contextos culturais e temporais diferentes!

Para o último dia do curso foi proposto aos participantes que assumissem o papel de educadores e, por meio de seis trechos de vídeos – Guerra de Canudos, Madame Satã, Globo Repórter (homens-bomba), Acústico MTV Engenheiro do Havaí (O Papa é Pop), Tiros em Columbine e O segredo de Brokeback Mountain – que pudemos assistir, planejássemos em duplas uma aula utilizando o recurso audiovisual considerando as aulas anteriores.

Foram quatro manhãs de debate, de sessões de filmes, de produção de textos, de conceitos, de idéias, de reflexões, troca de e-mails, enfim, o principal e mais marcante deste curso foi a interação entre os participantes e os ministrantes, o diálogo que se formava e se desenvolvia a cada aula. Isso sem deixar de abordar os temas propostos. Talvez as coisas não tenham saído como o planejado ou não tenhamos discutido o quê nem como os ministrantes previram, mas com certeza foram dias de muita reflexão e interesse. Afinal, como fazer uma exposição em sala de aula sobre assuntos complexos como a influência da mídia, a diferença da recepção em diferentes culturas, a história do audiovisual educativo sem tocar no velho sistema professor/aluno, aula expositiva, fora do cotidiano dos participantes? O próprio mini-curso foi um exemplo das idéias que o curso se propôs a explorar. Fomos estimulados pelos recursos audiovisuais a refletir sobre os temas propostos. Discutimos em conjunto as idéias, expressamos as nossas impressões sobre os temas e vídeos, houve contato extra-classe via e-mail, a cada fim de aula havia algo para ser iniciado na aula seguinte como gancho inicial para que os assuntos não acabassem em dias pontuados. Foi-se o curso, fica a reflexão.

Erika Kogui é graduanda em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

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