Oficina de Montagem, ministrada por Joel Pizzini

O sábado para o 2° Festival Contato é um dia “ponto de virada”, pode-se dizer. É nele que se inicia a apresentação das bandas – sempre surpreendentes- que vêm visitar São Carlos, e desta vez, mais especificamente, na assim conhecida Praça do Mercadão. Mas, muito mais cedo neste dia, aconteceu a Oficina de Montagem com o realizador Joel Pizzini, iniciada às 9h da matina e terminada apenas às 5h da tarde.

Foi um prazer participar de uma oficina com Joel Pizzini, que, com um humor agradável, mesmo para quem odeia acordar cedo, chegou ao auditório do CECH às nove e pouco.

A oficina, pode-se dizer, foi mais uma conversa, um bate-papo entre aspirantes, realizador e duas meninas de biblioteconomia que pesquisavam a catalogação de informação audiovisual (!!!). Assim sendo, não houve uma questão única debatida em progressão por essas seis horas. Iniciou-se a sessão com cada um se apresentando e falando da sua realidade estudantil, prestes a se formar, etc. Depois disso, Joel se apresentou e é daí que saiu o primeiro “mote” de conversa.

O cineasta é formado em Jornalismo e seu interesse primordial na área cinematográfica foi o documentário por razões comuns a muitos jovens (como a sede de mudar o mundo e de ser um agente ativo na sociedade). O documentário, então, iniciou as considerações da oficina.

Discutiram-se aspectos mais, pode-se dizer, abstratos como a questão da morbidez que o gênero traz, a sua relação obsessiva com o passado e, em última instância, com a morte. Além disso, debateu-se a nomenclatura do documentário (sim!) significativa e portada de um intrínseco imaginário. No caso, há nomenclaturas, como as que se ligam de algum modo ao âmbito das leis como os termos depoimento, registro, resgate, que indicariam a atmosfera “quadrada”, rígida de documentários pobres (e bem presentes, por exemplo, na televisão) .

Após essa discussão, que continuou permeando o restante das horas também, por algum motivo tocou-se na questão do cinema novo – acredito que foi uma pergunta e uma menção de como se pode trabalhar de modo rico com a linguagem em contrapartida aos documentários quadrados. Joel, então, deu um belo panorama do cinema novo e, particularmente, de Glauber Rocha. Falou amplamente sobre Idade da Terra e sua ruptura absoluta com as obras anteriores, sobre a relação de Rocha com os militares, etc.

A conversa foi interessante, mas confesso que o que me despertou maior interesse foi o final da primeira parte e a segunda parte da oficina. Falou-se, então, entre outros tópicos de Alberto Cavalcanti, brasileiro que se ligou à Vanguarda Francesa, ao pai do documentário clássico (Grierson) e que trabalhou o som (como por exemplo, a ruidagem) como construção poética.

Além dessa troca de idéias sobre a montagem inteligente do som, vimos e discutimos obras do próprio oficineiro – como Dormente, Família Saad, Glauces – e de outros como o genial montador/realizador Matthias Müller. Discutiu-se, assim, a montagem de material de arquivo, a multiplicidade de significados, a construção de uma geografia inexistente e a montagem/ realização em cima de música em si.

Por fim, mas na verdade discutida em “salpicadas” durante a oficina, conversamos sobre as diferenças do produto audiovisual cinematográfico e televisivo e as divergências de montagem destes devido, por exemplo, ao aspecto sugestivo do cinema, a sua profundidade de campo, à compressão sonora da televisão, ao seu privilégio ao som (“ouvindo a TV”) e suas freqüentes reiterações (presentes também nos documentários rígidos).

A oficina, assim, tratou de diversos assuntos que se ligam na questão de trabalhar a linguagem audiovisual numa articulação rica de imagens e de imagem e som. Foi, certamente, uma experiência agradável e interessante com um oficineiro que porta as mesmas qualidades.

Suzana Bispo é graduanda em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

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