Noite de Kino 2008: Política Viva!

Participantes: Matheus M. Cury, Felipe Passarini, Felipe Carrelli
Orientador: Alessandro Gamo

Política Viva! Esse foi o único tema da Noite de Kino 2008 do Festval Internacional de Curtas que aconteceu em São Paulo. O exercício reuniu diferentes universidades, totalizando 12 grupos com três estudantes cada. O curso de Imagem e Som da UFSCar levou dois grupos esse ano e eu participei de um deles.
Aqui tento passar um pouco da minha visão sobre todo o processo. Nosso vídeo, intitulado De Pinga em Pinga, teve na falta de equipamento sua maior deficiência. A pobre captação do áudio revelou-se um problema, mas não prejudicou o resultado final, mesmo considerando que o grande forte foram as entrevistas que deram coesão entre as imagens e a narrativa.
Logo após a divulgação do tema, partimos para um primeiro “brain storm” nas mesas ainda sujas de pão verde e suco de laranja do café da manhã preparado pela organização do festival. Comecei a anotar tudo o que vinha na cabeça sobre o tema, muitas depois descartadas, mas algumas valiosas que já deram o primeiro impulso e locação: Parque do Ibirapuera
Enquanto eu anotava e tentava construir algum sentido nas idéias, o Cury descobriu que o festival não iria emprestar a câmera como esperávamos.  A câmera MiniDv teria que quebrar o galho.
Nós três nos reunimos, discutimos um pouco as idéias com o Alessandro e saímos da cinemateca com destino ao Ibirapuera. Chegando lá, estacionamos perto do parque e logo um camarada veio vender um bilhete de “zona azul”. O preço que era de dez reais foi pra sete, mas acabamos pagando oito porque o malandro não tinha troco.
No parque pretendíamos gravar algumas estátuas de políticos e algumas entrevistas. No entanto, ao entrar no Ibirapuera nosso vídeo já estava praticamente pronto.
O primeiro plano que fizemos seria também o primeiro na montagem. Ainda fora do parque, gravamos um plano e contra plano de um busto e uma frase do Felipe Passarini sem pretensão acabou participando da abertura também.
Caminhando pela calçada, percebemos que estava acontecendo um evento no estacionamento da câmera legislativa localizada em frente da entrada do Ibirapuera. Resultou que acabara de ocorrer uma campanha filantrópica contra o câncer de mama. Fizemos alguns planos do evento e ainda sem rumo sentamos a sombra da entrada da câmera. Começamos a discutir sem atingir uma idéia concreta. Particularmente acho que foi nessa discussão que conseguimos formular o conceito central do final do vídeo: se partimos do pressuposto que a política de palanque e do congresso está morta, quais são as políticas vivas hoje em dia?
Quando ainda tentávamos chegar a uma conclusão, o Cury com seu instinto de produção foi pedir para alguém do evento ceder uma entrevista. Resultou na entrevista que mais usamos no final do documentário: forte, consistente e direta.
Saindo do local fizemos mais alguns planos do prédio governamental (quando fomos abordados por policiais nem um pouco amigáveis) e na saída encontramos o segundo núcleo do vídeo. Um grupo de judeus havia marcado uma reunião com membros da câmera legislativa que haviam confirmado presença, mas não compareceram. Revoltados e desiludidos, um a um foram dando entrevistas fortes e negativas a respeito da política brasileira. Um senhor ancião muito particular, que encerraria o documentário, deu um show de desenvoltura e sua entrevista só não foi mais explorado devido à limitação de três minutos que tínhamos.
Atravessamos a rua e entrevistamos uma garota que segurava a bandeira para a campanha de um vereador. Depois de algumas perguntas rápidas, mas que comprovaram nosso ponto de vista, seguimos e entrevistamos mais alguns ativistas de diferentes partidos na mesma praça em frente ao Monumento a Bandeira.
Mal acabamos de entrevistar um ativista e logo atrás de nós aconteceu o atropelamento de uma garota que fazia panfletagem para o mesmo partido. Gravamos algumas imagens de longe, mas decidimos mais tarde não utilizar por questões éticas.
Finalmente entramos no parque, onde as coisas ocorreram mais calmamente. Gravamos umas estátuas vivas e alguns bustos e partimos de volta para a Cinemateca para recarregar as baterias da câmera e almoçar.
“Filamos a bóia” no Almoço dos Realizadores que acontecia na Cinemateca com música ao vivo. Nada melhor que aquele gramado sossegado, à sombra das árvores depois de uma manhã alucinada.
Voltamos ao trabalho e partimos para a Avenida Paulista onde pretendíamos gravar os grafites no túnel perto da consolação e captar as intervenções de adesivos nas placas e semáforos da região. Depois esticamos até o cemitério em frente ao ENCORE, onde gravamos boas imagens que acabamos descartando na edição por falta de espaço e contexto.
Voltamos a Paulista e vimos a coisa mais bizarra em toda a gravação: um grupo de pré-adolescentes em uma marcha pró Rebeldes. Mais bizarro que isso só o fato que estavam um dia atrasado, pois no dia anterior algumas centenas de pessoas haviam se reunido no vão do MASP pelo mesmo motivo. Gravamos algumas imagens, mas também não usamos no produto final.
No caminho de volta ainda passamos em um beco totalmente grafitado nas cercanias da Av. Arcoverde. Com o sol caindo conseguimos ainda captar algumas imagens que serviram como inserts. No total gravamos uma hora e vinte minutos de material, fora algumas imagens de arquivo.
Voltamos para casa e começamos a captar as imagens. Enquanto eu e o Cury dormíamos, o Bird começou o processo de edição que só foi terminar as 15:30 do dia seguinte. A dificuldade maior foi reduzir o vídeo para 3 minutos e deixar algumas cenas majestosas fora.
O vídeo foi exibido juntamente com os outros 11 grupos e eu particularmente gostei bastante do resultado. Acho que conseguimos abordar bem o tema, explorando a palavra “viva”. Nosso processo de captação retratou bem a proposta do exercício, e graças a sorte, acaso e percepção conseguimos um resultado interessante.
Como disse na apresentação antes do vídeo, nosso documentário mostrou um pouco da dinâmica cotidiana de uma cidade grande como São Paulo, onde as micro-políticas estão presentes em todos os lugares. No nosso caso, foi ainda mais impressionante como em um pequeno espaço, em tão curto tempo, aconteceram diversos eventos que exemplificam a política ainda viva na capital paulista.

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