Encontro Setorial: Produção Audiovisual Independente e a TV Digital em Contato no 2º Contato

Na quinta-feira, 9 de outubro, ocorreu das 16hs às 18hs no Auditório do CECH, Área Sul da UFSCar, o Encontro Setorial de Produção Independente e TV Digital do Festival CONTATO. O que se viu (e ouviu) ali foi uma esclarecedora, para os mais leigos como eu, e ao mesmo tempo instigante discussão em torno dessas temáticas tão interligadas.

Em meio ao debate era impossível não notar a titulação/profissão, digamos assim, dos presentes: a maioria absoluta constituía-se de universitários de diferentes formações, confrontando justamente a idéia pré-concebida de que os profissionais nessas áreas seriam os mais “interessados” no evento por questões óbvias de contatos para parcerias e discussão/proposição de novos caminhos para problemas tantas vezes comuns a todos, daí a nomenclatura Encontro Setorial. Ao final, portanto, constatei ter participado de um debate com estudantes, a meu ver, um ótimo sinal.

Além dos estudantes de Imagem e Som da própria Federal de São Carlos, parcela considerável dos presentes, havia um grupo de meninas estudantes de Rádio e TV da UNIMEP de Piracicaba colhendo informações para o seu TCC sobre a chegada da televisão digital. Até mesmo um representante do Festival Perro Loco participou do debate na busca por novos (ou talvez não tão novos assim, mas ainda mal ou não aplicados) caminhos na divulgação da Produção Independente no Brasil.

As figuras chaves do encontro que, de algum modo, acabaram por guiar as discussões eram: Almir Almas, Professor da Universidade Federal de São Paulo e Doutor Especialista em Televisão Digital Terrestre, que ministrou a oficina “TV Digital e a WEB 2.0” durante o Festival; Francisco César Filho, conhecido no meio audiovisual por Chiquinho, que além de Curador e Organizador de alguns dos festivais mais expressivos do país, dentre eles o Festival Latino-Americano que acontece em São Paulo anualmente, é Gerente de Aquisição de Conteúdo da TV BRASIL; Ricardo Rodrigues, graduado em Imagem e Som, Diretor Artístico da Rádio UFSCar, uma das responsáveis pela produção do Festival, e Diretor Geral do próprio Festival CONTATO; e Leonardo Barbosa Rosatto, graduado e mestrando em Imagem e Som pela UFSCar, Programador do CineUFSCar, outro responsável pela produção do Festival, e Curador do CONTATO.

No centro da discussão, a Produção Independente e toda a sua problemática. Seja qual fosse o ponto/tema levantado de um modo ou de outro sempre se voltava a essa espécie de questão-guia. Instigante. E o que pensava a todo o momento era como uma questão de tamanha importância ainda é tão pouco debatida, podendo assim sentir toda a sua complexidade.

Uma das questões mais em pauta foi a colaboração da TV BRASIL na disseminação da Produção Independente. Segundo Chiquinho, trata-se de uma TV Pública cujo conteúdo deve atender a valores públicos, como direitos humanos e cidadania, e que pressupõe a participação ativa dos espectadores na programação, via fóruns com enquetes, por exemplo. O slogan exprime bem a idéia: “Você Escolhe. Você Programa. Você Assiste”. Explicou, ainda, que há duas formas de a produção independente aparecer na TV: através de co-produções e, principalmente, pela aquisição dos produtos audiovisuais produzidos fora da emissora, cargo que ele exerce nessa emissora.

Ao longo dessa discussão, inúmeras nuances foram tecidas, entretanto a meu ver três foram fundamentais: a constatação da TV BRASIL como um possível modelo a ser seguido, ao menos em sua concepção como meio de divulgação até mesmo mais interativo dos produtos audiovisuais, nunca antes produzidos em tão grande escala como vemos hoje, e a conseqüente democratização da informação na TV; o fato problemático de ser vinculada à Secretaria das Telecomunicações, órgão governamental de âmbito federal; e a proposta de que seja, num futuro próximo, Digital.

Na questão da vinculação à Secretaria das Telecomunicações preocupa a possibilidade da não total autonomia da TV BRASIL nos mais diversos âmbitos, na programação, inclusive, direta ou indiretamente via Conselhos rigorosos. O que já se aponta hoje é uma burocracia enorme em relação aos editais, por exemplo. Talvez por isso a TV BRASIL seja apontada como um modelo a ser seguido em termos de concepção e não administrativamente, digamos assim.

Quanto à proposta de uma TV BRASIL Digital: essa digitalização ocorrerá apenas em termos técnicos como temos visto até o momento ou afetará a própria questão do conteúdo veiculado? Questão essa de essencial discussão, pois o que se tem notado na TV aberta é exclusivamente a digitalização no âmbito da melhoria na qualidade técnica do som e da imagem, leia-se alta-definição, da própria grade da emissora, e não a exploração de sua principal vantagem: a transmissão e recepção de maior quantidade de conteúdo por uma mesma freqüência (canal), permitindo, assim, inclusive, uma maior interatividade do telespectador, e claro, um espaço para uma maior experimentação no setor via veiculação de produção independente, por exemplo. É importante ressaltar que o sentido de “experimentação” nesse caso específico liga-se basicamente à produção que esteja fora do padrão das grandes emissoras abertas, sendo por isso mesmo possível a adoção do termo “padrão Globo” de produção.

Como explicitado até agora, muitos pontos dessa mesma problemática maior ligada à veiculação nas mídias de massa da Produção Independente foram abordados sob diferentes aspectos e pontos de vista. Entretanto, todos parecem convergir em três pontos: a questão da Produção Independente atualmente como espaço praticamente uno para a experimentação através da pesquisa de novas linguagens, mídias, etc., devido à liberdade em relação às amarras do IBOPE e dos (inúmeros) anunciantes na TV Aberta; a  necessidade de sua inserção nos meios mais expressivos de divulgação de massa o quanto antes, de forma estruturada, sem a idéia errônea da existência de um público “ignorante” quando a grande questão é o estranhamento natural causado pela enorme disparidade em relação ao padrão clássico veiculado hoje ao qual ele está acostumado, palavra-chave nesse contexto, e a praticamente, senão total, ausência de políticas públicas efetivas no sentido de escoar estes produtos audiovisuais que estão fora do padrão Globo.

Enfim, não saímos do debate com respostas e soluções prontas a essa complexa questão, e esse nem era o intuito com toda certeza, mas a maioria absoluta saiu daquele auditório pensando nessa questão. E é desse ato tão característico do ser humano que nascem as grandes idéias, as mais criativas.

Iuri Leonardo dos Santos é graduando em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

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