Oficina Documentário Urgente

Documentário urgente é o nome da oficina oferecida pelo realizador recifense Pedro Severien. A oficina abordou os aspectos dos registros filmográficos por quem está no meio de conflitos sociais, seja a “limpeza” de um terreno ocupado por moradores de rua ou a reintegração de posse de prédios feita de forma truculenta pela polícia militar do Recife. Os trechos analisados retratam a luta dos moradores de Recife em preservar um conjunto de armazéns conhecido como Estelita localizado em local privilegiado bem no centro da cidade a beira mar. Essa ação ganhou o nome de “Ocupe Estelita.”

Porém Severien não se define como documentarista formado em jornalismo ele está nessa busca cinematográfica há 15 anos. Entrou no cinema a partir da literatura, pelo gosto de escrever, como ele mesmo assume “eu faço filmes, mas não deixo de escrever é apenas outra linguagem”. Sua primeira experiência com o documentário aconteceu ainda na graduação e como Severien mesmo define, o traumatizou já que ficou muito envolvido emocionalmente com os personagens retratados. Prova disso é que ele mantém até hoje contato com a comunidade quilombola retratada em seu primeiro documentário feito como trabalho de conclusão de curso. Depois desse episódio confessa: “Enveredei pelo cinema de ficção porque posso manipular as pessoas [personagens]”. O reencontro com o documentário aconteceu com seu envolvimento no movimento “Ocupe Estelita” que gerou um documentário homônimo.

A ocupação desse espaço se deu após a demolição de parte dos armazéns com grande valor histórico, na tentativa de facilitar a exploração imobiliária do terreno. Com isso houve uma articulação e um grupo ocupou o local de maio a junho visando a utilização do local como ponto de cultura, agregando a classe média e a comunidade que existia ao lado, chegando a promover show com até 10 mil pessoas.

Severien relata que no caso do documentário “Ocupe Estelita”, ele foi pensado para além da técnica, foi construído com uma “postura ativa” da câmera, “câmera ativista” porque quando a ação acontece fica difícil priorizar a técnica durante um momento de terror. Sobre os momentos de confronto Severien ressalta para que se tenha bom senso e não haja como mártir “não se coloque em risco pela possível glória do ato”. Mesmo assim o palestrante estabelece o que seria a regra número 1 em caso de filmar um conflito, “se prepare para a ação policial , use um capacete, assim você vai poder se colocar em locais estratégicos, mas protegido”. Citando o fotografo de guerra Robert Capa , Pedro argumenta que: “ a melhor foto de guerra é aquela perto do conflito, quanto mais perto mais contundente”.

Ainda durante a oficina Severien divide com os participantes que vê o documentário diluído com a ficção porque é feito a partir do relato, há uma multiplicidade de olhares, uma subjetividade. A própria estética é ligada a uma ética, a uma posição política. Segundo o palestrante todo filme é político.

Neste momento foi exibição um trecho longo de aproximadamente 15 minutos sem cortes mostrando o confronto entre a ativista com a câmera na mão e a equipe da prefeitura que tentava “limpar” um terreno anexo aos armazéns onde havia uma comunidade de moradores de rua. Após um breve debate com os participantes podemos salientar alguns aspectos de um documentário urgente. Primeiramente a cinegrafista usa seu próprio corpo como forma de resistência ao se colocar na frente do caminhão que levaria papelões e demais objetos pertencentes aos moradores da comunidade. Outro ponto é o dilema sobre montar ou não um relato como esse. É certo que montagem traduz uma intenção de quem detém a imagem, no entanto um plano sequência como o que foi exibido revela a intenção de quem filma, ao escolher o que será enquadrado, manipula-se tanto o material audiovisual quanto o público.

Por último Pedro Severien deixa claro que um documentário urgente traduz a urgência e a importância dos fatos retratados para quem filma, produz o documentário. Por isso é valorizada a presença e não a técnica cinematográfica, deixe a câmera filmando, agindo junto com o grupo.