SeIS.12 Dia #3 – Exibição e bate-papo com José Mojica Marins

Por Jéssica Agostinho*

“Mojica é um verdadeiro showman“. A afirmação, comumente ouvida entre o público que compareceu em peso ao Teatro Florestan Fernandes da Universidade Federal de São Carlos, foi facilmente comprovada quando o cineasta subiu ao palco. Na última quarta-feira, dia 23 de maio, a primeira sessão de 2012 do Cine UFSCar, cineclube da Universidade, em parceria com a 12ª Semana da Imagem e Som, exibiu em 35 mm o filme À meia-noite levarei sua alma, de 1963.

O longa-metragem marca a primeira aparição do célebre personagem Zé do Caixão, que, apesar de não ser o único do ator e cineasta José Mojica Marins, se confunde com a imagem do próprio criador, em uma exploração já antiga dessa imagem curiosa e excêntrica. Outro mito bastante difundido entre o público leigo é de que Mojica trabalhara apenas dentro do gênero do terror, deixando o trabalho em gêneros como a pornochanchada e o melodrama em segundo plano.

O Teatro que abriga as sessões do Cine UFSCar todas quartas, às 19 horas, contava com um público que reagia à projeção de maneira notável e era claramente mais numeroso do que o cotidiano de um cineclube. As risadas eram espontâneas e generalizadas, assim como a surpresa diante de cenas escatológicas. Interessante notar como o longa, produzido há vários anos, ainda mexe com o público e possui discussões atuais, como a negação da religiosidade, a afirmação do ateísmo e a descrença na superstição. Pode ser feita uma rápida referência a outro evento promovido durante a Semana, o Chá da SeIS – horror no cinema brasileiro, liderado pela Professora Dr.ª Laura Loguércio Cánepa, onde foi abordada uma característica bastante criativa da obra de Mojica. Sua cinematografia do gênero reúne tanto características do terror ligado ao sobrenatural quanto a característica moderna do terror que envolve a presença do serial killer. E isso tudo em 1963, em um contexto de sérias limitações de recursos.

Após a exibição, ainda mais divertida após o mistério gerado em torno de um pequeno problema com a película, Mojica esteve presente para um bate-papo com o público. Antes de iniciar a sessão de perguntas e respostas, o cineasta fez uma breve intervenção com os trejeitos típicos de seu personagem. Ali, já estava claro o teor que o evento teria, muito mais voltado ao espetáculo e à curiosidade do que à discussão cinematográfica. Embora tenha sido a intensão declarada da organização do evento realizar um debate voltado para a carreira do cineasta e para a problematização do gênero, Mojica conduziu o ato como lhe apetecia. Sua figura anteriormente já adjetivada como showman dispensava mediações e o público adorava e se divertia. Algumas perguntas se voltaram para o contexto da produção em que Mojica estava inserido, outras para o filme anteriormente exibido e algumas sobre sua biografia. Por vezes, o cineasta as respondia e, em alguns momentos, divagava sobre questões que julgava interessantes.

Se, por um lado, o evento não fora exatamente como a organização o havia idealizado, por outro, não deixou de ser um sucesso. O público – bastante heterogêneo – compareceu, participou e se divertiu. A satisfação estava clara quando Mojica, ao final do bate-papo, fora aplaudido de pé. Pode-se perceber que o evento acabou seguindo uma posição declarada que o convidado assumia em sua carreira: dar ao público aquilo que ele quer ver.

* Jéssica Agostinho é estudante de Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos.

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