Notícia Nacional: sobre a busca de um conceito

Washington José de Souza Filho: Professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), mestre em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela mesma instituição, atualmente Coordenador da Graduação do Curso de Comunicação. Jornalista, trabalhou em jornais, revistas e emissoras de televisão da Bahia e outros Estados.

1. O Brasil dos telejornais

A consolidação de um modelo de informação, a partir da estréia do Jornal Nacional, em 1969, além de estabelecer uma referência para a programação das emissoras do país, gerou um padrão para a produção dos telejornais. Pelo modelo, a emissora que centraliza a emissão, no Rio de Janeiro e em São Paulo, é a mesma que define o conteúdo, sempre em busca de uma dimensão que corresponda ao público atingido, refletido pela audiência e alcance geográfico.

Em busca de uma compreensão do que representa a informação em relação ao conteúdo com a abrangência que alcançam os telejornais transmitidos em redes pelas emissoras de televisão brasileiras, as redações dos programas nunca conseguiram expressar, de uma forma clara, qual é a representação do tipo de notícia relacionada a eles. A tentativa de uma definição, na falta de clareza, ganhou uma conotação anedótica:

No final da década passada [90], havia duas expressões bem humoradas que a redação do JN [Jornal Nacional] usava para se referir as reportagens que fugiam da agenda dos jornais diários: notícias dos povos da floresta ou matérias feitas pelas afiliadas da Rede Globo sobre fatos da vida no interior do Brasil. Matérias-chinelinho ou VTs sobre gente pobre que enfrentava – e, muitas vezes vencia – enormes dificuldades para sobreviver, ir à escola, trabalhar, ter acesso ao conforto básico quase sempre mais fácil para os habitantes dos grandes centros urbanos (MARONA, 2006, s/p.).

Os estudos realizados no Brasil em busca de uma definição sobre o conteúdo desses programas, particularmente em função da audiência alcançada por eles, têm apontado para a constatação de particularidades, especificamente as que são decorrentes da natureza do jornalismo na televisão. Temas como a fragmentação, a superficialidade, a espetacularização, assim como a relação com a conjuntura política, sem que tenha sido observada a referência ao processo que determina o tipo de informação que é veiculada.

Neste artigo, a partir da referência de um dos capítulos que compõem a dissertação O Brasil do horário nobre: a construção da notícia nacional e os critérios de noticiabilidade em cinco telejornais brasileiros, apresentada para obtenção do título de mestre ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), apresentarei uma visão panorâmica sobre o esforço para a definição de um conceito sobre notícia nacional. Uma visão que corresponda ao conteúdo da informação veiculada pelos programas referidos.

A busca sobre a compreensão da produção dos programas de informação que têm essa dimensão é um tema observado por autores, mas nunca perseguido, mesmo com o reconhecimento do papel desempenhado principalmente pelo Jornal Nacional: “Na maioria dos casos, único meio de informação dos brasileiros, sua ponte com o país e o mundo; uma ponte trôpega e enganadora, como qualquer análise crítica rigorosa demonstrará, mas – em função do virtual monopólio – de fundamental importância” (SILVA, 1985, p. 38).

Outra evidência foi apresentada, em torno de diversos aspectos relacionados ao conteúdo e à natureza das notícias:

E as notícias nacionais? Nem por isso elas serão apresentadas destituídas de interesses particulares, neutras, assépticas, pelos valores sociais e jornalísticos que influem na sua seleção, na sua maneira de apresentação e técnicas de diluição de valores em detrimento de outros. Mapear essas possibilidades seria o caminho mais curto para um mapa da ideologia da notícia, acrescida de certas características técnico-ideológicas da sua apresentação no vídeo (CAPPARELLI, 1982, p.123).

Em um estudo específico sobre a estrutura do Jornal Nacional, Rezende (1985, p. 127) considerou que a abrangência não era demonstrada pelo conteúdo, mas sim uma consideração representada pela referência ao território brasileiro “O programa foi nacional muito mais pelo raio do seu alcance do que pela referência geográfica das notícias apresentadas”.

A pretensão ao desenvolver um estudo para a compreensão do que é notícia nacional é apreender o sentido representado pelo conjunto de informações divulgadas no espaço da programação das redes de televisão, que corresponde aos telejornais, caracterizados pela emissão na faixa que é definida como a nobre. Os telejornais constroem uma realidade por meio da qual é estabelecida uma visão que determina para o público o entendimento sobre as questões relacionadas ao cotidiano de cada um, gerada pela informação.

