Perfil Kleber Mendonça Filho

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Kleber Mendonça Filho no Festival de Cannes – Foto: LOIC VENANCE/AFP

Por: Julia Machado

Dia 24 de agosto será a estreia do recém finalizado filme dirigido e roteirizado por Kleber Mendonça Filho, um dos maiores cineastas contemporâneos do Brasil. Desta vez a cinematografia é o enfoque da obra mas, para além disso, Retratos Fantasmas registra aquilo que é o cinema de Kebler: a sensibilidade, a convivência familiar, a dedicação à arte, as relações de convívio social, de políticas, assim como as de poder, elementos estes que estão presentes em obras anteriores, como O Som ao Redor (2012), Aquarius (2016) e o mais violento e também mais conhecido Bacurau (2019). Apesar dos momentos políticos brasileiros serem distintos, sendo o primeiro filme durante o primeiro governo Dilma, o segundo é lançado no começo do governo Temer e o último durante o governo Bolsonaro, os problemas e situações que se encontram nos filmes são similares; talvez Bacurau seja o ponto fora da curva, se passando fora de Recife, em uma cidade do interior que possui um regimento próprio e, dessa forma, a estrutura política de organização social baseada no engenho de açúcar (a herança colonial forte em Pernambuco), bem apresentada em Aquarius e ainda mais em O Som ao Redor, não necessariamente se aplica ao filme.

A casa de Kleber, Pernambuco, é palco de sua trilogia de filmes, o que faz com que espectadores de fora do estado possam ter um pequeno convívio com o cotidiano do lugar. Não que exista uma grande diferença dos hábitos de lá com os hábitos da região sudeste, norte e etc; no fim há sempre mais semelhanças do que diferenças. Além disso, o foco de Kleber não é em apresentar os elementos culturais super evidentes que marcam a capital pernambucana mas estreitar o contato de seus personagens com o público, mostrando os aspectos mais íntimos das relações familiares, amorosas, empregatícias e amigáveis, além da exploração que é feita dos personagens, que usualmente são complexos. Dessa forma, há muita humanidade em seus filmes, não só no sentido de garantia do coletivo de bem estar social, mas no sentido de que todos os sentimentos humanos, da raiva/violência até o libido/desejo sexual, são amplamente explorados em seus filmes. Sendo assim, é de esperar que nesse lançamento essa singularidade e sentimentalidade apareçam, da mesma maneira que o fundo crítico que enxerga as estruturas de poder e as razões da desigualdade social brasileira também estará presente, ao passo que, pelos trailers, o filme aparenta ser uma homenagem a própria carreira de Kleber, que vai além de sua trilogia.

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