A Sessão que encerrou a noite de quinta-feira da MOSCA 9, trouxe para o público Cambuquirense laços famíliares que se desdobraram nos mais diversos gêneros audiovisuais. A platéia, um pouco mais esvaziada que a sessão anterior, permaneceu até o final da exibição e lançou mão de diversos comentários no momento cedido para debate.
O filme inicial da sessão, O Olho e o Zarolho, de Juliana Vicente e René Guerra abriu a noite com um filme bom quando se pensa no aspecto técnico do cinema, mas fraco enquanto narrativa. O curta, que inicia promissor, perde a linha narrativa aos poucos, o que é uma pena visto o potencial da história retratada.
A Navalha do Avô, curta paulista de Pedro Jorge, narra a história de cumplicidade existente entre um neto e seu avô, aqui interpretado por Jean Claude Bernardet. O curta, pautado no abismo entre gerações e na necessidade de sair de seu próprio mundo, individual, para cuidar do mundo de outrem, comoveu a platéia. A arte, que traz para a visualidade do curta o clima de ”casa dos avós”, fora, juntamente com o roteiro, responsável em grande parte pelo sentimento de identificação ocasionado.
Atenciosamente, Lo Turco, curta documentário faz um recorte da história de gerações de uma família através de um violino herdado. As memórias vão sendo traçadas conforme a história do violino é desvendada. O filme que seguiu Blecaute, de Julia Menna Barreto, desvenda a história familiar de quatro mulheres de idades diferentes e a ligação destas com a figura paterna. Utilizando-se de relatos como meio de registrar a vivência destas mulheres cujas personalidades se delineiam de maneira distinta, o documentário apesar de se adensar emocionalmente, parece carecer de uma maior dinâmica narrativa.
O último curta da noite, Linda, Uma História Horrível, curta de Bruno Gularte Barreto inspirado no conto homônimo do escritor gaúcho Caio Fernando Abreu, surpreendeu em nível de construção dramática do roteiro, atrelado a atuação centrada nos protagonistas. Mãe e filho, em menos de 20 minutos, fazem uma incursão a solidão imperante nos cômodos da casa onde Linda, a cachorra de estimação da família, assiste a decadência do pensamento materno e a visita do filho, após o encontro com o mundo exterior, para uma xícara de café noturna. Além do excelente desenvolvimento narrativo, é merecido o destaque para a acuidade estética e sonora do curta.
Ao final da sessão, o debate contou com a presença da realizadora Julia Menna Barreto (Blecaute), que expôs questões relacionadas a realização do documentário. Nos comentários, em muito se pautou as questões levantadas por Linda, Uma História Horrível, das possibilidades de cada fala, bem como do desfecho da história e, de um modo geral, das múltiplas abordagens do tema que fora central na sessão: os laços e a força ou fragilidade destes.