Encontro Setorial: ‘”Arte Eletrônica Em Contato” no 2º Contato

O Encontro Setorial de Arte Eletrônica começou após o acalorado Debate Transversal sobre Economia Solidária. Estiveram presentes estudantes, pesquisadores e profissionais da área. Desde o princípio, o Encontro tomou a forma de uma mesa redonda e, rapidamente, propiciou a troca livre de idéias e informações sobre os projetos que cada um desenvolve e pretende desenvolver.

Logo no início do Encontro, os mediadores Maithe Bertolini, Coordenadora de Criação do Laboratório Aberto de Interatividade (LAbI), e Ricardo Rodrigues, Diretor Artístico da Rádio UFSCar, propuseram que este fosse apenas o princípio de um encontro que deve repetir-se mais e mais vezes. Como exemplo, foi citado o Upgrade!, no qual se reúnem pessoas com diferentes perfis de interesse nas novas mídias. Um caso específico, o Upgrade! não é apenas um encontro, mas sim um conjunto de encontros que ocorrem mensalmente em diversos lugares do mundo. Suas sedes no Brasil, por enquanto, são Salvador (BA) e São Paulo (SP).

Por fim, foi colocada a possibilidade de que, a partir deste, passem a ocorrer encontros periodicamente. Na ocasião, Maithe Bertolini propôs que o próximo encontro acontecesse no LAbI da Universidade Federal de São Carlos.

O LAbI desenvolve novos métodos e tecnologias de divulgação científica em diálogo com a arte eletrônica. Desenvolveu a Instalação Escalas (2007), que já foi exposta na Praça Coronel Salles, em São Carlos (SP) e, recentemente, no Parque do Iberapuera em São Paulo. O bate-papo sobre as atividades do LAbI suscitou a discussão sobre as divergências e possibilidades que giram em torno do conceito de ‘arte eletrônica’. No caso, discutiu-se sobre as controvérsias dessa definição.

Afinal, o que delimita o conceito de Arte Eletrônica? Caso seja sua presença no suporte, então todo o meio televisivo estaria atrelado ao conceito. Da mesma forma, se o conceito pode ser relacionado ao conteúdo. Então, a partir daí, pinturas, esculturas, uma vez que tratando da temática, também seriam abarcadas pelo termo. Nesse sentido, seria possível tratar de uma estética da eletrônica ou de diversos estilos, formas e abordagens possíveis ao trabalhar-se dentro desse universo de possibilidades?

No decorrer da discussão em torno do conceito chegou-se ao consenso de que, no geral, obras de arte eletrônica diferem-se das demais não só por sua ligação com as novas mídias e tecnologias, mas por sua relação diferenciada com o público, o que não precisa envolver diretamente o conceito de interatividade. Em mostras, encontros e exibições de arte eletrônica é recorrente que seja questionada pelo público a dificuldade de compreensão e de diálogo que existe em muitas das obras. É comum que o público queixe que algumas obras sejam herméticas.

Como em qualquer outro, existe também nesse meio a opção da abertura na acessibilidade ou de que a obra possa ser compreendida apenas por aqueles que já estão envolvidos na área. Mais do que uma questão de transparência, é uma opção entre a proximidade e o distanciamento entre a tecnologia e o público médio. De toda forma, é sempre bom lembrar que, nesse caso, estão sendo colocados dois extremos. Afinal, qualquer obra de arte pode lidar com camadas de compreensão. No caso da arte eletrônica pode-se falar também em níveis de imersão. Dessa forma, os diversos indivíduos que entrarem em contato com a obra poderão acessar algum desses níveis, variando de acordo com o interesse da pessoa, seus conhecimentos prévios e as particularidades de sua interpretação da obra.

Um trabalho que dialoga muito bem com esses dois extremos e, consequentemente, dialoga muito bem com o público é Performative Ecologies (2007), do artista eletrônico Ruairi Glynn. Na Bienal Emoção Art.ficial 4.0, quando pude entrar em contato com a obra de Glynn, senti de forma muito clara a abertura da obra para o diálogo com a diversidade do público. Tratava-se de uma série de robôs munidos de câmeras e processamento de um software de reconhecimento facial. Esses robôs movimentavam-se aleatoriamente até reconhecer a presença de alguém por meio do movimento. Imediatamente, então, eles direcionavam sua câmera na direção da pessoa e processavam por um tempo variável até reconhecer o rosto. Uma vez que o rosto era reconhecido, os robôs acendiam uma luz intensa e dançavam, mantendo sempre o contato com a pessoa até que ela saísse de seu campo visual. Tratava-se de uma idéia relativamente simples com uma estrutura, talvez, não tão trivial. Porém, a obra toca mais pela simplicidade e emoção que se sente ao se estabelecer uma comunicação com os simpáticos robôs do que por qualquer pirotecnia tecnológica.

É comum que as pessoas vejam no rádio e na televisão mais do que meios de informação e comunicação; mas sim dois bons companheiros. Toda a discussão que ocorreu em torno do papel do público na construção dos objetos de arte eletrônica, assim como a vivência dessa obra do artista eletrônico irlandês, levaram-me a questionar se o processo comunicativo da arte eletrônica, como o de outras formas de arte, deve encontrar, de alguma forma, uma forma de instigar no público médio um sentimento. No caso, não importa se esse sentimento ou sensação invoca empatia ou antipatia. O importante é que a incompreensão seja quase uma unanimidade.

Raul Maciel é graduando em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

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Este post tem um comentário

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    Silvio botin de moura

    Creio eu que arte eletronica é uma forma dinâmica de comunicação nos tempos atuais, pois as outras formas de arte convencionais marcaram suas épocas.
    Contudo, a arte eletronica é tão dinâmica quanto a evolução tecnológica. Os recursos da informática, do áudio e video possibilitam criações artísticas cade vez interessante aos expectadores.
    Silvio Botin

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