Mesa II – Cinema Universitário – Se o cinema universitário fosse gênero, o que seria?
A segunda mesa da SUA 2012 é um perfeito questionamento direcionado aos modos de produção do cinema universitário.
Por Thiago Jacot*
Se o cinema universitário fosse gênero, o que seria? Para responder a essa pergunta, e compor a II Mesa da SUA 2012, contamos com a presença de Aleques Eiterer – Coordenador do Festival Brasileiro de Cinema Universitário (FBCU), Dellani Lima – Autor junto com Marcelo Ikeda do livro Cinema de Garagem, cineasta, professor e músico, Ciro Inácio Marcondes – Professor do Instituto de Ensino Superior de Brasília (IESB), é doutorando na linha de Imagem e Som na Universidade de Brasília e Michael Wahrmann – uruguaio/israelense radicado em São Paulo, é diretor, roteirista e editor. Professor de Direção na Academia Internacional de Cinema(AIC),destaca-se entre outros trabalhos pelo filme Avós.
A mediação da mesa inicia com dois questionamentos para a discussão: O que é cinema? e o que é a universidade? São perguntas elaboradas aos convidados e aos participantes calcadas na perspectiva no que há de comum entre os filmes do audiovisual universitário, em relação as questões de produção e linguagem. Quais são os elementos que permitem que o chamemos de universitários? Afinal, há um modo de realização peculiar aos universitários? Questionamentos tais foram feitos para rechear a mesa com uma reflexão de extrema importância.
Primeiramente, com a palavra, Aleques. Formado em cinema na UFF(Universidade Federal Fluminense) em 1995. Há 17 anos trabalha como curador do Festival Brasileiro de Cinema Universitário (FBCU). No seu tempo de estudante, as produções universitárias eram em película. Existiam apenas três faculdades de cinema, entre elas a FAAP, USP e UFF. Nos anos 2000, porém, a produção cresceu muito no formato em vídeo. A discussão do formato reflete-se no FBCU e no espaço que ele concede para a produção universitária nacional. No início, o festival recebia apenas trabalhos realizados em película. Com a disseminação do digital, do vídeo, o festival precisou mudar seu critério de seleção. A seleção atual reúne todos os formatos, tanto película quanto digital. E o importante, segundo Aleques, é justamente essa união dos universitários na produção, a reunião de ideias acima de tudo para a produção de uma obra fílmica rica nascida da reunião dessas cabeças pensantes.
Passa-se para Ciro Inácio Marcondes, constatando que nas primeiras perguntas da mediação acerca sobre o cinema universitário, no questionamento central da mesa, faltou uma questão. O que é o gênero cinematográfico? Sendo que na época em que vivemos, ainda mais na contemporaneidade, há uma fragmentação deste conceito, desde os anos 70, sendo diluído paulatinamente. O professor cita o célebre texto de Edward Buscombe sobre o gêneros cinematográficos. Há no cinema universitário, uma estética em comum que não foge ao contexto do cinema mundial no que se refere na mistura do uso do gênero.
Dellani Lima fala que o momento na universidade é de encontros. O espaço perfeito para experimentar, legitimar a produção, coletivizar. Uma união no sentido estético entre estudantes afins para o desenvolvimento da própria produção, muito mais do que a linguagem. Na faculdade, os estudantes podem se tornar bons técnicos e autores e precisam escolher esses passos e utilizar o espaço universitário para se legitimarem.
Por fim, Michael Wahrmann, diretor de Avós acabou de se formar na FAAP. Pode tentar responder os questionamentos levantados no início da mesa como estudante que acabou de virar professor na AIC. Havia três pontos que o incomodavam na universidade: 1)Não gostava que os professores considerassem as realizações universitárias como exercícios. São filmes, e exercícios são feitos por toda a vida. 2) Todo filme feito por um realizador, é o da sua vida. O processo mostra muito da forma de produzir. Os professores da faculdade diziam o contrário. 3) Não havia aulas de cinema contemporâneo, e nenhuma sobre curtas metragens, paradoxalmente, pois, o trabalho final é um curta metragem. É preciso, para um universitário, questionar o cinema a todo o momento e tentar se contextualizar ao cinema contemporâneo para entender os filmes que são feitos. Dessa forma, o importante é buscar uma linguagem própria e buscar uma estética.
Houve, no fim, um debate com os alunos presentes, questionando com os interlocutores da mesa as significações do cinema universitário. Gênero ou não, há uma estética a ser considerada que foi intensamente debatida entre os ouvintes. Depoimentos dos participantes da mesa, de certa forma, foram excelentes colocações que ajudaram os alunos a refletir o processo universitário.
*Thiago Jacot é Editor Geral da RUA e estudante de Imagem e Som na Universidade Federal de São Carlos(UFSCar).
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