A definição sobre a distinção de uma notícia em função de sua representação em relação ao espaço geográfico nunca foi apresentada como uma tarefa simples de acordo com Tuchman (1983, p. 39). Para a autora, “nem sempre se sabe com nitidez se um item deveria ser classificado como local ou nacional”.

Uma tentativa para estabelecer a função desempenhada pela televisão, através dos programas de informação, para a formação de uma opinião pública, através dos fatos divulgados, foi desenvolvida por Souza (1992). O estudo, realizado durante um mês, em 1992, com o acompanhamento de quatro telejornais brasileiros – Jornal Nacional, Jornal da Manchete, TJ Brasil e Jornal Bandeirantes – exibidos, respectivamente, na época, pela Rede Globo, Rede Manchete, SBT e Rede Bandeirantes, transmitidos entre 19h e 22h – apontou quatro revelações (SOUZA, 1992, p. 17) em relações ao conteúdo dos programas, a partir da referência de que a televisão forma uma “consciência coletiva” através da divulgação de fatos e imagens.

Entre as revelações, a primeira é sobre a existência de um padrão em relação aos temas selecionados. A forma de cobertura, considerou Souza, (1992, p. 17), sugere a idéia de “uma agenda escolhida”:

Se uma rede dedica 28% das notícias ao Governo Federal, todas as demais seguem o mesmo padrão. Pode variar a matriz ou o tom, mas não o peso, a freqüência. O telejornalismo brasileiro é como um Diário Oficial [publicação institucional, que registra os atos dos poderes públicos] publicado em quatro redes privadas. Visto um, então vistos todos.

As outras três questões levantadas pela pesquisa desenvolvida por Souza, (1992, p.18) tratam-se da observação de que o conteúdo está relacionado a temas como Governo, economia, empresas, inflação e notícias internacionais. A predominância de uma tendência não reconhecia a existência de assuntos vinculados à sociedade, como negros, índios, mulheres, organizações não governamentais e religião. Por fim, a constatação de que além de oficialistas, os programas são alheios “aos atores fundamentais do processo democrático”.

O jornalismo praticado pela televisão, verificado através do estudo, é identificado como a concepção de um projeto que não reconhece a transformação da sociedade: “A censura militar acabou, mas a consciência autoritária, oficialista, sobrevive produzindo uma TV de costas para sociedade, submissa a tudo o que é oficial, aqui e no exterior” (SOUZA, 1992, p. 18).

A referência sobre a busca foi acolhida em Portugal. Lopes (1999, p. 138), em um estudo sobre o Telejornal, programa de informação da Radiotelevisão Portuguesa (RTP), emissora pública portuguesa, exibido no horário nobre, faz observação parecida às investigações desenvolvidas no Brasil. A constatação é de que o conteúdo não corresponde ao alcance geográfico: “Os valores obtidos no estudo do Telejornal, emitido durante os meses de fevereiro, maio, agosto e dezembro de 1988 e de 1992, não permite dizer que a RTP faz, no seu principal programa de informação, uma cobertura equilibrada daquilo que acontece no país”.

Em outro estudo, a partir da mesma referência, realizado na Espanha, Aguillera (1985, p. 102) investigou a historia do Telediário, programa de informação da televisão pública da Espanha destacado pela mesma característica e também exibido no horário nobre da emissora. Uma observação, importante, é que após o crescimento da estrutura da emissora com a implantação de centros regionais e de uma rede de correspondentes, a partir da década de 50 do Século XX, pôde haver uma cobertura mais ampliada. A divulgação de informações relacionada aos outros pontos do país cresceu, diferentemente de antes, quando havia uma predominância de Madri, a capital espanhola.

A definição do que deveria ser a notícia incluída em programas de informação de âmbito nacional era uma preocupação dos profissionais que estiveram envolvidos na produção do Jornal Nacional, desde o começo. Em um livro, publicado em função dos 15 anos do telejornal, Mello e Souza (1984) apontam que a consideração em relação ao universo atingido, a partir do público e a dimensão territorial, passou a ser uma questão importante, quatro anos após a estreia.

A descrição de Mello e Souza (1984, p. 139) indica que a referência sobre o quê, de fato, era o conteúdo de um programa, com sua abrangência e alcance, era desconhecida na redação do Jornal Nacional. Uma busca que fazia parte da preocupação do diretor responsável pelo programa, o jornalista Armando Nogueira, que ocupou a função até 1990:

Como se podia determinar que um fato era de interesse local, regional ou nacional? O segmento internacional não nos preocupava. […] As nossas dúvidas – dúvidas que nasceram desde os primeiros dias – relacionavam-se com o conceito de notícia nacional. Ninguém, em sã consciência, sabia indicar, com a precisão desejável, o que seria capaz de elevar uma notícia à dimensão nacional.

