Paixão no encontro de duas gerações

Quinta-feira, 16/10/1968

O filme se chama “Vítima de uma paixão” e reúne duas gerações de vedetes do grande público (o que acarreta atração de duas gerações deste mesmo público) representadas por Lana Turner e Sean Connery. Mas, uma coisa a publicidade do filme não diz: ele foi realizado há muitos anos, antes da série James Bond que consagrou o “ator”; desta forma temos uma Lana Turner, um pouco desatualizada (cheia de trejeitos do Actors Studio) e um Sean Connery completamente verde. Para sua felicidade ele aparece pouco na fita (o que deveria fazer sempre pois seu verdadeiro lugar é no elenco de apoio), reservando-se a maior parte do filme para o destaque exclusivo da velha atriz. O título anuncia um melodrama e a realidade não decepciona aos amantes das novelas, tão saudosos dos tempos em que o cinema comercial ainda havia lugar pata produções onde a violência, o sexo ou o humorismo imbecil não tinham tanta vez. Afinal não existiam ainda as telenovelas, e os dramas e paixões, as fossas e os remorsos, os desenganos e as tragédias pessoais de simpáticos personagens, tinham de ser desenvolvidas e podiam oferecer grandes lucros aos produtores de cinema. Hoje não; a televisão já substituiu o cinema neste plano, restando a ele dar ao público aquilo que é impossível apresentar na TV. Portanto, se você gosta de telenovelas e não se importa muito com certos exageros melodramáticos, pode ir. Vai ver cenas que há muito não via no cinema (a apaixonada desesperada pela ausência do amante, corre pela encosta, à beira do abismo, e lá embaixo do mar se bate contra os rochedos; a câmara detém-se nos rochedos e um barulho ensurdecedor invade a tela; primeiro plano da heroína mostra sua angústia e ganha intensidade dramática quando esta é possuída por uma vontade refreada de se atirar; corte rápido). Vai-se deparar novamente com aquele mundo onde as paixões parecem dominar e pairar acima das pessoas, onde o destino e a fatalidade comandam as ações. O comando do destino brota de cada plano, de cada diálogo, contamina a fotografia. Num mundo como este só há lugar para as “vítimas”, paixões, desenganos, tal como nas telenovelas.

Arquivo Público do Estado de São Paulo. Foto Isabella Bellinger.

Arquivo Público do Estado de São Paulo. Foto Isabella Bellinger.

Por Ismail Xavier

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