SeIS.12 Dia #4 – Palestra sobre crítica cinematográfica

* Por Jéssica Agostinho

Transformadora é como eu definiria a palestra ministrada por Luiz Carlos Oliveira Jr., que se debruçava sobre a reflexão acerca da crítica cinematográfica e do pensamento crítico. A palestra aconteceu durante a noite do quarto dia da 12ª Semana da Imagem e Som, no Auditório do Centro de Educação e Ciências Humanas, na UFSCar.

Infelizmente, como em outros eventos realizados durante a Semana, o público alvo – os próprios alunos de graduação em Imagem e Som – compareceu em número reduzido, sendo que boa parte dos presentes eram pessoas de outros cursos ou áreas da Universidade. Não retiro o valor que possui esse intercâmbio, mas, em uma noite em que se discutia mais do que fórmulas para um bom texto, em que se discutia o próprio cinema, a presença desse público era essencial.

Luiz Carlos Oliveira e Arthur Autran

A palestra foi iniciada com uma breve introdução feita pelo Professor Arthur Autran a respeito do tema e do convidado. Luiz Carlos Oliveira Jr. é formado em Cinema pela UFF, mestre e doutorando em Cinema pela USP, e foi crítico e editor da Revista Contracampo. Logo após, Luiz Carlos passou a abordar o assunto proposto para a palestra. Foi traçado um panorama histórico da crítica cinematográfica, passando pelos jovens críticos da Cahiers du Cinéma e chegando até o perfil atual da atividade crítica.

Foi comentado como a atividade crítica vem perdendo espaço nos grandes meios de comunicação, como jornais da grande mídia. Se antes haviam cadernos destinados à cultura, onde a crítica cinematográfica possuía seu espaço, hoje o mais reconhecido crítico brasileiro, Inácio Araújo, conta com uma pequena coluna no jornal Folha de S.Paulo. Nesse contexto, a internet se mostra uma grande possibilidade de atuação. Nas revistas eletrônicas de cinema, como a Contracampo – da qual Luiz Carlos fez parte – , além de uma quantidade ilimitada de caracteres, o crítico pode exercer sua atividade sem se preocupar com possíveis problemas advindos de suas colocações. Entretanto, apesar desse meio virtual ser importantíssimo para a manutenção da atividade crítica no Brasil, ele não proporciona uma dedicação de fato profissional, uma vez que a atividade não gera lucros ou ganhos. Assim, foi comentado por Luiz Carlos que escrever esses textos críticos não geravam e não geram renda financeira. Apesar das portas que se abrem quando o trabalho é feito com dedicação e profissionalismo, a atividade crítica não é autossustentável, mesmo que sua importância seja irrefutável.

Luiz Carlos também se debruçou sobre a análise do pensamento crítico e sobre a função da crítica cinematográfica. A crítica deve ser uma extensão da atividade iniciada com a obra fílmica, uma experiência reflexiva além. O papel do crítico é analisar as referências contidas no filme e argumentá-las. Fica claro que, nem todos os textos autointitulados como críticas cinematográficas podem assim ser chamados, sendo assinalada uma banalização atual do termo. Todos esses levantamentos impulsionam questões que envolvem até mesmo a Revista para qual escrevo agora e da qual faço parte da editoria.

Após a parte expositiva, houve um debate bastante participativo, onde os presentes questionavam temas pertinentes à crítica, à arte em geral e ao posicionamento dos críticos em relação ao cinema nacional. Luiz Carlos mencionou, por exemplo, que há entre os críticos atuais aqueles que possuem uma relação ética com o cinema brasileiro, um compromisso de assistir às obras e problematizá-las. Problematizado também foi o contexto da atual atividade crítica que, como já fora levantado no artigo de Luiz Carlos na revista Contracampo – A Publicidade Venceu -, passa por momentos de imprecisão e negligência.

O evento foi bastante produtivo e enriquecedor. Se pudéssemos estabelecer um evento da Semana onde o debate e a reflexão tenham sido mais profundos, seria, com certeza, a palestra aqui abordada. Infelizmente, poucos presenciaram essa experiência.

*Jéssica Agostinho é estudante de Imagem e Som na Universidade Federal de São Carlos.

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