SeIS.12 Dia #4 - Chá da SeIS: O Iluminado - RUA - Revista Universitária do Audiovisual

* Por Jéssica Agostinho

Algumas das pessoas que passavam pelo Auditório do Centro de Educação Ciências Humanas (CECH), no prédio de Aulas Teóricas 2, na área sul da UFSCar, questionavam se ali seria exibido o clássico O Iluminado. Infelizmente, por questões econômicas – já que para exibições públicas é necessário comprar os direitos de exibição da obra – e devido à própria duração do filme, o longa-metragem não foi exibido. Mas esse fato não torna o terceiro e último Chá da SeIS – café filosófico para o debate cinematográfico – menos interessante.

O filme de Stanley Kubrick foi analisado por diversos ângulos, tanto narrativos quanto técnicos. A escolha do filme, pautada de acordo com o gênero em que o mesmo se enquadra, tendo relação direta com a temática da Semana, se mostrou bastante acertada, sendo que o público era composto mais por interessados no diretor e na obra do que por estudantes do curso de Imagem e Som, que organizava o evento.

Em um primeiro momento, o Professor Dr. Arthur Autran, docente do Departamento de Artes e Comunicação e orientador da 12ª Semana da Imagem e Som, iniciou a conversa contextualizando a atividade do cineasta Stanley Kubrick no período histórico em que fora realizada. Logo após, o enredo do longa foi brevemente retomado, salientando alguns dos aspectos interessantes que o compõe, como a ambiguidade que envolve o elemento desencadeador da loucura do personagem de Jack Nicholson.

iluminado — Pedro Dolosic, Arthur Autran e Rafael Gallo

Logo após, o Professor Rafael Gallo abordou aspectos muito interessantes que envolvem o som e a trilha sonora do longa. Rafael, já no início, ressaltou a importância da presença do som que, em O Iluminado, age de maneira muito elaborada e decisiva para a narrativa. Foram analisados momentos em que a trilha sonora exterioriza os sentimentos de Jack Torrance (Jack Nicholson), como em uma cena em que ele conversa calmamente com o filho Danny, mesmo estando muito aborrecido. A expressão corporal de Jack é calma e passiva mas, na medida em que a trilha sonora provoca tensão, o espectador sabe que não está tudo tão bem como parece.

Há outros momentos muito interessantes, como quando o som da cena aparenta ser uma trilha sonora comumente utilizada em filmes do gênero, mas ao abrir-se o quadro revela-se que o som é na realidade produzido pelo próprio personagem, que joga uma pequena bola em direção à parede. Ou mesmo a clássica cena em que Danny percorre os corredores do hotel com seu tricíclo e o som é composto pela alternância entre as rodas passando pelo chão e pelos tapetes.

Encerrando a parte expositiva do Café Filosófico, Pedro Dolosic, graduado em Imagem e Som e técnico do Departamento de Artes e Comunicação, analisou aspectos que dizem respeito à fotografia do longa. Expôs e explicou várias das opções técnicas e estéticas escolhidas por Kubrick, como a fotografia bastante clara – pouco usual em filmes de terror – e os enquadramentos por vezes claustrofóbicos.

Dolosic chamou a atenção para algumas das inovações técnicas que passaram a ser utilizadas após o clássico. Por exemplo, o aperfeiçoamento profissional do steadycam, equipamento que permite que o cinegrafista ande com a câmera obtendo alta estabilidade e fluidez de movimento. Muitos dos famosos travellings do filme foram captados com esse equipamento.

Outro aspecto interessante levantado foi o perfeccionismo de Kubrick, que chegou a filmar por mais de um ano o clássico plano do mar de sangue banhando um cômodo.

Após as falas dos professores convidados, o público participou do debate. Entre as perguntas, de certa maneira diversificadas, muitas problematizavam a relação do longa-metragem com o romance homônimo de Stephen King. Foram trocadas teorias, bagagem de leitura e opiniões.

Ao final do evento, como nos outros Chás da SeIS, foram servidos aperitivos simples acompanhando o chá propriamente dito. O ambiente era propício para a conversa e troca de ideias.