Pina (Wim Wenders, 2011)

Fabiana Ghiringhello*

Novo filme de Wim Wenders é um espetáculo que une cinema e dança

Um novo imperdível filme em 3 dimensões
Tecnologia ajudando a Arte
Não foi o meu primeiro filme em 3D, mas sem dúvida foi o incontestável. A nova técnica usada em diversas produções, a maioria no gênero infantil, cansa os olhos e o pensamento. Não são fundamentais no contar a história, na narrativa, cenas ou cores do filme. Ao contrário de Pina do diretor Wim Wenders. O documentário, que segue um candidato ao Oscar, é indiscutivelmente fantástico, em minha opinião levará para casa a estatueta. A linguagem 3D no filme o transforma num espetáculo imperdível. Wenders conheceu o trabalho de Pina Bausch há 20 anos e o fascínio o convenceu que deveria transportar a obra da compatriota as telas do cinema. “Estava em Veneza durante um verão e a minha namorada naquela época quis ver Pina Bausch e como um gentil homem a levei ao espetáculo, mesmo contrariado” declarou o diretor. Junto com Pina muitas maneiras de fazer o filme foram pensadas. Nada parecia capaz de absorver o que era Pina e seu trabalho. “Assisti o documentário do U2 em 3D, peguei o telefone e liguei para Pina, tinha descoberto como podíamos fazer o filme” contou Wenders durante o festival de cinema de Roma 2011. E continuou: “Na semana seguinte começaram os preparativos para iniciar o filme e antes de começar a gravar as primeiras cenas, Pina Bausch falece… O filme é sobre Pina e o seu trabalho de coreógrafa e dançarina, com a sua morte não fazia mais sentido existir… então decidimos mudar o enfoque do documentário e junto com os dançarinos, parte do Wuppertal Dance Tanztheater, foi feito um filme para Pina, não sobre Pina”. O filme traz imagens dos espetáculos de Pina e entrevistas com os dançarinos. Há imagens das coreografias em espaços abertos e dentro do teatro. Elas dão uma textura ao filme, que combinado com o efeito 3D, dão a sensação de que podemos tocar o filme. Em outros momentos parece que o filme é que nos toca. As cores do filme são outro espetáculo a parte. Cores como laranja, azul, vermelho e amarelo são vibrantes e intensas dando vida e expandindo os limites das imagens.

Cena no monotrilho suspenso de Wuppertal

Várias cenas foram feitas na cidade de Pina e mostram um lugar interessantíssimo, mesmo sendo uma cidade como outra qualquer. Wenders fez várias imagens de Wuppertal em diferentes ângulos e “enquadraturas” como no filme Alice na cidade (1974). Mas, em Pina, ele retorna e talentosamente a reapresenta. O monotrilho suspenso, um veículo do transporte público, que corre as ruas da cidade é novamente o ponto mais alto das imagens. No primeiro filme, Alice, a protagonista, está de carro e passa pelo monotrilho, o vê, mas parte pelas ruas da cidade a procura da casa da avó, uma simbologia da própria procura do seu lugar no mundo depois que sua mãe a deixa com um estranho, o fotógrafo Phil Winter. Em Pina os dançarinos realizam uma performance fora e dentro do suspenso monotrilho, que corre há 8 metros de altura da rua. Nas cenas, a desenvoltura dos artistas representa um sentimento de pertencer, ser parte da cidade como Pina era, uma combinação cheia de significados. Ela fundou em Wuppertal, sua cidade, a companhia Wuppertal Dance Tanztheater.

Outra pontual característica que transforma o documentário em um  filme imperdível são as entrevistas. Nelas os dançarinos não olham diretamente para a audiência e os áudios são em voice-over.  As frases e comentários são pensamentos e conclusões pessoais, uma visão intimista sobre Pina e seu trabalho.

Tudo isso combinado mais a trilha musical atenciosamente escolhida, além da coreografia de Pina, transformam o filme em uma experiência emocionante. Ele já ganhou o prêmio europeu, o European Film Academy Documentary 2011. É claro que o filme Pina é uma recomendação, melhor, uma obrigação, aos admiradores da dança contemporânea ou fãs do cinema de Wim Wenders.  Do contrário não aproveitará tanto assim o filme.

*Fabiana Ghiringhello é jornalista e mestre em cinema europeu. Atualmente vive na Itália.

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