Cobertura MOSCA – Sessão Internacional I

A Sessão Internacional I começou com alguns minutos de atraso devido a duração extensa do debate ocorrido na sessão de abertura que exibiu curtas de realizadores locais. A sala, apesar de um pouco mais esvaziada que o evento anterior, permaneceu até o final da sessão.

A seleção dos filmes fora feita de maneira a priorizar, nesta sessão, filmes que demonstram claramente a intersecção entre mundos distintos. Ao longo de uma hora de projeção, foram exibidas realizações do Irã, Espanha e uma co-produção entre Sérvia e Suiça.

Neve Vermelha, filme feito em co-produção entre Sérvia e Suiça, abriu a sessão internacional. O curta, um drama histórico que se passa durante a Segunda Guerra Mundial, mais especificamente na ocupação alemã na Sérvia.  A história ganha contorno através do interrogatório de um oficial alemão com um jovem sérvio, ao qual o militar lança mão de torturar para tentar arrancar o paradeiro de um possível grupo de resistência. Em troca de uma localidade, cem prisioneiros seriam libertados, fato que não ocorre mesmo após a recepção da resposta que os oficiais desejavam. A fotografia e decupagem foram bem pensadas, bem como a arte, com destaque com a opção inteligente de cenários fechados (uma sala) ou campos abertos, deixando a caracterização de época para os figurinos e diálogos.

Réquiem para uma Noite e Najes – O Impuro, ambos filmes irânianos, vieram em sequência. Com uma pegada emotiva, ambos trataram de assuntos característicos: a perda e a caridade. O primeiro tem como locação exclusiva um orfanato para garotos, no qual pães começam a desaparecer e a culpa recae sob os garotos e, após investigação pelo zelador, descobre-se que um dos internos que perdera a mãe em um desastre natural, pega o alimento para dormir abraçado a ele. O alimento vem para suprir a falta que a mãe faz, aqui demonstrada em um amparo visual, o do abraço, mas representa uma falta bem maior. A história é simples, dá pistas do ocorrido, mas devido a curta duração não é capaz de se aprofundar na dor do garoto e nem na investigação empreendida pelo personagem do zelador. Apesar de ser impossível mensurar a dor humana, muitos dos grandes nomes do cinema, disecam este momento em contemplação e silêncio, cedendo tempo para o dispositivo flagrar o luto. Talvez contemplação é o que falte ao curta, que ainda assim é uma boa obra.

Najes – O Impuro, trata a uma questão cultural. Na região islâmica, cães são considerados animais impuros. Najes, um taxista de meia idade, atropela um cão durante o trabalho noturno, leva o animal para a casa, cria laços e é repreendido. O sentimento de piedade toma conta do personagem e suas escolhas ficam entre a vontade própria (aquela, de ajudar o animal) e as imposições pautadas em aspectos religiosos. Durante seus 19 minutos, o curta nos mostra um Irã apegado a tradições, catalisado na relação familiar travada a partir do momento em que Najes, o impuro do título, traz o cão para casa. O aspecto sonoro é invadido por rezas e preces que prevalecem mesmo após o fim das imagens, com o quadro escuro, causando uma experiência sensorial peculiar.

Camaradas, curta espanhol, encerrou com grande maestria a noite do primeiro dia da mostra. A realização lida com uma questão extremamente atual no contexto europeu: a empregabilidade em tempos onde a crise econômica ainda tem seus reflexos no contexto social. Para além, Camaradas, é um grande tratado de amizade. Lolo e Manué, dois espanhóis de meia idade, trabalham como homens sanduíche – utilizam de placas comerciais para a divulgação de propagandas – quando um destes, Lolo, diz-se cansado do serviço, do amigo, mais velho, reclamão. O outro tenta por convencê-lo a ficar, mas ao final, descobrimos que ele também estava prestes a pedir às contas do emprego. Então, há o momento de reconciliação, de confluência da história dos amigos que se conhecem desde muito tempo e que, passado a discussão inicial, respeitam as diferenças do outro. O curta caminha para um final cômico, dançado e musicado pelas duas figuras centrais e deixando o sentimento de que nem sempre se precisa de uma história complexa para se criar uma boa obra. O roteiro simples e a decupagem muito bem elaborada rendem momentos ótimos, tanto de comicidade quanto de comoção.

E foi assim que, de forma bastante agradável, se encerrou a primeira noite da MOSCA 9 que perdura até o domingo, 12. Vale destacar o trabalho da curadoria que empreendeu a seleção de maneira a não somente propiciar o conhecimento de localidades distintas do globo, mas também do mundo e da cultura do outro. Este, aliás, tem se mostrado um dos papéis centrais da Mostra Audiovisual de Cambuquira.

Author Image

RUA

RUA - Revista Universitária do Audiovisual

More Posts

RUA

RUA - Revista Universitária do Audiovisual

Deixe uma resposta