As definições eram estabelecidas pela perspectiva escolhida para a divulgação dos fatos. Alguns critérios adotados estavam relacionados à lógica subjetiva da avaliação dos jornalistas, baseados nos procedimentos que servem para a seleção de assuntos, vinculados à noção de noticiabilidade. Um deles se refere à existência de um público além da área de influência representada pela audiência do Rio de Janeiro e São Paulo. Outro implicava buscar uma referência, a partir da quantificação, como no caso de uma apreensão de drogas, citada como um exemplo da prática que era adotada para a seleção de um assunto, em uma região do país distante da redação: “Perguntamos logo: ‘Quantos quilos? ‘ Se há muitos quilos a matéria passa a ser nacional. Se há poucos quilos, ela permanece no estado de notícia local” (MELLO E SOUZA, 1984, p. 140).

A imprecisão construiu estereótipos no esquema de trabalho seguido pelos editores do Jornal Nacional:

Dava destaque aos assuntos de São Paulo, até porque era lá que havia – acho que ainda há – o maior número de receptores. Dava ênfase ao noticiário que vinha de Brasília. Supostamente, os atos do Governo deveriam ser de interesse nacional. […] Ninguém poderia imaginar a minha alegria ao receber […] a informação que estava mandando as imagens da lavagem do Bonfim. […] Eram imagens bonitas, que eu punha entre falas de Ministros e aliviava o Jornal (MELLO E SOUZA, 1984, p. 143-144).

Em 2004, 35 anos após sua criação, a tentativa de definir um conceito sobre a natureza da informação veiculada pelo Jornal Nacional esbarrava na mesma concepção, uma visão definida pela noção utilitária que tem um fato. A demonstração é possível a partir de um exemplo, apresentado em um novo livro sobre a produção do programa, na comemoração de mais um aniversário – Jornal Nacional: a notícia faz história. A referência é a divulgação das informações sobre meteorologia em função da diferença de expectativa sobre o tempo, em regiões do país: “No Nordeste, castigado pela seca, sol, queria dizer tempo ruim. A partir de então, passou-se a ter o cuidado de não empregar o adjetivo bom ou mau para se referir ao tempo, usando no lugar as expressões dia ensolarado e dia chuvoso” (MEMÓRIA GLOBO, 2004, p. 39).

O Jornal Nacional consolidou práticas, mesmo as estabelecidas nas redações, para a produção de telejornais, como a existência de profissional específico para a realização das reportagens. Uma denominação, que depois de aplicada na Globo teve o uso estendido para as outras redes. Ele é chamado de repórter de rede (CURADO, 2002, p. 48), relacionado ao profissional considerado mais capaz de realizar um trabalho voltado para “uma audiência numerosa e diversificada”.

A condição de repórter de rede é um patamar buscado nas redações pelo reconhecimento que alcança na profissão. Esteves (1990, p. 42-43) descreve a competitividade e o esforço de quem deseja alcançar o posto, no caso destacado, em relação ao Jornal Nacional. A disputa é pelo espaço, a valorização pelo público e dos jornalistas pela participação no programa:

Nunca parei para contabilizar, mas é comum, no caso do Jornal Nacional, mais de 50 repórteres saírem às ruas todos os dias atrás das notícias mais importantes. E eles sabem que, por melhor que possam ser seus desempenhos, por absoluta falta de espaço, apenas vinte por cento terão algum chance de transmiti-las aos telespectadores (BARCELLOS, 1994, p. 19).

O espaço conquistado é transformado em uma demonstração de prestígio, que tem duas faces, relacionadas às emissoras: “Quando a estação afiliada possui seu jornalismo razoavelmente organizado, a equipe tem como estímulo emplacar matérias no jornal que vai ao ar em rede” (GHIVELDER, 1994, p. 150). A outra está vinculada ao trabalho feito pela emissora: “É raro uma matéria produzida pela Central Globo de Jornalismo de São Paulo, especialmente para os jornais da rede, deixar de ser aproveitada” (TEMER, 2002, p. 143).

