VI SUA Dia #4 – Mesa IV

Mesa IV: O Brasil do lado de fora – Impressões, dados, notícias do audiovisual brasileiro vistas do exterior.

A quarta e última mesa da SUA 2012 entrou no momento exato da discussão do mercado do audiovisual no Brasil, momento peculiar para o setor. O congresso Nacional acaba de aprovar a Lei 14.485/11 para a inserção de conteúdo independente brasileiro em canais de televisão a cabo. Os convidados apontam para a perspectiva de abertura do mercado e de novos trabalhos.

Por Thiago Jacot*


A última mesa da VI Semana Universitária do Audiovisual fecha o ciclo de mesas com o percurso proposto desde o começo das rodadas com a chegada da conversa em relação ao mercado internacional de audiovisual e os interesses para o Brasil, e claro, para os estudantes de audiovisual. Os convidados foram: João Lanari- Professor de Comunicação da Faculdade de Comunicação da UnB, diplomata e Diretor do Departamento de Tecnologias Inovadoras no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e Eduardo Valente – cineasta e crítico. É coeditor da Revista Contracampo, além de assessor internacional da ANCINE.

João Lanari, Akira Martins e Eduardo Valente

Professor João, começa sua fala dirigido para o mercado de trabalho e suas mutações tecnológicas recentes. O cinema e o audiovisual passam por isso também. Em sua experiência no Ministério das Relações Exteriores, João percebeu e analisou como o cinema brasileiro é  visto lá fora. Conclui que a visão dos estrangeiros é totalmente problemática.  O cinema brasileiro está na periferia de uma programação dita cultural, visto o exemplo de quando ele morava em Tóquio. A televisão consegue maior penetração no mercado internacional, no entanto para o cinema, existe uma nostalgia da época do Cinema Novo, principalmente, na figura do cineasta Glauber Rocha. Sua figura ainda reverbera no mundo. O Cinema Novo é uma síntese histórica de certas tradições cinematográficas no Brasil fundido com a missão do ponto de vista político com a transformação social, da consciência, do cinema de autor. O impacto do cinema novo gerou uma espécie de leitura de um público intelectualizado da Europa de que o cinema brasileiro é um cinema de denúncia. Dessa maneira, marcou certa expectativa em relação aos filmes brasileiros. Central do Brasil , de Walter Salles, anos mais tarde, funcionou por causa disso. Pelos seus temas, conseguiu agradar o público estrangeiro. Cidade de Deus, estética da fome ou cosmética da fome, estabeleceu certo critério pelo qual se inseriu essa vertente do cinema, palco de violência urbana, grandes cidades violentas. É preciso, segundo João, uma promoção do cinema, melhora técnica nas questões de roteiro, dramaturgia, a exemplo do cinema argentino, mais consistente, com roteiros melhores. Cabe o esforço de aperfeiçoar a cinematografia brasileira e sair dos limites de Cidade de Deus e sua violência estetizada. Propor projetos, com interações mais bem sucedidas entre governo e produtores para a Internacionalização do produto brasileiro, como estimular a produção, como ir para fora.

Outro aspecto é a emergência fumegante do conteúdo digital, mais especificamente para a Televisão Digital. Foi adotado pelo governo um sistema japonês de transmissão digital no Brasil, e um sistema de interatividade. O país está correndo para transmitir o sinal. Haverá um apagão analógico em julho de 2016. Será preciso televisões com conversor e emissões pelas redes digitais. Ficaremos digitalizados, conclui.  Isso significa mais qualidade de imagem, sinal, programação e conteúdos interativos. Será um desafio curioso para os produtores audiovisuais. Há um potencial enorme para o futuro, de abertura de mercado e possibilidades de trabalho, desde que venha acompanhada do respectivo lastro técnico. Aumentando o foco, podemos falar também nessa perspectiva para aplicativos para a televisão digital, celular, ipad e tablets. A sala de cinema é a última instância de consumo, como diria a Cahiers du Cinéma, então, a discussão é de outra natureza.  O consumo se dá de mil maneiras e para tal, é necessário a produção para o consumo de audiovisual para as novas demandas. No caso, o conteúdo interativo para televisão é fundamental. Consumo interativo. Quando o Brasil adotou o sistema, foi feita uma ofensiva muito grande na América Latina e na África, um mercado de treze países esperando conteúdo digital. Se o conteúdo digital for produzido no Brasil com eficiência há um grande mercado para o audiovisual. Conhecer a tecnologia e se aliar aos engenheiros nesses trabalhos serão muito interessantes para os novos modos de produção que estão prestes a explodir.

Com a palavra, Eduardo Valente, assessor Internacional da ANCINE. Precisamos pensar uma diferença entre mercado de cinema e televisão. Dentro da ideia de conteúdo audiovisual, há a ideia do Transmídia, do conteúdo, e de como o produtor audiovisual pensa para o espectador a interatividade. Um determinado produto na transmídia gera possibilidades de explorar esse produto em mídias distintas.  Ideia dos formatos é outra grande questão. Cada vez mais o que se tenta vender nesse mercado não é um determinado produto, mas sim a relação com o formato no qual é vendido. Dois grandes jogos no mercado internacional atualmente referem-se ao formato e a transmídia, elas facilitam a penetração no mercado.

A produção de TV no Brasil é verticalizada desde o início, porém, no mundo ela é independente. Isso mudou. O maior dos mercados já foi a televisão, hoje não mais. As exceções sempre vão fazer sucesso. O mercado peca no Brasil pela falta de planejamento e impede qualquer tipo de negócio, pois não garante a produção em quantidade e continuidade. A lei 12485/11 está com a regulamentação da ANCINE em andamento, irá propor novos horizontes para a produção.

A assessoria internacional da ANCINE está interessada em pensar a co-produção internacional, relativamente nova no Brasil, enquanto possibilidade real de realização. O mercado interno é forte para a produção audiovisual, à medida que ele se amplia e se autogere. O que é uma coprodução? É um produto que tem os direitos patrimoniais e técnicos e artistas da obra dividida entre os dois países produtores. A língua portuguesa é uma barreira para as vendas internacionais. Porém, jovens diretores já estão no mercado internacional, não esperam a produção no Brasil apenas. Há então, pela análise da ANCINE, uma possibilidade de abertura de mercado para os produtores de cinema.

A última mesa fecha a rodada com passos que aparentemente teremos que percorrer na vida enquanto profissionais audiovisuais. Portanto, é interesse conhecer o contexto no qual estamos inseridos. O debate final mostra essa afirmação, justamente pelas perguntas de interesse sobre o funcionamento do mercado, tanto interno, quanto externo. Cabe a nós, conhece-lo para as ações que, no futuro, vamos tomar. Elas  estão diretamente ligadas aos interesses de produção.

*Thiago Jacot é Editor Geral da RUA e estudante de Imagem e Som na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar.)

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