No dia 08 de Outubro, na pequena cidade de Cambuquira, Minas Gerais, teve início a MOSCA 9 (Mostra Audiovisual de Cambuquira), nas instalações do antigo Cine Elite. Em seu nono ano, a MOSCA iniciou seus trabalhos com curtas produzidos por realizadores locais. Em relação ao último ano, os curtas de 2014 apresentaram certa maturidade em nível técnico e estético, visível ao longo da sessão de estreia cuja população compareceu em peso.
O primeiro curta exibido, Tardes de 72 – O Recital, de Rodrigo Lemes, visa homenagear a música popular basileira. O curta, que se estende por 27 minutos, é composto por uma coletânea de poemas musicados por canções de grandes interpretes da MPB. Apesar de se alongar por vezes e do modo como fora feita a captação sonora prejudicar um pouco o entendimento de algumas falas, o curta surpreende por planos bem decupados, principalmente na última cena, cuja fotografia da externa remete a plasticidade do universo criado por Walter Salles em Abril Despedaçado.
Amor com Propriedade, de Alexandre Felix de Carvalho, é um documentário que traz depoimentos de diversas mulheres acerca de suas escolhas na vida. A iluminação de cena, bem como o cenário foram bem pensados, assim como a decupagem dos planos, que se aproximava conforme o curta se adentrava na história das personagens. Porém, o breve documentário não problematiza a opressão que essas mulheres sofrem devido ao fato de estarem inseridas em uma sociedade machista e arcarem diretamente com as opressões empreendidas por esta.
Caçadores de Pererecas, de Antonio Almeida, e No Caminho dos Pés, de Stefania Vasconelos, surpreenderam pela fotografia e decupagem. O primeiro, um curta de humor realizado na própria cidade, teve seus personagens reconhecidos pela plateia que interagiu com a obra, entre risos e palmas. A história trata com teor cômico a dubiedade gerada por uma proposta, a de ”caçar pererecas”; porém, como visto, o curta se ampara em uma abordagem de cunho sexista para gerar humor, o que deixa a desejar. No Caminho dos Pés, possui uma plasticidade e montagem incríveis somados a simples história de um senhor que, cansado de seus velhos chinelos, compra um pomposo sapato social que passa a atravancar a sua caminhada.
Sagacidade, de Cauê Araujo Castro, e OLD SCHOOL BIKE, de Raoni A. Castro, encerraram a noite e ambos, de alguma forma, trouxeram a bicicleta como instrumento. Sagacidade, é um filme em primeira pessoa, quase uma selfie videografada, na qual um jovem executa diversas modalidades de esportes radicais. Já OLD SCHOOL BIKE, pretende contar uma história de superação, utilizando não atores locais no projeto, a história deflagra a relação de um garoto que encontra uma bicileta enterrada e batalha para reconstruir o veículo. Uma história simples, tal qual a vida simples do interior.
Após a exibição, como de costume, houve espaço para debate que envolveu realizadoes e público. A sensação de ser visto em uma tela e de ter seus iguais representados, fora pauta de muitas falas. O reconhecimento da vida em uma sequência de frames é parte integrante do fascínio que o cinema causa. O evento, que acontece em uma pequena e aconchegante cidade mineira, traz para a vida do cidadão que nela reside um pouco daquilo que, muitas vezes, só os grandes centros tem acesso. Acesso este, vale destacar, que não se dá de maneira horizontal, restringindo os espaços a um pequeno grupo privilegiado. Fato que não ocorre em Cambuquira, sendo louvável o trabalho empreendido pela organização durante os nove anos de existência da Mostra.