Os procedimentos para a realização dos programas, relatados por Bresser (1995), demonstram que a semelhança alcança o processo de seleção das notícias com a preocupação de manter estendida a rede, como define Tuchman (1983), em relação à estrutura utilizada pelos meios de comunicação para a busca de informação. A partir de uma observação do funcionamento da redação de cinco telejornais, exibidos no horário nobre por cinco redes – Bandeirantes, CNT, Globo, Record e SBT -, uma delas regional, sediada em Curitiba – a CNT -, houve a constatação de que a produção dos programas é iniciada mais de 24 horas antes da exibição. A elaboração segue a mesma rotina, independentemente da rede: “A receita não muda de canal para canal. Os formatos podem variar, mas a sensação de que nada está pronto antes de o jornal começar é a mesma. É um quebra-cabeça com as peças escondidas” (BRESSER, 1995, p. 20).

A orientação é para busca de contato com as diversas emissoras integradas a uma rede. A finalidade é dispor de um levantamento sobre os acontecimentos ocorridos nas diversas regiões do país e mesmo no mundo. A previsão apurada é uma orientação para a pauta dos programas, a partir de um modelo semelhante, adotada pelas emissoras norte-americanas:

No sistema de jornal de rede americano, é realizada uma conferência telefônica da rede com os seus afiliados, em que todos trocam informações. A grande vantagem é que, com isso, as matérias podem ir se completando. Se a notícia for de um descarrilamento de trem na Filadélfia, com conseqüências desastrosas, a partir da conferência telefônica, as afiliadas de Los Angeles, Seattle e Chicago, por exemplo, podem mandar algo sobre o último descarrilamento de trem ocorrido em suas regiões, enriquecendo a matéria (GHIVELDER, 1994, p. 151).

O funcionamento da estrutura depende da utilização do sistema de telecomunicações para a transmissão das reportagens, feita de uma emissora que é diferente da responsável pela exibição do programa e centralização do recebimento da produção referente a determinado programa. Uma alternativa, com o desenvolvimento da rede mundial de computadores, é a utilização da Internet através da transmissão por banda larga.

Trata-se de um processo desenvolvido pelas emissoras, internamente, para a realização dos programas de informação. Os horários são pré-determinados, através de trechos designados como rotas (GHIVELDER, 1994, p. 151). O cumprimento dos horários é a forma de respeitar o prazo de fechamento de cada edição – o deadline. É uma rotina repetida a cada dia de exibição de um telejornal, independentemente do horário.

O modelo de telejornal produzido para a veiculação de informação sobre todo o país, na véspera de, em 2009, completar 40 anos, é um assunto que ainda motiva controvérsia sobre o padrão estabelecido. Para Ghivelder (1994, p. 153), a dimensão alcançada implica a elaboração de uma pauta que estabeleça a correspondência com esta circunstância: “A principal importância na elaboração de uma pauta nacional, um telejornal de rede, é quanto ao interesse que ele possa suscitar em todo o país”.

Uma dificuldade apontada por Ghivelder (1994) é a estrutura, limitada ao padrão norte-americano de 30 minutos de duração. O modelo é citado por Squirra (1993, p. 50) ao descrever os programas de informação exibidos em rede pelas televisões norte-americanas e, demonstra, a predominância de um tempo pré-determinado em relação ao conteúdo e à duração. “Os telejornais norte-americanos estão enquadrados em formato de meia hora de duração, com 22 ½ ou 23 minutos líquidos de notícias”.

Há outro aspecto que Ghivelder (1994, p. 155) destaca para a definição do que é uma cobertura nacional: a valorização do telejornal local, da forma como ocorre nos Estados Unidos. A situação é diferente do Brasil, onde o privilégio é concedido aos programas de informação das redes de televisão:

Não se consegue cobrir um país do tamanho do Brasil, com a complexidade de problemas que este país contém, em apenas meia hora. Se nos Estados Unidos isso acontece, é porque o jornal de rede lá é um complemento do jornal local, que em muitas estações, tem de uma a duas horas de duração.

A situação apontada é praticada em São Paulo, seja a cidade ou estado reconhecidos como importantes em relação à televisão brasileira. A cobertura local é de tamanho destaque que os acontecimentos ganham reconhecimento nacional. Uma regra, aplicada pelos telejornais de rede, é que um fato ocorrido no estado, mesmo que em uma cidade do interior paulista (BISTANE; BACELLAR, 2006, p. 43) “reflete a realidade brasileira”.

Temer (2002) constatou uma demonstração desta importância ao observar que a cobertura de um episódio relacionado a uma invasão de uma reserva indígena, no Pará, ganhou destaque no Jornal Nacional, depois do envolvimento de turistas paulistas. A referência à origem dos envolvidos valorizou a informação, da forma que fazem as emissoras norte-americanas, afiliadas das redes, quando participam das coberturas dos principais assuntos do país, voltadas para o interesse das suas comunidades.

A questão do que é uma notícia nacional está sempre em torno de uma mesma referência: a representação dela para a audiência. Ainda está baseada na concepção dos jornalistas que atuavam na realização dos programas de informação, no nascimento desde modelo:

Quando se diz que determinado assunto ‘é local, não vale rede’, não significa que essa notícia seja menos importante que as outras. Quer dizer apenas que a notícia tem importância somente para o público local. […] Para um jornal de rede, transmitido para todo o país, o raciocínio é diferente. Se o problema é localizado, não trará transtornos, não despertará o interesse dos moradores de outras cidades (BISTANE; BACELLAR, 2006, p. 43).

A compreensão do que é o Brasil nos telejornais das redes de televisão, em especial nos programas exibidos no horário nobre, depende de um entendimento da representação desta dimensão. A partir dos dados coletados para a realização da pesquisa que compõe a dissertação de mestrado, da qual este texto é parte, fica evidente a demonstração da existência de um país distante do público que compõe a sua audiência.

A análise, baseada em 60 edições de cinco dos telejornais exibidos no horário nobre (Jornal da Cultura, SBT Brasil, Jornal da Record, Jornal da Band e Jornal Nacional), assistidos em Salvador, no período de 20 de maio a 2 de junho de 2007, constatou a existência de um Brasil diferente com base no conteúdo dos telejornais. O país que é visto nos programas analisados é destacado pela predominância das informações relacionadas aos principais centros políticos e econômicos.

A busca da representação do Brasil através dos telejornais de cinco redes de emissoras demonstra a existência de um país que não é mostrado ao público. Após 40 anos da estréia do Jornal Nacional, a referência sobre o conteúdo está marcada por uma compreensão que tem como orientação princípios que foram estabelecidos no século XIX, no instante de transformação do jornalismo ocidental, com o surgimento da penny press.

A abrangência da televisão transferiu para a televisão, um meio de comunicação surgido mais de um século depois, a disputa em torno de maior alcance, uma referência aos inventos tecnológicos que permitiram ampliar a área atingida pelos jornais, e interesse, verificada agora pela audiência. O que é destacado como informação deve corresponder a fatos que representam para o público mais do que a compreensão sobre acontecimentos em torno do cotidiano. Eles precisam ser uma alternativa para a garantia de uma audiência e que tenha reflexos sobre a lucratividade.

A compreensão sobre a representação do Brasil, determinada pela predominância de lugares muitas vezes distantes de quem vê, demonstra que na televisão eles são uma referência imaginária. Afastada das pessoas, porque a realidade delas não é vista nos programas que assistem, os programas de informação exibidos pelas redes de televisão brasileiras, analisados neste trabalho, refletem sua própria localização. São o fruto de uma televisão apresentada como nacional, mas que sempre esteve voltada para a valorização de uma noção de Brasil longe das diversas regiões que formam o país: o Brasil do horário nobre.

Referências

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BISTANE, Luciana; BACELLAR, Luciane. Jornalismo de TV. 2ª. ed. São Paulo: Contexto, 2005. 141 p.

BRESSER, Deborah. Do tédio ao pânico. Revista Imprensa. São Paulo: Imprensa Editorial Ltda, p. 20-29, out. 1995.

CAPPARELLI, Sergio. Televisão e Capitalismo no Brasil. Porto Alegre: L&PM, 1982. 196 p.

URADO, Olga. A notícia na TV: o dia-a-dia de quem faz telejornalismo. São Paulo: Alegro, 2002. 194 p.

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LOPES, Felisbela. O Telejornal e o Serviço Público. Coimbra, Portugal: Minerva Editora, 1999. 202 p.

MARONA, Mário. O JN quer retomar a rotina. De ônibus. Blog do Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 26 jul. 2006. Disponível em: www.jbblog.com.br/mariomarona.php. Acesso em: 27 jun. 2006.

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SQUIRRA, Sebastião. Bóris Casoy: o âncora no telejornalismo brasileiro. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1993. 206 p.

TEMER, Ana Carolina Rocha Pessôa. Notícias e serviços: nos telejornais da rede Globo. Rio

TUCHMAN, Gaye. La Producción de la Notícia. México D.F: Gustavo Gili, 1983. 291 p

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Este post tem um comentário

  1. Author Image
    Dalva Aleixo

    Muito bom este texto. Usarei, com a devida citação, em minha tese. Obrigada.

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